
POR MOACYR OLIVEIRA FILHO, no blog Ultrajano
Morreu ontem, aos 82 anos, o ex-deputado federal Ricardo Zarattini. Engenheiro, foi um dos 15 presos políticos soltos, em 1969, em troca da libertação do embaixador americano Charles Burke Elbrick. Pai do líder do PT na Câmara, o deputado federal Carlos Zarattini, e irmão do ator Carlos Zara (1930-2002), Zarattini tinha câncer na medula e sofria das intercorrências provocadas pela doença.
Líder estudantil aos 16 anos, foi um dos participantes da campanha “O Petróleo é Nosso”, que culminou com a criação da Petrobras. Ex-integrante do PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), foi preso pela primeira vez no dia 10 de dezembro de 1968, em Pernambuco, três dias antes da decretação do AI-5, o Ato Institucional nº 5. Torturado, foi encarcerado no Quartel Dias Cardoso (PE).
Em 1969, conseguiu fugir com a ajuda dos soldados para os quais dava aulas e que o apelidaram de “O Professor”. Ficou escondido por um mês no Convento das Doroteias, graças ao auxilio de dom Hélder Câmara. Voltou clandestinamente para São Paulo. Em julho, foi preso pela Oban (Operação Bandeirante). Detido e torturado na cadeira do dragão por 14 dias, foi libertado em setembro daquele ano em troca do embaixador americano sequestrado por militantes de esquerda.
Zarattini tinha mobilidade e fala comprometidas em decorrência da doença e de torturas. Caminhando com auxílio de uma bengala e, no fim da vida, em cadeira de rodas, ele participava nos últimos tempos de atos em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Zarattini iniciou sua militância política quando ainda era secundarista e foi presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE) de São Paulo. Após sua libertação em troca do embaixador Elbrick, Zarattini foi para o México, Cuba e Chile. Em 1974, voltou ao Brasil clandestinamente. Em maio de 1978, foi novamente preso e torturado, sendo libertado no ano seguinte no processo de anistia.
O ex-deputado foi o primeiro brasileiro a ter o banimento revogado, filiando-se em seguida ao PDT, de Leonel Brizola. Em 1993, a convite de Brizola, foi trabalhar na liderança do PDT na Câmara dos Deputados, onde permaneceu até 2002, mesmo depois de se filiar ao PT. Em 2002, concorreu pelo PT à Câmara. Como era suplente, assumiu uma vaga em 2004.
Em 2013, foi inocentado de ser um dos responsáveis pela explosão de uma bomba no saguão do aeroporto do Recife, ocorrida em 1966. Documentos dos órgãos de segurança, apresentados pela Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara, desvinculavam o político da acusação.
Seu filho, Carlos Zaratini, escreveu no seu blog: “Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. Poucas vidas mereceram tão completamente este poema de Brecht, como a de Ricardo Zarattini, que faleceu ontem, em São Paulo, com 82 anos. Até o último momento de lucidez, discutia a situação do país, propunha iniciativas e ações a todos os que o visitavam no hospital.
O ex-ministro José Dirceu, exilado junto com Zaratini, em 1969, também lamentou a morte do amigo: “Zara, ‘O Velho’, como o chamávamos com respeito e reverência. Toda uma bela vida dedicada ao Brasil e ao combate ao imperialismo, como ele fazia questão de destacar. Sua razão de ser foi a revolução e dedicou todos seus últimos anos, meses e dias ao PT. Eu, pessoalmente, não tenho palavras para expressar minha gratidão ao Zara, meu amigo e companheiro. Lembro dele em Cuba, alegre, sempre debatendo, estudando, escrevendo, corajoso, mas humilde. Zara era um homem charmoso e nos envolvia com seu carinho e amizade. Polêmico, mas sempre buscando a unidade. Já sentia sua falta pela distância, agora honro sua memória continuando sua luta. Até mais Zara. Do Zé, teu camarada de luta”.
A morte de Zaratini entristece a todos os que, como ele, lutaram contra a ditadura e em defesa da liberdade, da democracia e do socialismo. Ricardo Zaratini, presente!