The Who faz panorama da carreira em show impecável no Rock In Rio

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Depois de fazer seu histórico primeiro show no Brasil na sexta-feira, no São Paulo Trip, como headliner, o The Who fez o penúltimo show da programação de sábado no Rock in Rio com uma apresentação um pouco mais compacta, com três faixas a menos. Ainda assim, foi um panorama irrepreensível do rock britânico dos anos 1960 e 1970. Os veteranos Roger Daltrey e Pete Townshend mostraram vigor de moleques em um dos melhores shows da história do Rock in Rio.

Enquanto o telão exibia imagens de arquivo do grupo, fundado em 1964, com um efeito estilizado de fumaça que sugeria a viagem no tempo, ao lado de registros de época de casais mods ingleses com suas motos e lambretas, “Can’t Explain” e “Substitute” abriram a apresentação, que no geral se organizou cronologicamente. “Who are You” entrou num arranjo com piano mais sinuoso, e depois “The Kids are Alright” ganhou mais peso na guitarra de hoje de Townshend.

“Muitos de vocês não eram nascidos quando essa música foi escrita”, brinca o guitarrista quando introduz “My Generation”. Já virou lugar-comum lembrar que a banda sobreviveu a décadas de rock embora cantasse que preferia morrer antes de envelhecer, mas a piada resiste – não apenas segue tocando “My Generation”, como o The Who atualiza o seu maior hit com um arranjo um pouco mais dançante e com um rock displicente, como se improvisado, que no RiR arejou a música.

A partir de “Bargain”, de 1971, a banda entra na década seguinte de vez e Townshend começa a mostrar a que veio. Ele tem a delicadeza de dizer que a faixa, nem tanto conhecida do público, é a sua favorita da banda – uma tentativa de empatia que se repetiria até o final do show. O Who não cedeu ao populismo, mas conversou com o público, fez graça (Townshend brincava, “é agora que vamos tocar ‘Magic Bus’?”), e dizia que não era justo ele poder dançar e pular enquanto todo mundo se apertava na pista.

E Townshend, aos 72 anos, pulou como ninguém. Entre canções, fazia tipo, colocava a mão na bacia como se estivesse exausto, mas logo em seguida já dedilhava girando os braços de novo, em seu movimento de efeito consagrado. Só faltou quebrar a guitarra no final. Aqui o show completo:

O resultado foi uma apresentação panorâmica com um caráter didático (a banda emendou um quase medley de “Pinball Wizard”, “See Me, Feel Me” e “Listening to You” que passou rapidamente pelos hits) mas que acabou sendo construída num crescendo irresistível, bastante coeso e conciso, com as óperas rocks e o som setentista de instrumental mais vigoroso fechando a apresentação.

Daltrey visivelmente faz um esforço fisico, como quando toca a gaita, mas isso acaba transmitindo autenticidade à apresentação. Essa volta do Who e sua tão esperada vinda ao Brasil não tiveram nesses dois dias uma cara de empreitada caça-níquel, mas de correção e justiça histórica. Tivemos a sorte de ver não uma banda no auge, mas uma banda na maturidade. (Com informações do Omelete) 

O novo dilema azulino

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POR GERSON NOGUEIRA

No festival de boatos e informações desencontradas que marcam o momento no Remo, pouco se comenta sobre o nome (ou perfil) do futuro técnico. Quando a Série C terminou, havia a possibilidade de Léo Goiano permanecer, mas, nos últimos dias, os rumores sinalizam para a contratação de um nome “de fora”.

Parte da diretoria, incluindo os dirigentes que devem assumir o futebol profissional, se inclina pela figura de um treinador mais experiente, capaz de dar liga a um time mesclado de valores regionais e alguns importados.

A receita é de aplicação conhecida e de resultados desanimadores. Nos últimos anos, o Remo só teve êxito quando teve treinador local na primeira parte do ano. Quando apostou em nomes de fora – como Zé Teodoro em 2015, Leston Junior em 2016 e Josué Teixeira neste ano – para abrir a temporada, as coisas não chegaram a bom termo.

Vários são os motivos para o insucesso dos forasteiros, mas dois são conhecidos e decisivos: o desconhecimento sobre o futebol regional e o clima que castiga as competições do primeiro semestre, com influência direta sobre o rendimento dos atletas.

Foi sob a batuta de um técnico local, em 2015, que o Remo conquistou seu último título estadual. Cacaio pegou o bonde andando (sucedeu a Zé Teodoro) e, além de ganhar o campeonato, permaneceu para a Copa Verde (chegando à decisão) e classificou para a Série C.

A receita da campanha vitoriosa é parecida com a que os dirigentes formulam agora. Elenco majoritariamente regionalizado, com alguns valores de fora. Ocorre que as escolhas de 2015 foram certeiras porque tiveram a participação de Cacaio nas definições.

A questão ressurge agora e, pelo ritmo do pagode, ganha força a tese de um treinador importado. O lado bom é que a meta de curto prazo, independentemente do técnico, é observar e contratar os melhores da Segundinha de acesso ao Parazão, que começa no dia 15 de outubro.

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Um ‘professor’ sem fricotes e alheio ao marketing

Levir Culpi, pela inesgotável capacidade de não se levar a sério, é cada vez mais personagem imprescindível no universo normalmente previsível, chato e politicamente correto do futebol no Brasil. É raro ver um técnico com postura tão elegante diante de derrotas e erros de arbitragem.

Fala com aquela sinceridade mansa, sem grito, dos bons mineiros. Depois da eliminação para o Barcelona de Guayaquil, no meio da semana, dentro da Vila Belmiro, reagiu com a tranquilidade desconcertante daqueles que não tratam o futebol como mero campo de experiência marqueteira.

Admitiu o clima de velório e não se escondeu atrás de desculpas manjadas. “Não tenho grandeza para receber esse resultado com alegria. Perdemos dinheiro, mercado, tudo. Saímos de cabeça baixa, não em relação ao jogo, porque não fomos inferiores. Demos uma cabeçada na trave. A deles entrou”, resumiu, com a simplicidade habitual, a desdita santista.

Com poucas exceções, o futebol brasileiro só se salva da mesmice e da boçalidade pela existência de figuras como Levir. Pode não ser o melhor dos técnicos, mas é, sem dúvida, o mais interessante de sua geração.

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Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda a atração, a partir de 21h, na RBATV. Participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Gols, análise da rodada, sorteios e interatividade.

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Duelo de gigantes pela Bola de Ouro

Messi e Cristiano Ronaldo vêm pelejando há nove anos pela primazia de levantar a Bola de Ouro naquele festão da Fifa no final da temporada. Nunca houve uma disputa tão renhida na era moderna. O argentino leva a melhor, com cinco troféus, contra quatro do português. Nesse período, ninguém teve futebol para se intrometer nesse duelo particular.

Neymar entrou como finalista há dois anos, terminando em terceiro, colocação das mais honrosas. No ano passado, nem chegou ao último nível da disputa. Volta agora em condições ligeiramente diferentes. Tem pouco tempo, porém, para encarar uma briga direta com os dois recordistas.

O jogo se decide na Liga dos Campeões, visto que a participação nas eliminatórias da Copa não é lá muito considerada pela Fifa. Por essa razão, as chances do brasileiro são boas, mas o favoritismo ainda está com a dupla. A coisa só muda de figura se o PSG, pelos pés de Neymar, conseguir a façanha de pelo menos decidir o torneio europeu.

(Coluna publicada no Bola deste domingo, 24)