
POR GERSON NOGUEIRA
O Papão começa hoje, contra o Guarani, a série de seis partidas decisivas em casa para afastar o risco de rebaixamento. Com 30 pontos, precisa de mais 16 pontos para garantir permanência na Série B. Nos confrontos dentro de Belém está a chave para resolver a situação. Depende exclusivamente das forças do time para superar os visitantes, tarefa que se tornou um fardo ao longo do campeonato deste ano, com um surpreendente índice negativo diante da Fiel torcida.
A vitória sobre o ABC, na 24ª rodada, quebrou um jejum caseiro de dois meses. Fez ainda com que o torcedor voltasse a acreditar na possibilidade de uma reação dentro do torneio. A atuação convincente do ponto de vista ofensivo reabriu perspectivas de um final de campanha mais tranquilo.
Ocorre que o desempenho bisonho diante do Goiás, no último sábado, trouxe de volta toda a desconfiança acumulada até agora e reacendeu os sinais de alerta tanto entre torcedores como na diretoria.
Não há manifestação oficial por parte do clube, mas as preocupações são crescentes e naturais, pois o time não se estabiliza. Ganha uma, perde outra logo em seguida, não permitindo que se distancie dos últimos colocados. Tudo isso com o campeonato entrando em sua reta decisiva, com definição de posições e afunilamento da briga pelo acesso e contra o descenso.
A presença de quatro clubes com 28 pontos aumenta bastante a pressão sobre os bicolores. Qualquer tropeço hoje à noite pode significar perda de posição na tabela. Curiosamente, o técnico Marquinhos Santos mantém o discurso da tranquilidade absoluta, como se a situação estivesse sob controle. Obviamente, não está. De um comandante sempre se espera serenidade, mas, a essa altura, não é possível mais esconder que a situação é perigosa.
Para um clube que investiu alto, contratando mais de 30 jogadores na temporada e pagando uma das folhas salariais mais robustas do torneio, o Papão cumpre campanha decepcionante até aqui. Sofreu 11 derrotas e tem um dos piores ataques da Série B – o 17º, com 25 gols, acima apenas de CRB, Náutico e ABC.
Em relação aos adversários, o time não chega a ser tecnicamente inferior. Elenco por elenco, o do Papão se encontra no mesmo nível da grande maioria. O problema talvez seja justamente esse: a equipe está perdida na multidão e não consegue se sobressair.
Ainda há tempo de uma retomada, mas as dificuldades naturais da competição e o acirramento da disputa não permitem projeções otimistas. Paira, acima de tudo, o problema da ausência de confiabilidade do time. Marquinhos Santos tentou várias formações, mexeu no meio-campo, voltou com Diogo Oliveira e os ajustes não se encaixam.
Para o confronto desta noite, a escalação é praticamente a mesma das últimas partidas e o sistema é o 4-4-2, mas o Papão precisará sair da pasmaceira vista em Goiânia. A receita para mandantes em desespero é imutável: assumir as rédeas do jogo, buscar os lados e chutar bastante.
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Remo & Ramos: novela expõe questões maiores
Muita gente já dava como certo o fim do ciclo de Eduardo Ramos no Evandro Almeida. Notícias surgidas ontem indicam que a história do camisa 10 pode ter uma reviravolta. Parte da diretoria tende a concordar com a permanência do jogador – por achar que vale a pena ter um meia-armador de talento no time e também por não querer encarar problemas trabalhistas causados por acordos não cumpridos com o atleta.
O fato é que, 109 jogos depois, Ramos segue como um enigma difícil de decifrar. Foi campeão estadual em 2014 e 2015 e contribuiu para o acesso à Série C, mas enfrenta questionamentos junto ao torcedor pelos altos e baixos com a camisa remista.
Nas redes sociais e no blog campeão, posições divergentes quanto ao papel do camisa 10. Para Lopes Junior, a questão é mais em cima. “Sou favorável à manutenção de Eduardo Ramos no elenco, mas sou mais a favor ainda de uma profissionalização da gestão do clube, embora duvide que esta profissionalização ocorra logo, de modo a gerir com qualidade o futebol azulino já em 2018”.
Avalia que Ramos é um jogador que depende de estrutura mínima profissional “para render o máximo pelo tempo que se queira, ou por manter uma regularidade acima da média ao longo de todo um campeonato. A razão dos sucessivos fracassos azulinos não está nesse ou naquele jogador, mas na mais completa falta de profissionalismo para com o elenco, ou no que também é conhecido simplesmente como amadorismo”.
Para Lopes, Ramos é um jogador que se adaptou ao clube, à cidade e à torcida, e não deve ser desprezado. Ressalta que as sucessivas mostras de amadorismo ao longo deste ano indicam que isso não atrapalhava o clube enquanto os times do interior e de fora, considerados tecnicamente inferiores, não possuíam estrutura e planejamento equivalentes ao do Remo, há 10 ou 20 anos.
“Entendo que esse é o tamanho do atraso azulino – uma ou duas décadas –, em que muita coisa aconteceu e o clube perdeu o bonde da história. Quero dizer, o Clube do Remo não se modernizou, permanecendo nas mãos de dirigentes ultrapassados e com visão muito distante da realidade atual do mercado do futebol. E está pagando caro por isso”, finaliza.
(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 26)