Por Gerson Nogueira
Vou começar pelo último ato da festa azulina. Sobre o jogo há muito pouco a considerar. Nem tanto pelo escore de 0 a 0, mas pela crueza tática da partida e o baixíssimo nível de inspiração dos jogadores. Não que tenha faltado empenho, gana e competitividade. Pelo contrário, acho até que os times exageraram na dose de vontade. Em certos lances, parecia jogo valendo classificação ou taça. Sobrou transpiração, mas a inspiração passou longe do amistoso.
Remo e Londrina têm equipes do mesmo porte. Velozes, afobadas e pouco produtivas nos lances de ataque. O meio-de-campo remista ia bem até a entrada da área inimiga. Rodrigo, Ratinho e Teddy trocavam passes, construíam jogadas, mas na hora de definir sempre faltava alguma coisa. O Londrina fazia bons contra-ataques, mas falhava no último chute – tanto que o goleiro Fabiano não fez nenhuma defesa importante. Diante dessas impossibilidades técnicas, não podia mesmo haver vencedor.
Do ponto de vista das observações, aspecto mais relevante para o torcedor e para o técnico Charles Guerreiro, o Remo se comportou dentro do esperado, tomando por base os oito amistosos anteriores. Do time que começou o jogo é provável que apenas Fabiano, Alex Ruan e Jonathan permaneçam titulares quando janeiro chegar. No segundo tempo, Charles promoveu as estreias de Diogo Silva (discreto) e Rodrigo Fernandes (participativo). No final, o técnico considerou válidas as estreias.
Quanto à primeira parte do evento, mais voltada para o marketing, o resultado deve ser observado sob dois ângulos. O primeiro, a partir da reação inicial da torcida, foi negativo. O anúncio do nome de Eduardo Ramos, já no Mangueirão, minutos antes da descida do helicóptero, desapontou a quase unanimidade dos torcedores.
Quando o jogador desembarcou, ao lado do presidente Zeca Pirão, houve um instante de silêncio e em seguida as vaias surgiram, dirigidas muito mais à diretoria do que a Eduardo Ramos. O que poderia marcar o fiasco da Festa 33 foi contornado por um velho ídolo azulina. Agnaldo, que havia disputado amistoso com o Imprensa Show, falou pouco, mas mandou bem.
Ao discursar em nome dos antigos heróis do tabu de 33 jogos, observou que era importante apoiar o projeto que a atual diretoria está executando no clube e que a torcida devia receber com carinho o Camisa 33. Foi aplaudido – e compreendido. Quando Ramos, em seguida, pegou o microfone e se apresentou ao torcedor, a situação já estava amenizada e as vaias foram substituídas por aplausos.
No encerramento do evento, surgiram detalhes que explicam a mudança de planos da diretoria. Eduardo Ramos jamais foi pensado para ser o Camisa 33, até porque sua contratação não constituía surpresa. Nas últimas duas semanas, Pirão e seus diretores tentaram contratar um jogador que representasse impacto junto à torcida.
Herrera, Bruno Rangel e Leandrão eram os mais visados. Os dois primeiros foram supervalorizados por seus empresários, apresentando propostas muito acima das possibilidades financeiras do Remo. Leandrão acertou, mas não podia chegar a tempo da festa. Entre onerar ainda mais o pacote de contratações e encarar a frustração do torcedor, Pirão decidiu pela segunda hipótese.
———————————————————-
A escalação para a estreia
Pelas palavras dos dirigentes antes e depois do jogo, já é possível escalar o Remo para a estreia no Parazão contra o Cametá, no dia 13 de janeiro. Salvo mudanças de última hora, o novo Leão entrará com a seguinte formação: Fabiano; Diogo Silva, Max, Rogélio e Alex Ruan; Jonathan, Athos, Tiago Potiguar e Eduardo Ramos; Leandrão e Zé Soares.
———————————————————-
Projeto é maior que Camisa 33
Na Rádio Clube, ao ser entrevistado nos vestiários do Mangueirão, o diretor Tiago Passos sintetizou bem a realidade remista. Disse que o Camisa 33 é apenas parte de um projeto maior, posto em prática, ganhando as ruas e empolgando o torcedor. Foi pensado para tirar o Remo do fundo do poço e manter a esperança da torcida em alta. A escolha do jogador que simbolizasse esse momento pode não ter agradado a torcida, mas não invalida o ambicioso plano de reconstrução do clube.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 16)