Por Gerson Nogueira
Jogadores extenuados têm rendimento medíocre em campo. Não há lugar para o espetáculo se os artistas estão combalidos. O futebol brasileiro vive situação dramática quanto ao condicionamento dos atletas. A maratona a que são submetidos, com até quatro competições anuais e dois jogos semanais, impede que possam se apresentar tecnicamente em alto nível.
O problema é antigo, atravessa décadas já, mas pela primeira vez é enfrentado pelos operários da bola. Nos anos 50 e 60, quando o profissionalismo ainda engatinhava no país, o futebol brasileiro conquistou suas primeiras grandes glórias. Em 1970, veio o tricampeonato mundial. Ironicamente, a glória ajudou a perpetuar injustiças e semeou acomodação.
O fato auspicioso de agora, já comentado aqui há duas semanas, é a criação do movimento Bom Senso FC. Jogadores dos grandes clubes se mobilizam para combater decisões equivocadas tomadas pela cartolagem, preocupados com a qualidade do jogo. Por enquanto, o grupo se organiza de maneira pacífica, enumerando suas reivindicações e encaminhando à CBF. Não há confronto, por ora. Mas logo vai haver.
Tudo o que os atletas querem vai de encontro a interesses maiores. CBF, Globo, federações, investidores, patrocinadores e dirigentes de clubes não se importam em matar aos poucos a galinha dos ovos de ouro. Impõem calendário sufocante, horários absurdos da programação de jogos para a televisão e clubes administrados como feudos.
O manifesto elaborado pelos atletas serve para abrir o debate, mas as mudanças só serão alcançadas com atitudes firmes, com o fortalecimento da classe e a adesão da torcida e de outras instituições. O Bom Senso FC foi fundado em setembro em torno de uma reivindicação unânime: a reorganização do calendário de jogos. A rigor, ninguém é contra isso. O torcedor, acima de tudo e todos, deveria ser o principal interessado.
Talvez por isso mesmo, na rodada deste domingo do Brasileiro os líderes do movimento pretendem fazer uma manifestação para expressar publicamente a legitimidade e representatividade do Bom Senso. É algo bem simples, mas significativo. É um sinal que será dado aos torcedores e à opinião pública.
Sob a liderança de Rogério Ceni, Juninho Pernambucano, Seedorf, Alex, Paulo André e outros, o grupo já teria conquistado a adesão de 860 jogadores profissionais. Além de ajustar a programação de jogos, evitando que as datas da Copa estrangulem os campeonatos no próximo ano, o Bom Senso pretende instituir o fair play financeiro, com punição pesada para clubes e dirigentes caloteiros. Os tambores estão rufando, e isso é um bom sinal.
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Os humores de dona CBF
Pode não ser ilegal, mas é certamente injusta (e esquisita) a mudança arbitrária do critério de escolha de árbitros na Copa do Brasil Sub-20. Castigado por erros de arbitragem no primeiro jogo das quartas-de-final, realizado em Criciúma, o Remo foi surpreendido com a escalação de um apitador piauiense para a partida de volta, em Belém.
Até então, os trios de arbitragem eram sempre caseiros. Segundo a CBF, por medida de economia. De repente, no meio de uma decisão de fase, a entidade altera o esquema. Dirigentes do Remo espernearam, com razão, cobrando explicações para a medida. Até sexta-feira à noite, a entidade não explicou a mudança.
Na competição do ano passado, a CBF alterou o critério apenas uma vez. Foi no semifinal entre Santos e Bahia, que teve arbitragem do Rio Grande do Norte. Os outros casos de arbitragens de fora só aconteceram na decisão da Copa 2012, entre Atlético-MG e Vitória. Árbitros alagoanos e capixabas apitaram os dois jogos finais.
Do jeito como a coisa se desenha fica de novo exposta a debilidade política do Pará junto à CBF, cujos humores quase sempre estão em descompasso com os interesses dos clubes locais. Não foi a primeira vez e, infelizmente, não será a última.
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Além da queda, o coice
Depois do vergonhoso show das gangues arruaceiras na sexta-feira à noite, na sequência da derrota para o Avaí, o Paissandu deve ir se preparando para sanções draconianas. O STJD tem sido rigoroso até com clubes medalhados da Série A, como Corinthians e Vasco. Além disso, as imagens foram transmitidas para todo o país, com ampla veiculação nos programas esportivos de sábado.
A quase certa perda de mando terá pelo menos uma utilidade prática: vai servir para que o clube repense a utilização da Curuzu para partidas de grande porte. Ficou mais uma vez evidenciada a completa falta de segurança no estádio para torcedores, atletas, profissionais de imprensa e até para os militares, que não escondiam o receio de um enfrentamento com os baderneiros.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 20)