POR GERSON NOGUEIRA
O torcedor se impacienta, fica irritado com a derrota e descrente do acesso à Série A. Normal. Torcida é assim mesmo, nervosa e passional, capaz de enaltecer uma simples jogada e vaiar uma campanha inteira. A derrota para o América é um resultado normal em se tratando de Série B, ainda mais com o Papão como visitante.
Ocorre que a impaciência do torcedor foi despertada pelo sonho de voltar à Série A, que não estava na agenda inicial e foi crescendo ao longo da trajetória. Criticado nas redes sociais, o técnico Dado Cavalcanti ironicamente é o “culpado” das queixas da massa torcedora.
Foi dele a mão inspirada para montar um time a partir de elenco notoriamente limitado. Com competência, visão de longo curso e boa estratégia, Dado foi levando o Papão a patamares que nem o próprio torcedor imaginava alcançar.
A possibilidade de acesso ainda existe, embora mais distante, mas independentemente do que ocorrer até o fim desta Série B cabe ressaltar sempre o papel fundamental que o treinador teve no processo. Teve momentos fantásticos e outros, nem tanto.
Ontem à noite, no Horto, em Belo Horizonte, ele ficou no meio termo. Não foi nem audacioso, nem suficientemente defensivo. Queria um time compacto, mas seu meio-campo conspira contra isso, e não é de hoje.
Fahel, em noite de baixa produção foi figura destoante, não ajudando nos lances aéreos de ataque e fraquejando lá atrás no segundo e terceiro gols do América. Augusto Recife tentava organizar a ligação, mas os passes saíam curtos e excessivamente laterais.
Quando uma equipe exagera nas jogadas de enceradeira, tocando oito ou até dez vezes para avançar alguns metros, é prova de que algo está desregulado. No Papão, esse desajuste é mais do que conhecido: não há quem faça a transição ou organize as jogadas.
Ataque e defesa são as vítimas diretas dos problemas no meio. O ataque não recebe bolas em condições de aproveitamento. A zaga sofre a pressão permanente dos erros cometidos na saída de bola.
O América de Givanildo não saiu afobadamente em busca do gol. Frio e tranquilo, tocava bola na meia-cancha, aguardando o momento certo de dar o bote. Para sorte dos mineiros, isso aconteceu logo aos 11 minutos, em cruzamento curto desviado com oportunismo por Marcelo Toscano diante de Pablo.
A vantagem estabelecida pelo Coelho não influiu na maneira como o Papão encarava a partida. O time seguiu confuso, exagerando nos passes improdutivos e sem conseguir fazer Leandro Cearense e Welinton Jr. aparecerem em campo.
Lá pelos 20 minutos, num lance fortuito, a bola foi passando por todo mundo e sobrou limpa para Fahel, que exagerou no penúltimo toque e permitiu a defesa de João Ricardo. Pode ter sido a bola do jogo para o Papão.
Depois disso, o América se resguardou mais, saindo apenas em contragolpes com Toscano e Richarlison. Como o adversário não agredia, o Papão ficava rondando a área sem criar nenhuma ameaça concreta.
Na etapa final, o Papão voltou com o mesmo time e o América trouxe uma postura mais determinada, tanto que chegou ao segundo gol logo aos 6 minutos, em falha de cobertura que deixou Toscano livre diante do goleiro Emerson.
Givanildo complicou a vida de Dado fazendo seus volantes marcarem o Papão em seu próprio campo, retomando bolas preciosas e lançando Richarlison e Xavier. Em alta velocidade, o time começou a sobrar em campo e teve seguidas chances para ampliar.
O Papão se limitava a acompanhar com os olhos a movimentação dos atacantes e meias americanos. O terceiro gol surgiu aos 31 minutos, com Richarlison finalmente fazendo o seu, depois de boas oportunidades perdidas. O jovem atacante superou Gualberto no combate direto, depois de falha de cobertura de Fahel e João Lucas.
Nos instantes finais, já com Betinho, Roni e Misael, o Papão ensaiou uma operação ofensiva mais ousada. Só que não havia muito a fazer, pois o bloqueio defensivo do América funcionava bem. Numa escapada pelo meio, Betinho serviu a Pikachu, que bateu rasteiro e cruzado, vencendo ao goleiro João Ricardo.
O América venceu com méritos e o Papão não conseguiu reeditar a segunda etapa fulminante do jogo com o CRB. Apesar das dificuldades maiores a partir de agora, a equipe ainda tem chances de subir. Depende de outros resultados além dos seus e, acima de tudo, terá que superar seus limites.
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Cacaio a um passo de permanecer
Deve acontecer hoje a reunião que define a situação de Cacaio no Remo. Existem muitas vozes no clube que apoiam sua continuidade e outras que defendem a busca de um novo técnico. Pelo que fez na temporada, garantindo com sua liderança e bom trabalho o acesso à Série C e participação na Copa do Brasil e Copa Verde do ano que vem, penso que são grandes as probabilidades de permanência.
A própria torcida, reconhecendo o mérito do treinador, é majoritariamente a favor de que ele prossiga no comando. Existem outros aspectos envolvidos e que podem facilitar essa tendência. O mais forte deles, sem dúvida, é a situação financeira do Remo, que não permite extravagâncias, como a de ir em busca de nomes mais badalados e caros.
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Esclarecimento
Transcrevo mensagem de Eduardo Guizzo, citado em comentário da coluna no último domingo, a respeito da gestão de Pedro Minowa no Remo:
“Gostaria de corrigir o exposto em sua coluna. Não existe nenhum valor a ser cobrado de minha parte do Clube do Remo, pelo contrário, sempre que pude ajudei o clube sem nunca me importar em aparecer por isso. As pessoas que me conhecem, sabem das benfeitorias que fiz, principalmente na sede social. Como leitor de sua coluna, peço que se possível esclareça junto ao seu público leitor este fato, que deve ter chegado até você de maneira equivocada. Importante para mim ter esta oportunidade de esclarecimento em sua coluna, pela paixão que sempre tive e sempre terei por este clube, e pelo respeito que tenho pelo seu trabalho”.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 04)