Um dedo (emprestado) de boa prosa

Por Bill Graham

Lembro da primeira vez que o vi. Ele estava usando um paletó de veludo cotelê verde. Um verde bem forte. E ele era uma girafa. Sabe como as girafas são? Aquele ar aristocrático, o pescoço comprido? Ele tinha esse ar quando andava e no porte, estivesse no palco ou não. Quando ele tocava, a combinação de técnica e emoção era sempre alta. A técnica sempre valeu mais para mim do que a emoção. Com o Hendrix e alguns outros, meu julgamento era: “Ele é mais emoção do que técnica”. Eric (Clapton) não era dado a pirotecnicas, com bombas de fumaça saindo de sua guitarra. Ele não tentava fazer essas coisas. Era como um dançarino correto. Nunca largava a parceira. Nunca dançava sozinho. Estava sempre no controle, e algumas vezes eu até queria que ele se soltasse mais. (…)

Eric nunca se descontrolava, em momento algum. Ficava sempre concentrado. Não havia nada que não fosse o Eric. Ele sempre conseguia voltar da viagem. Ele entrava numa bolha e descobria todas as coisas do mundo, mas nunca esquecia o caminho de volta. Ele podia ir para um lugar diferente do qual tinha saído. Mas nunca saía de lá totalmente. A não ser que soubesse que havia uma saída diferente. Ele deixava marcas pelo caminho.

Keith Richards – Era o auge do período hippie, certo? Nos círculos musicais, os Fillmores tinham uma reputação underground muito forte. Então a gente sabia quem era Bill Graham antes mesmo de chegar em Oakland para fazer aquele show. A nossa atitude era: “Ele é promotor, cara. E o nome dele aparece no topo do anúncio? Que porra é essa? O nome Bill Graham está em todo lugar. Quem é esse cara?”. Não eram os anúncios, era a atmosfera da coisa. O promotor tinha mais personalidade no lugar do que quem estava no show. Era um negócio assim: “Nos bastidores – estrelando Bill Graham!”. Lembro de um pôster do Graham no camarim. Você acha que eu quero olhar para a cara do Bill Graham no meu camarim? Mostrando o dedo do meio, mandando eu me foder? Ah é? Jogamos comida no pôster. Arrebentamos o camarim todo. Na época, o negócia era: “Ótimo. Então não vamos mais trabalhar para ele”. E eu de fato depois daquilo fiquei um bom tempo sem ver o Bill. 

Trechos do monumental livro “Minha Vida Dentro e Fora do Rock”, de Bill Graham e Robert Greenfield (Ed. Barracuda)

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