Por Gerson Nogueira
O futebol tem caprichos insondáveis, quase sempre guardando semelhança com a ficção mais deslavada. Esportes em geral têm essa capacidade de misturar acaso e realidade num mesmo caldeirão. Talvez por isso os americanos tenham conseguido fazer alguns filmes tão comoventes sobre beisebol e futebol americano, embalando-os naquela aura de idas e vindas, quedas e vitórias, erros e acertos, que só o cinemão é capaz de transformar em drama.
Há poucos dias, vi no jornal matéria com um jovem boleiro ganês que entrou de gaiato num navio e desembarcou por acaso na Argentina. Em pouco tempo, mostrou intimidade com a bola e foi levado às divisões de base do Boca Juniors. De refugiado, o garoto passou a ser aclamado como grande revelação. Olha o roteiro de cinema aí…
Pois a história vazou para a imprensa e Rayan Mahmud, aos 18 anos, já é quase uma celebridade em La Bombonera. Sua sofrida trajetória começou há três anos quando fugiu de Gana como clandestino num navio pesqueiro. Sua fuga teve origem na perda dos pais, assassinados em briga envolvendo etnias rivais.
Ele e o irmão mais velho acharam os corpos dos pais em casa quando voltaram da escola. Como desgraça pouca é bobagem, Rayan e o irmão foram separados definitivamente anos depois em meio a um ataque de guerrilheiros ao orfanato onde viviam.
Sem dinheiro e vivendo nas ruas, o jovem ganês resolveu fugir escondido nos porões de um navio, em Cape Coast. Sonhava em chegar à Europa, levando apenas uma pequena ração de farinha e uma garrafa com água. Por sorte, foi visto por um marinheiro, ganhou alimentos e conseguiu sobreviver até o destino final.
Ao contrário do que havia planejado, o navio foi parar em Rosario, onde ele perambulou pelas ruas até ser levado a um abrigo. Dias depois, foi encaminhado a Buenos Aires e ajudado por um grupo de senegaleses, que o levaram ao órgão de imigração.
Rayan ganhou oficialmente o status de refugiando e passou a morar num abrigo. Lá, mostrava qualidades como jogador. Esguio e rápido, destacava-se nas peladas de rua. A sorte veio de novo ao seu encontro através de um olheiro do Boca, que decidiu indicá-lo ao clube.
A partir daí, tudo ficou mais claro e o mundo logo tomou conhecimento da existência do garoto bom de bola. Aprovado nos testes, passou a treinar no sub-20 boquense, nas funções de meia de ligação e lateral direito. Por seus méritos, já é aconselhado a se naturalizar para tentar um lugar futuramente na seleção argentina.
E ainda há quem questione a verossimilhança de certos scripts elaborados por roteiristas de Hollywood…
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O capitão e o organizador
O Paissandu anunciou duas boas contratações, ontem. A primeira é a do meia Bruninho, que defendeu o Bragantino na Série B deste ano. Bom na organização de jogadas, é um jogador rápido e habilidoso. Tem tudo para formar dupla interessante com Júnior Xuxa, que está praticamente contratado.
A segunda aquisição é menos bombástica, mas igualmente importante. O clube decidiu renovar o contrato do volante Vânderson por seis meses. Havia a intenção de liberar o atleta, mas uma reavaliação corrigiu uma precipitação e garantiu ao time a permanência de seu capitão e jogador mais experiente.
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Messi encara as agruras da fama
Problemas envolvendo parentes de Lionel Messi e as próprias atividades de sua fundação beneficente, com suspeita de lavagem de dinheiro, mexem pela primeira vez com uma reputação absolutamente limpa no esporte mundial. De comportamento discreto, quase silencioso, Messi não é de dar muitas entrevistas, nem falar sobre sua vida pessoal.
O estrelato, porém, cobra um preço alto demais. Melhor do mundo há três temporadas, o atacante argentino entrou na mira da imprensa espanhola e deve passar 2014 tendo que dar explicações que fogem às diabruras que faz com a bola.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 21)