Como nunca na história do futebol deste país assiste-se a um fenômeno curioso: o retorno de jogadores consagrados aos clubes de origem, refazendo a parábola do filho pródigo. Figurões como Ronaldo, Adriano e Roberto Carlos são os que chamam mais atenção, mas atletas importantes, como Fred, Danilo, Fernandão, Cléber Santana e Vagner Love também optaram pela volta, engrossando a revoada em direção ao país do futebol. A bola da vez é Robinho, que admite ganhar metade do salário atual para voltar à Vila Belmiro.
O exemplo que abriu a porteira foi o de Adriano, que rompeu contrato com a Inter de Milão para se refugiar no bairro de sua infância no Rio. Alegou, sob desconfiança geral, que precisava voltar a sentir prazer em jogar futebol e para isso não admitia ficar longe de seus parentes e amigos.
Meses depois, perfeitamente readaptado ao Flamengo, Adriano recuperaria a grandeza de seu futebol, justificando o apelido de Imperador. De bem com a vida, brilhou no Brasileiro e voltou a ser nome certo para a Copa da África do Sul. Campeão nacional, artilheiro e principal destaque da competição, o atacante atestou na prática que os ares nacionais e o carinho de sua gente foram determinantes para o resgate de seu melhor futebol.
Antes, Ronaldo havia feito o mesmo movimento, embora buscando um clube que lhe era estranho. Abraçou a causa corintiana e foi abraçado pela fiel torcida mosqueteira, num projeto que parecia puro marketing. Como quem sabe não desaprende, Ronaldo voltou a ser goleador, mesmo alguns quilos acima do peso. Foi decisivo na conquista da Copa do Brasil e ganhou de vez os corações corintianos.
A partir dessas duas trajetórias bem sucedidas, boleiros insatisfeitos em seus clubes no exterior trataram de facilitar a volta ao Brasil, num movimento até então inédito em termos quantitativos. Fred custou a pegar no breu nas Laranjeiras, mas acabou consagrado pela miraculosa reação do Fluminense contra o rebaixamento.
Jogadores de futebol costumam sentir saudades da família, do cachorro, da praia, do pagode e até do feijão velho de guerra. Mas, a essa altura, grande parte deles está mesmo buscando a visibilidade necessária para garantir uma vaga no escrete que vai à África do Sul.
Robinho, que não acertou mais o pé (nem as pedaladas) desde que passou pelo galáctico Real Madri, é o mais novo interessado em abandonar o salário em euro para recomeçar no Santos. Em crise criativa no Manchester City, o atacante fez as contas e deve ter avaliado que é melhor perder dinheiro agora a ficar esquecido na Inglaterra.
Todos esses projetos pessoais confirmam que, definitivamente, dinheiro não é tudo. E indicam também que, para concretizar o sonho de disputar a Copa, é obrigatório mostrar serviço no Brasil, que não promove o campeonato mais badalado, mas tem seguramente a torcida mais exigente do mundo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 27)
Gerson, ele nao esta abandonando o salario. O City paga a metade do que ele ganha, o Santos paga uma parte e os patrocinadores a outra: ou seja, vai ganhar o mesmo pra morar na praia de Santos.
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