POR GERSON NOGUEIRA
A baixa produtividade do ataque é o maior problema do Remo nesta Série C, situação confirmada no empate em 0 a 0 com o Ypiranga, na segunda-feira (20). Era a chance de o time alcançar pela primeira vez a liderança de seu grupo na etapa classificatória da competição. Uma vitória simples faria o time saltar da terceira colocação para a ponta da tabela.
Mesmo com amplo espaço para desenvolver seu plano de jogo, o Remo se atrapalhou no processo de criação e não exerceu um cerco efetivo em torno da área. Até melhorou no segundo tempo, mas sem aprofundar jogadas e forçar erros da defesa do Ypiranga.
Num sintoma da dificuldade de organização ofensiva do Remo, as melhores situações foram em lances de iniciativa individual, como no arremate de Carlos Alberto logo a um minuto de jogo e quase aos 40 minutos da primeira etapa.
No 2º tempo, aos 12 minutos, um chute longo de Douglas Packer quase resultou em gol logo no reinício. A bola estourou no poste esquerdo, contando com um leve desvio do goleiro. Depois, Carlos Alberto arriscou chute forte e rasteiro de fora da área, Deivitiy espalmou, mas não havia ninguém colocado para aproveitar o rebote.
Alex Sandro e Ramires também estiveram a pique de marcar. Alex cabeceou no canto esquerdo, mas o goleiro mandou a escanteio. A jogada que contou com a participação de mais jogadores foi a que quase levou em gol de Ramires, já na reta final da partida. Ele recebeu na intermediária, tabelou com Carlos Alberto, mas a bola saiu rente à trave.
Ainda houve o escanteio que Jansen escorou de cabeça, aos 30 minutos, para defesa espetacular do goleiro, que já havia feito algumas façanhas em finalizações de Douglas, Alex Sandro e Ramires.
Nem mesmo a costumeira alegação de que o time atuou bem e “só faltou a bola entrar” serve de consolo em relação ao empate. O Remo atuou razoavelmente – nem podia jogar tão mal visto que o Ypiranga se limitou à defesa –, mas muito abaixo do que o jogo exigia. Em nenhum momento, o time conseguiu transformar a posse de bola em algo útil.
Chamou atenção a discreta presença do centroavante Emerson Carioca nas ações dentro da área. Ele apareceu mais no esforço de marcação no meio e em algumas tentativas de tabelar com Carlos Alberto e Douglas, completamente fora de suas atribuições e qualidades.
Na prática, um centroavante baixo e pouco habilidoso no jogo rasteiro tem pequena margem de chances no futebol atual. Pode até fazer um gol aqui, outro ali, mas terá sempre imensas dificuldades para se impor. Márcio Fernandes certamente sabe disso, mas prefere insistir com Emerson.
Há uma alternativa, menos óbvia, que requer mais treinamento e a participação efetiva de todos os setores do time. Implica na utilização de Alex Sandro como atacante mais avançado, ao lado de Carlos Alberto, à frente de uma linha de meio-campistas – Yuri, Ramires, Garré (Djalma) e Douglas – que cuidaria da compactação do jogo.
O time jogaria sem referência na área, o que na prática já não existe hoje. A vantagem é que haveria aproximação mais aguda e qualificada, com o envolvimento dos laterais e a eventual utilização de um atacante de lado (Danillo Bala ou Tiarinha).
Como a competição ainda está começando, seria possível executar a mudança de perfil, até porque os jogadores já se conhecem. Na Série C 2018, carente de um centroavante de ofício, o técnico Artur Oliveira optou por um sistema parecido, depois aperfeiçoado por João Neto. O resultado, como se sabe, foi altamente satisfatório.
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F1 se despede de outro gigante das pistas
A morte do tricampeão Niki Lauda faz com que a gente de imediato volte a pensar na dimensão da era de ouro da Fórmula 1, quando grandes pilotos eram indiscutivelmente talentosos, verdadeiros ases das pistas, que impressionavam pela técnica e o conhecimento das máquinas.
O austríaco, sobrevivente de um dos acidentes mais pavorosos da história da categoria, reapareceu semanas depois às pistas pilotando uma Ferrari. Luca di Montezemolo, em entrevista ontem, recordou o episódio e contou um fato impressionante sobre aquela volta às corridas.
Lauda, nos boxes da Ferrari, colocava a máscara de proteção quando um filete de sangue escorreu pelo rosto, para espanto de mecânicos e do próprio Montezemolo, presidente da escuderia naquela época. Os cortes e queimaduras do acidente ainda não estavam cicatrizados.
Coragem tinha nome naqueles tempos gloriosos: Niki Lauda. Ganhou três títulos mundiais, como Piquet e Senna, passando à história como um dos mais rápidos e competentes pilotos de todos os tempos.
Acima de tudo, Lauda transparecia uma nobreza nas atitudes e palavras, razão do respeito que todos os pilotos daquele tempo e até os atuais sempre lhe devotaram. Colecionou amigos, passou longe de intrigas, só gostava mesmo de velocidade.
(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 22)