Por Elias Ribeiro Pinto – no DIÁRIO
1 Até o final do ano a Kombi deixa de ser fabricada. Mas para nós, tunantes, ela nunca deixará de circular – e habitar os corações cruzmaltinos – como o transporte símbolo da nossa torcida. Aliás, é a torcida que mais cresce no Brasil. Agora mesmo convenci o meu neto, de 8 meses, a torcer pela Gloriosa. Espero que ele não seja persuadido pelo pai, remista, a mudar essa decisão, de jurar fidelidade à bandeira tunante, que ele assumiu agora, numa idade madura, depois de ponderar e racionalizar os prós e contras. Com ele, éramos 10, passamos a ser 11. Crescimento, portanto, de 10%, de uma só tacada. A torcida que mais cresce no país.
2 A Volkswagen se viu obrigada a tirar a Kombi do mercado, já que o veículo precisaria passar por mudanças radicais para se encaixar nos novos padrões de segurança impostos pelo governo. O utilitário tem uma longa relação com o consumidor brasileiro, desde que começou a ser montado no país, há 56 anos. Mais que a relação de custo e benefício, passou a ter, a exemplo do Fusca, uma ligação afetiva com seus compradores.
3 Confesso que nunca me senti seguro andando de Kombi, ainda mais quando tínhamos de acompanhar a Tuna em seus jogos pela Libertadores. Até mesmo uma ida ali em Ananindeua para enfrentar o rival Fuzuê já me punha em estado de insegurança crônica, como temos hoje quando saímos às ruas de Belém. Andar de Kombi, principalmente no banco da frente, era como andar de moto com para-brisa.
4 Mas os momentos de maior risco que enfrentei no interior de uma Kombi, perigos por mim enfrentados com o destemor de um Ulisses diante de ciclopes, se deram quando, jovem repórter de A Província do Pará, eu entrava numa Kombi da empresa para mais um dia de trabalho.
5 Os motoristas da casa, imagino, consideravam que tinham de participar também do cotidiano dinâmico da reportagem com sua cota de cortadas, aceleradas, desvios, freadas bruscas e loucuras em geral cometidas ao volante de uma Kombi. Logo de uma Kombi. Era como se o chefe de reportagem, ao atirar o pobre do repórter (que, na verdade, acompanhava uma equipe de repórteres que se espremia ao longo da fileira de bancos, dividindo pautas) no veículo, gritasse, heroico, como um comandante de galés: “Parem as máquinas (de moer carne) até que todos retornem da missão jornalística”. O motorista certamente se considerava incluído nesse tour de force, nessa maratona jornalística que desafiava o tempo, a tempo de a notícia ou a entrevista sair na edição do dia seguinte. Era pé na tábua e que santo Assis Chateaubriand nos valha. O chefe, o Bandeira, quando me surpreendia com alguma entrevista ou reportagem inusitada na pauta, recomendava: não tem problema, no caminho vais pensando no assunto, preparando as perguntas. Como, naquela Kombi que mais parecia um liquidificador desvairado? Ninguém chegava ao destino impunemente. Não saíamos – éramos cuspidos, atirados, renovados na fé.
6 Por causa dessa presença do veículo no “imaginário” do país, a montadora informa que fará uma campanha de “deslançamento” da Kombi, na mídia e nas redes sociais, à guisa de celebração às avessas, de despedida, com a inserção de depoimentos de consumidores em peças publicitárias.
7 Pois que a Tuna, a sua nova diretoria, corra (não precisa ser como os motoras de jornal). Que além de incluir – como depoimento – a relação da nossa torcida com as dimensões agigantadas do utilitário, dê um jeito de adquirir um veículo, em condições facilitadas, com as cores da equipe. Seria uma atração. Não quiseram mangar com a multidão de cruzmaltinos dizendo que caberíamos numa Kombi? Pois vamos mostrar com quantos tunantes se faz uma Kombi, que numa Kombi cabe muito mais, até a história de uma nação (não só a tunante). Sem esquecer de um minuto de silêncio em homenagem às vítimas que tombaram – ou ficaram presas nas ferragens – na construção dessa história.
8 Ah, e um alô ao novo presidente da Tuna, Charles Tuma. Que tal – já que estamos falando de carros – retificar o nome (sem desmerecer sua família e o legado árabe), adotando-se como Charles Tuna? Pronto, o compromisso de reerguer o clube já começaria pelo nome, ou melhor, pelo sobrenome.
Muito bom o texto, mas nao concordo que a torcida caiba dentro de uma kombi. Paraense que se preze torce pela Tuna. O mais simpatico time do Pará! No fundo, no fundo, todo mundo torce pra Águia do Sousa. Até quem nao gosta de futebol quando se pergunta pra que time se torce no Pará e de bate-pronto sai a resposta: Sou Tuna! Pronto acabou-se a discussão! Sou Remista, de sangue azul por sinal, e torço muito pra nossa Tuna ressurgir e voltar umas das grandes forças do futebol do nosso glorioso estado do Pará.
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Resposta da Tuna as cartas de Paysandu e Remo?
Se for, foi a melhor de todas disparada.
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Como torcedor bígamo que sou, concordo com as observações do Andrey Felipe a respeito do tamanho da Tuna. Efetivamente muito maior do que parece, além de exemplar na hora da derrota e altiva nos momentos vitoriosos.
Estava no Souza, quando a Águia levou de 4×0 do Vitória da Bahia e viu desmoronar o sonho do bi da Segundona, assim como estava no Baenão quando a Águia também caiu de quatro diante do Campinense(PB), comandado pelo emergente Rodrigo Tabata, que depois brilhou no Santos.
Mas também estava no Mangueirão lotado acompanhando aquele empate com o Vasco, pela PRIMEIRONA, quando Roberto Dinamite abriu a contagem e Quaresma empatou no segundo tempo; e estava no zero a zero contra o São Paulo de Renato, Careca, Muller, Silas, Sidnei e outros cobras, diante de Jorginho de Castro, Ondino, Luís Carlos, Queiroz, Paulo Guilherme, naquele que talvez tenha sido um dos mais belos jogos que o nosso Colosso do Bengui já assistiu.
Nas vitórias e nas derrotas, ficava sempre aquele jeito de confraternização, de festa e de êxtase com o bom futebol. Talvez seja isso que nos falte no momento: que a Tuna faça um timaço e leve de volta o torcedor ao estádio com aquele ânimo de quem vai a um espetáculo deliciar-se, e não essa selvageria que reinventa tacapes, que abarrota hospitais e afasta cada vez mais o futebol da condição de lúdica disputa esportiva. Volta Águia!
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