Boçais à solta

Por Renato Maurício Prado, no Bola

Não sei o que foi pior. O coro racista de provocação ao goleiro Aranha, no jogo entre Grêmio e Santos, na Arena do tricolor gaúcho, ou as reações selvagens, covardes e boçais no Facebook, no Instagram e no Twitter da moça flagrada pela TV chamando o jogador de macaco. Vivemos tempos difíceis nessa era de comunicação global e alta exposição pessoal através da internet. É necessário refletir.

Assim como a multidão, nos estádios de futebol ou em grandes concentrações nas ruas, costuma perder as maneiras — e tome de xingamentos dos mais cabeludos e agressões — as manifestações na grande rede, na maioria das vezes anônimas ou sob pseudônimos, também primam pela completa falta de educação e agressividade. E isso não é apenas um problema brasileiro. É um câncer mundial.

Racismo, nazismo, facismo, e outros “ismos” igualmente deploráveis recrudescem pelo planeta. Seja nas competições esportivas (notadamente no futebol), seja nas comunicações pela internet. Qualquer um que tenha um blog, um perfil numa rede social, um e-mail público sabe do que estou falando.

Flagrada e identificada, a torcedora do Grêmio certamente será punida na forma da lei — e é justo e necessário que seja. Mas e os trogloditas que a ameaçaram e ofenderam da forma mais rasteira, através da internet? Muitos também podem ser identificados. Ficarão impunes?

Ou a Justiça e a Polícia começam a olhar com rigor também as manifestações via internet ou a boçalidade continuará a imperar. Dentro e fora do campo.

Sem contemplação

Pessoalmente, tenho uma política muito simples para tratar esse tipo de gente. Escreveu qualquer grosseria ou passou dos limites nas críticas na minha coluna, no meu blog ou no meu perfil em rede social é sumariamente deletado e bloqueado. E nunca mais sou obrigado a ler qualquer idiotice do mesmo autor. Se a ofensa é feita numa página própria, processo. Simples assim.

Lá como cá

De Paris, Jean Pierre Frankenhuis me manda interessante e-mail sobre a caótica situação financeira dos clubes espanhóis — que formam uma das Ligas mais badaladas da Europa.

“Em maio, o Ministério dos Esportes da Espanha avaliou a dívida dos clubes em 3,5 bilhões de euros (mais de R$ 10 bilhões, enquanto a dívida dos brasileiros é de R$ 6 bilhões). Somente a dívida fiscal (impostos, segurança social, aposentadoria) dos espanhóis, em junho de 2014, era de € 482 milhões (R$ 1,4 bilhão, contra R$ 2 bilhões dos brasileiros). Recentemente, o Ministério e o Governo impuseram uma nova regra: a dívida de um clube não pode ultrapassar 4,5 vezes a sua receita anual.

A LFP (Liga de Futebol Profissional) agora analisa os orçamentos de cada um e pode rebaixar da D1 para a D2 ou da D2 para a D3 quem não se enquadrar (o Múrcia, que devia € 12,5 milhões de impostos foi rebaixado este ano da D2 para D3). Através da relação dívida x receita, também, se estabelece, para cada um dos clubes, o teto de sua massa salarial para cada ano.

A maioria deles (fora Barcelona e Real) está agora dependendo das transferências, tentando vender mais jogadores do que compra — o que, evidentemente, afetará o nível técnico das equipes, sobretudo quando se desfazem dos melhores (que valem mais na venda e, ao sair, ajudam a baixar a massa salarial).

Por isso mesmo, quase todos os clubes abaixo do 4° lugar na Liga estão se contentando em recrutar jogadores emprestados ou livres (sem transferência, por terem chegado ao último ano de seu contrato, sem renovação), ou com transferências inferiores a 1 milhão de euros.

Em que outra atividade é permitido ter dívidas de 4,5 vezes a renda ? Sabe o que fariam os acionistas de uma empresa que chegasse a esse ponto (ou melhor, bem antes de chegar à esse ponto)? Nosso amigo Leonardo trabalhava num mundo de fantasia em que Berlusconi, no Milan, ou Nasser Al-Khelaïfi, no PSG, agitavam seu bastão mágico e “puff “, o dinheiro aparecia.

Quanto à lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, no Brasil, suponho que não acabará sendo uma “anistia” disfarçada, porque isto não resolverá o problema de boa gestão financeira: ao contrário, incentivará o “pouco caso”. E a nível de sanções, têm que ser do tipo de rebaixamento e/ou limitação da massa salarial — e serem respeitadas, sem recurso.

Seriado antigo

Alexandrina Ferreira dispara a maldade da hora na internet: 

— Para mim, Avaí 5.0 era um seriado de TV.

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