
POR GERSON NOGUEIRA
Passou meio em brancas nuvens, pelo menos no Brasil, a sumária demissão de Carlo Ancelotti do comando do Bayern de Munique, um dos gigantes do futebol europeu. A gota d’água foi o baile a que o time alemão levou do PSG em jogo válido pela Liga dos Campeões. Neymar & cia. meteram 3 a 0 e não permitiram aos alemães nem o gostinho de um gol de honra.
O mais impressionante é que Ancelotti, no melhor estilo “joão teimoso”, manteve Franck Ribéry e Arjen Robben no banco de reservas até o segundo tempo, aparentemente subestimando o poderio do PSG. Um pecado de lesa-futebol, pois os dois atacantes continuam a ter lugar entre os melhores do planeta e nada justifica a barração em jogo tão importante.
A derrota e a exposição dos problemas no elenco decretaram a queda de Ancelotti, cujo histórico no futebol europeu incluía passagens exitosas pelas principais ligas. Mais do que o ocorrido em Paris, a comparação direta com Pep Guardiola talvez tenha sido o grande motivo do insucesso do italiano em Munique.
Não que Guardiola seja insubstituível. Acontece que o espanhol comandou uma verdadeira revolução no futebol do Bayern. Mudou o estilo de jogar, valorizando a posse de bola e a ocupação de espaços, mas foi bem além disso. Incutiu nos jogadores noções inteiramente novas sobre comprometimento e vínculo com uma camisa.
Guardiola transformou o grupo de atletas do Bayern num time afinado dentro e fora de campo, fez com que assimilassem outra mentalidade sobre o ofício, repetindo o que havia feito com total sucesso no Barcelona.
A chegada do conservador Ancelotti modificou por completo o ambiente no clube, gerando insatisfação quanto à carga de treinos, muito abaixo do que Guardiola ministrava. É válido observar que na Europa boleiros constituem uma categoria especial de trabalhadores. Não aceitam passivamente ordens de técnicos que não respeitam.
A situação chegou ao ponto de Robben comentar, ironicamente, que os treinos de seu filho de 9 anos nos infantis do Bayern eram mais puxados do que os do elenco profissional.
A amizade de Ancelotti com James Rodriguez, Vidal e Tiago Alcântara levou à formação de uma espécie de panelinha, execrada pelos demais jogadores, à frente Müller, Hummels e o próprio Robben.
Com o mau passo em Paris, a cama de Ancelotti estava feita e ele foi devidamente defenestrado, fazendo cair por terra a antiga lenda de que na Europa técnicos são mais preservados do que no Brasil. Depende, como diria o Zé Trindade.
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Queixas da torcida não poupam diretoria do Papão
Não é novidade que o torcedor anda insatisfeito com a trajetória do Papão na Série B. Além da baixa pontuação, a equipe não rende em campo, sendo quase sempre dominada pelos adversários sem demonstrar a mínima fibra ou capacidade de reação. Em comentário no blog campeão, José Marcos Lima de Araújo (Marcão) observa que a torcida não se voltou contra o time, mas não deixa de ver que “existe a prevalência de uma direção do clube que age, ou vem agindo, com extremo amadorismo na gestão do futebol e com esmero profissional na gestão administrativa do Papão”.
Reconhece os avanços no aspecto administrativo, a valorização da marca, a estabilidade das contas. Mas, segundo ele, no futebol é um deus-nos-acuda. E exemplifica: “Afastam um dos melhores atacantes da equipe porque não é lá essas coisas de ajuizado. O Leandro Carvalho era um de nossos melhores jogadores, mas não era muito obediente, preferia um barzinho em vez de ir à missa ou ao culto nas horas vagas. Ora, se fosse esse o critério nunca jogariam no Papão o Serginho Chulapa, o Afonsinho, o Paulo Cezar Caju e até o Garrincha, só pra citar alguns”.
Segundo ele, o amadorismo se traduz na teimosia de não aceitar as críticas da torcida. “A mesma diretoria que gera o crescimento do Paysandu deixa a desejar no futebol ao não contratar as peças necessárias. Não consegue repetir a velha fórmula da construção de equipes vitoriosas: manutenção das boas peças, completar com jogadores da base e jogadores que se destacaram em equipes locais e contratando poucos, mas comprovados, jogadores de qualidade como reforços. Devagar, ano a ano, se monta uma equipe vencedora. Mas, numa atitude amadora, segue empresários que querem empurrar seus bondes, seus cones, com o único objetivo de lucro”.
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Gourmetização domina os caminhos da Seleção
Para o jogo da Seleção Brasileira contra o Chile, no próximo dia 10, a CBF divulgou ontem os preços de cadeiras e camarotes no Allianz Parque. Os ingressos mais em conta (R$ 125,00) ficam nos setores superiores, distantes do gramado. Nas áreas intermediárias, o preço vai de R$ 175,00 a R$ 275,00. Para os mais abonados, o espaço Canarinho custa R$ 500 e o camarote sai por R$ 650,00.
A tabela mostra que nunca a Seleção custou tão caro aos torcedores brasileiros. A gourmetização do futebol chega aos píncaros da glória nessas Eliminatórias Sul-Americanas. E olha que o jogo é um simples amistoso para o Brasil, que há muito tempo já assegurou passaporte para a Rússia.
(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 03)