POR GERSON NOGUEIRA
A semana foi rica na exposição das diferenças entre o futebol moderno que a Europa se dá ao luxo de praticar e o estilo arranca-toco que prevalece no Brasil, principalmente, e na América do Sul, de maneira geral. Dois jogos, válidos pelas semifinais da Champions League, impuseram de forma até constrangedora (para nós) o brutal descompasso entre o que times e treinadores fazem por lá e o que se vê aqui.
Cada finta insinuante, troca de passes estilosa dos jovens jogadores do Ajax diante do Tottenham, em Londres, equivalia a um tapa na cara dos que se prestam ao estelionato visto em gramados brasileiros. Sim, o que se vê nesta década perdida é uma forma de enganação, de ludibriar a boa fé das pessoas.
Refiro-me ao torcedor que se mantém fiel ao futebol como entretenimento. Pela paixão, ele pode sair dos estádios comemorando um título a mais. Como consumidor, tem sido ordinariamente trapaceado. Compra ingressos caros – principalmente na Série A –, paga pacotes na TV fechada, para ver espetáculos que não simplesmente não acontecem.
A não ser que o conceito de espetáculo esteja subvertido, as partidas de futebol lesam o espectador quanto ao tempo de bola rolando – quase sempre abaixo dos 50 minutos! – e na quantidade de jogadas verdadeiramente caprichadas. Não que se espere arroubos de genialidade, lampejos de iluminação, mas é plenamente aceitável que se exija um apuro maior nos fundamentos do jogo.
No país pentacampeão mundial, que já se autodenominou a terra do futebol – com boa dose de razão até os anos 90 -, é alarmante constatar o festival de matadas de canela, chutes na orelha da bola, trombadas e outros tipos de tortura futebolística.
Os europeus, enquanto isso, ajustaram os seus conceitos mais tradicionais, combinando necessidades práticas do jogo com a beleza estética do evento futebol, permitindo-se fazer jogos tão competitivos quanto tecnicamente exuberantes. Em resumo, unindo o útil ao agradável.
É claro que lá existe investimento alto, capaz de atrair sempre os melhores jogadores, mas há um inegável capricho na forma de jogar que não depende apenas de grana. Requer conhecimento, estudo e apego ao talento.

O Ajax, citado lá em cima, é legítimo representante desse futebol moderno e desassombrado, que não se intimida diante de gigantes mundiais – eliminou o Real Madri dentro do Santiago Bernabeu – e joga ofensivamente o tempo todo, até mesmo quando finge se resguardar.
Há uma fina semelhança entre o estilo holandês e a troca de passes tão ao gosto do Barcelona. Apesar de menos rápido que o Ajax, o time de Lionel Messi é mais cerebral, até pelas peças experientes de que dispõe.
Curioso é notar que até os times mais pragmáticos na forma de operacionalizar o jogo, como Liverpool e Tottenham, não abrem mão de lances plasticamente bonitos, à brasileira, como se dizia antigamente – e quase não se pode dizer mais.
Durante décadas, acreditamos que os europeus estavam condenados eternamente ao estilo bate-estaca, com passes pouco naturais e jogadores de cintura dura, sem molejo para o drible. Foi bom enquanto durou. Eles evoluíram. Conseguiram montar a equação que junta arte e resultado.
É justo reconhecer que eles deixaram de ser broncos. Os verdadeiros carrascos da bola estão deste lado do planeta e o assustador é que há quem goste e defenda a indigência do futebol que os clubes brasileiros praticam.
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Leão festeja êxito da campanha pró-Baenão
Um sucesso estrondoso. Até sexta-feira à noite, a promoção “Retorno ao Reino” havia garantido a venda de 5.670 ingressos para a reinauguração do estádio Evandro Almeida. Ao custo individual de R$ 80,00, garantindo uma renda parcial antecipada na casa de R$ 453 mil.
Diante da expectativa para o grande evento do dia 6 ou 7 de julho, ouvinte mandou a letra no Cartaz Esportivo de sexta-feira: irão convidar para a festa o ex-presidente que destruiu o estádio e causou sua inutilização por cinco anos?
O bom senso diz que não. A conferir.
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Copa Verde: maná dos céus para a dupla Re-Pa
A confirmação da Copa Verde para o mês de agosto, logo em seguida à Copa América, soa como bálsamo para os combalidos cofres da dupla Re-Pa. Os azulinos, principalmente, têm motivos para soltar foguetes pelo anúncio feito na sexta-feira pela CBF, após longo período de boatos e especulações.
Não haverá o caráter binacional, como chegou a proclamar o coronel Nunes no ano passado, mas a CBF procurou e achou um parceiro do mundo privado para subsidiar as passagens e despesas com transporte das equipes participantes.
E o grande atrativo da competição foi mantido. A vaga nas oitavas de final da Copa do Brasil, com direito à bonificação de R$ 2,5 milhões, está garantida.
Pode-se até recriminar a CBF por ter deixado a competição de lado, quase na geladeira e sob a ameaça de extinção, mas a essa altura a melhor coisa a fazer é elevar as mãos aos céus e agradecer.
É verdade que a competição paga muito mal e sempre foi subvalorizada, mas adquiriu importância especial em meio a um cenário de incertezas e extremas dificuldades financeiras para os clubes do Norte.
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Bola na Torre
Giuseppe Tommaso apresenta o programa, a partir das 22h, na RBATV, com a participação de Rui Guimarães e deste escriba de Baião. Em pauta, os lances e análises dos jogos das séries C e D.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 05)