Os operários do futebol

O espetáculo visto nos estádios do mundo é bancado, no aspecto de infraestrutura e gestão de serviços, por uma legião de trabalhadores que não têm visibilidade, embora sejam fundamentais. São carpinteiros, eletricistas, porteiros, médicos, massagistas, seguranças, roupeiros, bilheteiros, cuidadores de gramado, vigias, cozinheiros, mecânicos, pedreiros etc.

No Brasil, segundo o último levantamento feito pela CBF, o futebol emprega 156 mil pessoas. Em outra direção, pesquisa divulgada no final de 2019 pela consultoria Ernst & Young revela que o negócio futebol teve um impacto de 0,72% no PIB nacional, movimentando R$ 52,9 bilhões por ano.

O futebol, definitivamente, não é um mundo igualitário. Em meio aos altos salários de uma casta que envolve cerca de 120 atletas da Série A, que têm ganhos mensais entre R$ 40 mil e R$ 1,2 milhão, existe uma grande quantidade de jogadores ganhando até um salário mínimo para correr atrás da bola.

É preciso considerar ainda que, para cada jogador empregado, há uma gama de trabalhadores que dependem do funcionamento normal dos times para garantir o sustento das famílias. O momento é de paralisia completa dos campeonatos e indecisão quanto ao futuro.

As incertezas levam os clubes a iniciarem negociações para reduzir salários e evitar maiores perdas durante a pandemia, mas os trabalhadores que não entram em campo são os mais vulneráveis a essa altura.

Segundo o levantamento da CBF, os operários do futebol representam 33% dos 156 mil empregos da modalidade no Brasil. A maior parte, 55% do total, atua em estádios em dias de jogos, na venda de alimentos e bebidas. São, portanto, os mais afetados pela suspensão das competições.

Treinador Hélio dos Anjos comemora vitória fora de casa e já pensa ...

Quando a CBF anuncia um inédito e até surpreendente plano emergencial de ajuda ao futebol, direcionando R$ 19 milhões como doação a clubes e federações, é importante não esquecer os operários invisíveis. Hélio dos Anjos (acima), técnico do PSC, tem reclamado da falta de um preparo maior para o atleta durante a quarentena.

Ele está certíssimo ao dizer isso e, ao mesmo tempo, ressaltar a importância do profissional que tem fundamental papel na preparação dos times, mas que quase sempre é pouco lembrado na hora do sufoco, como agora.

Ricardo Teixeira e seu interminável paiol de bandalheiras

Denúncias divulgadas ontem revelam que os organizadores da Copa do Mundo no Catar ofereceram propinas ao babalorixá da corrupção no futebol brasileiro, Ricardo Teixeira, ex-dono do pedaço por aqui. Tudo para contar com seu voto para que o país do Golfo conquistasse o direito de sediar o evento máximo do futebol.

Documentos da Justiça americana revelam a tramoia. E foi anunciado ontem o primeiro indiciamento de cartolas do futebol desde 2018. “Membros do Comitê Executivo (da Fifa) receberam ofertas ou propinas em conexão com seus votos”, revelou a Justiça americana, que levou a cabo investigações contra picaretas como Teixeira e Marin.

Segundo os promotores norte-americanos, Teixeira, Nicolas Leoz “e o co-conspirador 1 receberam ofertas ou pagamento de propinas em troca de seus votos a favor do Catar para sediar a Copa de 2022”, indicou. Pela primeira vez, a Justiça americana também fala em pagamentos dos russos para outros dirigentes. Moscou sediou o Mundial de 2018.

Curiosamente, Teixeira continua leve, livre e solto, vivendo impunemente em refúgio no interior fluminense. Ao mesmo tempo, ninguém fala em cancelar a Copa do Mundo de 2022, obviamente viabilizada em cima de muita maracutaia. Coisas da máquina que movimenta o futebol mundial.

Resgate oportuno e necessário das glórias do futebol paraense

Sem competições para cobrir, a Rádio Clube do Pará tem promovido um importante resgate da história do futebol paraense através da série Jogos Memoráveis, que vai ao ar todo domingo, às 15h. A equipe de Guilherme Guerreiro mostra sua versatilidade e talento reconstituindo narrações, como fez Cláudio Guimarães ao reinventar a jornada esportiva de PSC x Peñarol, em 1965, célebre feito bicolor que ganhou citação até no hino do clube.

Outra importante reconstituição foi a da conquista da Série B pela Tuna em 1992, sobre o Flu de Feira por 3 a 1, com vibrante narração de Toninho Silva (cedida pela Rádio Marajoara), recheada de comentários emocionados de heróis de um dos importantes feito da Águia Guerreira. “Confesso que chorei pra valer, os depoimentos dos outros colegas muito bons! Valeu! Muito obrigado mesmo”, disse o zagueiro Juninho, autor do último gol da partida.

A trepidante voz de Geo Araújo, o saudoso Pequenininho da Clube, emoldurou o jogo CRB 1 x 2 Remo, em 1992, triunfo que garantiu o acesso azulino à Série B, concomitantemente com o rebaixamento do Papão naquele ano.

Pato envelheceu, mas não consegue cair na real

A declaração de Alexandre Pato, de que alimenta o sonho de retornar ao Milan, é a prova de que alguns atletas vivem com a cabeça longe da realidade. Não é impossível que isso ocorra, mas é bastante improvável.

No aspecto técnico, Pato é praticamente um ex-jogador em atividade, embora ainda jovem. Joga em nível muito inferior ao que exige o futebol italiano, que hoje nem é o primeiro da Europa.

O atacante do São Paulo está hoje no mesmo patamar do paraense Paulo Henrique Ganso, do qual ninguém discute a qualidade do futebol, mas de quem todos duvidam quanto ao afinco com que se dedica ao ofício. 

(Coluna publicada na edição do Bola de terça-feira, 07)

FPF remarca reunião para debater futuro do Parazão

O Parazão 2020 continua com o futuro indefinido. Paralisado por causa da pandemia do novo coronavírus, o estadual pode ganhar novos cenários nesta quarta-feira, 08. A Federação Paraense de Futebol (FPF) decidiu voltar atrás, remarcando uma videoconferência para 16h, com representantes dos 10 clubes que disputam o certame. A informação foi confirmada pelo vice-presidente da FPF, Maurício Bororó.

O encontro, que antes seria presencial, chegou a ser cancelado pela FPF na quinta-feira. A pressão dos dirigentes de clubes que já se encontravam em Belém fez a entidade recuar e promover o encontro, mas por videoconferência.

Quando o campeonato parou, restavam 2 rodadas da fase classificatória (10 jogos), além das semifinais (4 jogos) e finais (2 jogos).

Para avivar a memória contaminada

De autor não identificado

“Eu vi gente comemorar o câncer que Lula enfrentou – e Dilma também.
➖ Eu vi médico explicar como se poderia matar dona Marisa na mesa de cirurgia.
➖ Vi posteriormente pessoas comemorando sua morte.
➖ Vi adesivos obscenos de Dilma em carros de “cidadãos de bem”.
➖ Vi companheiros apanharem por usarem vermelho no dia do impeachment.
➖ Vi bonecos de Lula e Dilma enforcados nas manifestações de rua.
➖ Vi tiros contra os ônibus da caravana do Lula;
➖ Vi vários vídeos com pedradas contra a caravana do Lula.
➖ Eu vi o acampamento em Curitiba ser atacado com tiros e vandalismo ferindo companheiros.
➖ Vi manifestantes sendo xingados e tomando bombas da PM por dar apoio e solidariedade à Lula no momento da prisão.
➖ Vi crianças serem feridas pela PM no dia da prisão de Lula, simplesmente por estarem ali.
➖ Vi fogos de artifício no dia da prisão do maior líder popular do país e da América Latina.
➖ Vi gravações de pilotos que levaram Lula pra prisão em Curitiba, afirmando que tinham que “jogar a carga” fora.
➖ Vi Marielle Franco, vereadora de esquerda, ser morta a tiros.
➖ Vi Bolsonaro dedicar seu voto à Brilhante Ustra, torturador de Dilma.
➖ Vi o Bolsonaro falar que era preciso fuzilar os petistas.
➖ Vi gente sendo empurrada, xingada, humilhada por estar de vermelho.
➖ Vi uma médica no RS que se recusou a atender uma criança porque a mãe era figura pública do PT na cidade que morava.
➖ Eu vi o ódio crescer em todo o país, alimentado pelo Bolsonaro e seus eleitores.”

👉Agora não venham me dizer que eu tenho que torcer pro governo do Capiroto ser bom.

Ronaldinho Gaúcho e Assis vão para prisão domiciliar no Paraguai

Ronaldinho Gaúcho está preso há mais de uma semana em presídio no Paraguai

A audiência realizada nesta terça-feira definiu que o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho e seu irmão, Roberto Assis, poderão ser transferidos para a prisão domiciliar. A mudança de regime foi determinada pelo juiz Gustavo Amarilla, que liberou a dupla para cumprir a medida preventiva em um hotel quatro estrelas em Assunção, no Paraguai.

Ronaldinho e Assis estavam presos no Grupamento Especializado, uma espécie de cadeia de segurança máxima para presos especiais, desde o dia 6 de março, acusados de envolvimento em esquema de produção e tráfico ilegal de documentos falsos após terem entrado no país portando passaportes adulterados no início de março.

O hotel escolhido é o Palmaroga, no centro da capital paraguaia, que fica a pouco mais de 3 km da cadeia onde a dupla estava detida há 32 dias. Segundo o ‘ABC Color’, Ronaldinho e Assis ficarão em quartos separados. A Justiça também determinou o pagamento de US$ 800 mil para cada um (cerca de R$ 4,6 milhões) como garantia de que eles não deixassem o local, e ficarão sob custódia policial permanente enquanto o processo não é concluído.

Esta foi a quarta tentativa da defesa de Ronaldinho e Assis de retirá-los do Grupamento Especializado. Até o momento, 15 pessoas já foram presas, incluindo o empresário brasileiro Wilmondes Sousa, acusado de fornecer os passaportes aos irmãos.

Entenda o caso

O ex-astro do Barcelona e da seleção brasileira Ronaldinho Gaúcho e seu irmão, Roberto Assis, foram detidos pela polícia do Paraguai sob acusação de ter entrado no país usando supostos passaportes adulterados.

Euclides Acevedo, ministro do Interior do Paraguai, informou que investigadores entraram na suíte presidencial do Hotel Yacht y Golf Club, onde Ronaldinho estava hospedado, e encontraram dois passaportes adulterados. Um estava em nome do ex-jogador e o outro no do irmão. (Do Extra)

Em plena quarentena, atacante deixa o Leão

"Luxuoso" Jackson pediu para deixar o clube em meio a pandemia — Foto: Akira Onuma/O Liberal

Foram nove jogos e cinco gols durante os cerca de três meses defendendo o Remo. Em meio à paralisação do futebol brasileiro por causa da pandemia do novo coronavírus, Jackson assinou, no início da tarde desta terça-feira, a rescisão de contrato com o clube paraense.

A iniciativa partiu do atacante. Grato ao carinho que recebeu da torcida azulina, Jackson vislumbra uma transferência para outro centro quando a pandemia estiver controlada e as competições forem retomadas.

– Estou indo respirar novos ares, nada definido, mas meu empresário tem conversado com alguns clubes. Em breve devo ter novidades, mas quero deixar meu carinho e agradecimento para essa torcida – contou jogador de 26 anos ao GloboEsporte.com.

“Graças a Deus consegui mostrar meu trabalho aqui. Me adaptei muito a cidade, gostei daqui. Ver Baenão e Mangueirão lotados não tem preço. A torcida do Remo é fenômeno mesmo”

O Remo ofereceu pouca resistência, já que a principal preocupação no momento é encontrar formas de pagar credores, jogadores e funcionários com as receitas reduzidas por causa da interrupção do Parazão. O impacto financeiro causado pela falta de jogos foi grande e a saída do atacante alivia as contas. Ainda assim, o técnico Mazola Júnior foi consultado pela diretoria antes da quebra do vínculo contratual e deu aval para a liberação do artilheiro azulino na temporada.

Jackson foi reserva durante a pré-temporada, mas no começo do Parazão marcou três gols em quatro jogos e conquistou a titularidade. A rápida ascensão o fez ser chamado de “Luxuoso” pelos torcedores, fazendo alusão a uma aparelhagem.

– Não comecei o ano como titular, mas a partir da segunda partida entrei e consegui me firmar no time. O apelido é legal. Mostra que seu trabalho está sendo reconhecido pela torcida, fico feliz. Esse carinho facilitou a minha adaptação no clube e na cidade. Ajudou para eu mostrar meu trabalho – avaliou.

Mesmo em pouco tempo no Remo, Jackson trabalhou com dois treinadores. Rafael Jaques, que o trouxe do futebol do Sul; e Mazola Júnior, que assumiu o Leão no fim de fevereiro. O atacante não poupou elogios aos dois profissionais.

– Infelizmente futebol é assim. Perder clássico e ser goleado abala qualquer equipe. Na época do professor Rafael, acho que faltou um algo a mais. Não sei explicar. Trabalhar com o Mazola foi uma satisfação. Aprendi tanto com ele, quanto com Rafael. São bons profissionais e pessoas – afirmou.

Agora livre no mercado, Jackson espera conseguir um voo para deixar Belém rumo a Maceió, sua terra natal.

Batedor de carteira

Do SportLight:

Jair Bolsonaro encheu o tanque do carro com mais de mil litros de gasolina comum. Exatamente 1.003,46 litros. Ao menos é o que está na nota fiscal de um posto na Barra da Tijuca (Auto Serviço Rocar), zona oeste do Rio de Janeiro. Emitida em 7 de janeiro de 2009, com valor de R$ 2.608,00 na ocasião, corrigidos para R$ 4.833,38 atuais (IGP-M do último mês de fevereiro).

Embora não exista carro com tal capacidade no tanque, foram reembolsados sem objeção pela Câmara como parte da “cota parlamentar” do então deputado federal pelo PP, partido de Paulo Maluf. Dinheiro público.

Os altos valores em notas fiscais para reembolso de combustível do agora presidente não ficaram por aí.
A reportagem cruzou os dados entre a base de dados públicos do congresso, as notas fiscais de cada abastecimento apresentadas por Bolsonaro, obtidas via “Lei de Acesso à Informação” da Câmara dos Deputados (que funciona com independência da LAI do governo federal) e dos relatórios do serviço de reembolso da “Coordenação de Gestão Parlamentar”, subordinada ao “Departamento de Finanças, Orçamento e Contabilidade da Câmara”.

Em onze idas a dois postos de gasolina do Rio, o Rocar (Barra da Tijuca) e o Pombal (Tijuca), entre 7 de janeiro de 2009 e 11 de fevereiro de 2011, o então deputado usou o equivalente a R$ 45.329,48 (valor corrigido pelo IGP-M a partir da soma de cada nota. Ver tabela abaixo). Uma média de R$ 4.120,86 a cada ida nesses dois postos.

Craque do Tri leva à CBF projeto por direito de imagem a campeões

O direito de imagem é um direito pessoal, que determina uma negociação direta entre clube e jogador para estabelecer valores e regras para regulamentar o uso da imagem do esportista pela entidade. É um direito assegurado pela Constituição Federal.

Saindo dos termos jurídicos para uma linguagem mais popular, pode-se dizer que um jogador campeão mundial pela seleção tem sua imagem eternizada. E por que, muitos deles, neste momento, se ressentem de uma estabilidade financeira, estando prostrados diante da própria glória? 

Já há, por parte da CBF, algum tipo de pagamento, em forma de aposentadoria. Mas não em relação a direito de imagem, conforme afirmou o ex-jogador Clodoaldo. Atualmente na ativa, como consultor imobiliário, ele não se ressente da falta de recursos.

Mas, preocupado com ex-campeões em situação precária, ele conta que apresentou um projeto para a entidade, pouco antes da pandemia de coronavírus atingir o Brasil.

Campeões mundiais não recebem direito de imagem

“Apresentei esse projeto, para que situações tristes que têm se repetido com ex-jogadores deixem de ocorrer. Vi um vídeo do Marco Antônio e me preocupei. Há ainda outros casos, como o do Manga, que só agora foi acolhido no Retiro dos Artistas, e outros. Esse pagamento seria uma forma de garantir uma renda justa para quem muito fez pelo futebol brasileiro”, conta.

Clodoaldo se referiu a um vídeo recentemente divulgado nas redes sociais em que o ex-lateral Marco Antônio, que fazia parte do elenco tricampeão mundial em 1970, na porta de um boteco, fala com alguém que está dentro de um carro, repetindo o que algumas pessoas dizem ao seu redor, sobre ele. “Patrimônio nacional e imorrível”. “Achei a cena triste, fiquei preocupado com ele”, afirmou Clodoaldo.

Ele conta que o projeto é baseado em uma prática já realizada pelo Santos que, conforme conta, já possui um sistema de pagamento de direito de imagem para os seus campeões mundiais.

“Seria algo baseado no sistema do Santos. Não falei sobre valores, isso deve ser discutido em cada caso. Mas o mais importante é que seja uma quantia justa e que, ao mesmo tempo que dê condições de sustento, sirva como uma mínima recompensa por tudo que foi feito pelo ex-jogador”, afirma.

Contatada pelo R7, a CBF não deu retorno para falar a respeito do andamento do projeto.

‘Rainha Louca’ continua presidente, mas não governa

Por Joaquim de Carvalho

As declarações de Bolsonaro para um grupo de evangélicos sobre “estrelas” de seu governo confirmam o que um dos jornalistas mais prestigiados da Argentina disse na sexta-feira: ele não tem mais poder.

Ontem, Bolsonaro disse que usará a caneta para demitir ministros estrelas, que falam “pelos cotovelos”. A frase foi interpretada por políticos como uma referência a Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e Sergio Moro, da Justiça.

Quem tem poder não precisa avisar.

Conhecido por revelar o passado de fraqueza do papa Francisco em relação à ditadura argentina, Horacio Verbitsky disse em um programa de rádio que o Brasil tinha o general Walter Braga Netto como “presidente operacional”.

A declaração foi dada na rádio El Destape, em um programa de debate e análise política.

Abaixo, o áudio do comentário do jornalista, conhecido na Argentina por revelar também que militares jogavam presos políticos no rio da Prata, em voos da morte.

“Uma comunicação telefônica de um alto chefe do Exército brasileiro com um alto chefe do Exército argentino, no qual o brasileiro informou que havia tomado a decisão de tirar o presidente Bolsonaro em todas as decisões importantes”, relatou Verbitsky.

Essa frase já foi tornada pública no Brasil pelo site Nocaute na sexta-feira. O que é inédito no Brasil é a revelação de como se tomou essa decisão.

Segundo Verbitsky houve uma reunião do ministro do STF Gilmar Mendes com os ministros Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Walter Braga Netto, da Casa Civil, que estavam na ativa quando foram nomeados para a cúpula do Governo Federal.

O jornalista disse que Bolsonaro não seria deposto, mas que se tornaria uma figura do tipo “monarca constitucional, sem poder efetivo”. O jornalista chegou a usar a expressão “Rainha Louca”, que teria sido usada na reunião dos ministros.

O militar argentino é a fonte de Verbitsky, conforme ele próprio revelou. Esse militar se tornou amigo do alto chefe do Exército brasileiro em missões internacionais.

O jornalista advertiu que não foi uma comunicação oficial de Exército para Exército, mas uma conversa de caráter pessoal.

Evidentemente, ao dar conhecimento dessa conversa a um jornalista, o militar argentino queria tornar pública a decisão tomada no Brasil.

Uma interpretação plausível é que o militar brasileiro queria tornar pública a decisão de transformar Bolsonaro na “Rainha Louca”, mas a partir de uma fonte no exterior. E, para isso, pediu a colaboração do amigo.

“São dois amigos, dois amigos que ocupam cargos altíssimos nas suas respectivas hierarquias”, declarou o jornalista argentino.

O movimento institucional para isolar Bolsonaro começou quando Gilmar Mendes entrou em contato com os militares ministros depois que Bolsonaro ameaçou revogar a quarentena. E também depois que Bolsonaro desafiou a orientação das autoridades sanitárias, inclusive do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, com o passeio pelo Distrito Federal, que gerou aglomeração.

A comunicação de Gilmar Mendes foi “para informar que o Supremo não iria permitir que Bolsonaro revogasse a quarentena”. A conversa teria ocorrido sábado da semana retrasada, logo depois do passeio de Bolsonaro.

Participaram da conversa, segundo Verbtsky, os dois militares. O relato do jornalista é feito com detalhes precisos sobre a trajetória de cada um dos envolvidos neste movimento, o que dá ainda mais credibilidade ao relato.

“Braga Netto é um personagem muito importante, Walter Braga Netto. Foi chefe do Estado Maior do Exército até que Bolsonaro, em fevereiro deste ano, o designasse chefe da Casa Civil. Ele passou à reserva do Exército, mas continua sendo uma figura relevante em todas a Forças Armadas.”

Sempre segundo ele, Bolsonaro, a certa altura, participou da reunião (talvez por telefone) e insistiu que iria revogar a quarentena. “Gilmar Mendes insistiu que não iria permitir e disse que, se ele fosse por esse caminho, iria produzir uma grande crise política”, relatou.

A conclusão do encontro é que o ministro Gilmar Mendes sugeriu que se criasse uma espécie de Estado Maior da Presidência, no qual participariam o presidente do STF, Dias Toffoli, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

Para tocar o Executivo, seria designado um “presidente operacional”, que seria justamente Braga Netto. Desde então, “há um presidente operacional no Brasil, que se chama Braga Netto”.

“Isso não implica em deposição de Bolsonaro. A figura que se é usada para se referir à situação de Bolsonaro é Rainha Louca. É Rainha, porém não governa”, afirmou.

O relato do jornalista ganhou ainda mais crédito depois do tuíte publicado no final da noite de ontem por Carlos Bolsonaro, o Carluxo, claramente desequilibrado. Ele disse que há um golpe em curso contra o pai.

“As forças ocultas do establishment se ouriçam como prostitutas baratas no sinal! O cheiro de golpe é mais forte do que o das “pregas” do isentão após ser fortemente arrombado pelo inimigo disfarçado de ‘prudente e moderado’. Cabe ao povo entender o recado e se mobilizar contra!”, escreveu.

O tuíte já não está mais na rede, apagado pelo próprio Carluxo.

Mas o recado foi dado: Carluxo sabe que, um ano e três meses depois de tomar posse, o Mito virou Rainha Louca.