Marina se rende à “velha política”

Por Ricardo Kotscho

Estava na cara que ela não ficaria fora do jogo. Até o governo Dilma já contava com a candidatura presidencial de Marina Silva, como escrevi aqui mesmo nesta quinta-feira na coluna “Planalto conta com Marina candidata mesmo sem Rede”.
O que ninguém esperava é que a ex-senadora se oferecesse para ser vice de Eduardo Campos, do PSB, o candidato dissidente da base aliada do governo, como ela comunicou aos seus seguidores, reproduzindo o que dissera a ele, ao final de uma reunião que terminou com muito choro de marináticos na madrugada de sábado em Brasília.
– Eduardo, você está preparado para ser presidente do Brasil? Eu vou ser a sua vice e estou indo para o PSB.
Com esta decisão, anunciada por telefone ao governador de Pernambuco, que há poucos dias rompeu com o governo e tirou seus ministros, acabava o teatro de suspense montado por Marina para anunciar seu destino, depois que o Tribunal Superior Eleitoral rejeitou o registro da Rede Solidariedade, o nome de fantasia do partido que pretendia criar desde o seu rompimento com o PV, quando lançou o movimento “Nova Política”. Nova?
Para tristeza dos seus “sonháticos”, que acreditaram na pregação da missionária mística sobre a falência do antigo sistema de representação, Marina se rendeu à “Velha Política”, aceitando o jogo como ele é nada vida real, com o único objetivo de derrotar Dilma e o PT, que ela agora acusa de “chavismo”, depois de ter sido ministra de Lula nos seus dois mandatos.
Falaram mais alto os interesses dos seus sponsors, os grandes grupos econômicos que investiram nela para a criação do novo partido criado para que Marina pudesse ser candidata a presidente, e não queriam que ela agora, em nome da coerência, simplesmente jogasse a toalha, deixando o caminho livre para a reeleição de Dilma. Marina pode ser acusada de tudo, menos de rasgar votos e se entregar à coerência aos seus princípios.
Daqui a pouco, Eduardo e Marina vão anunciar oficialmente a chapa da “Coligação Democrática”, como batizaram a chamada terceira via, tão esperada pelo establishment financeiro-midiático para pelo menos provocar um segundo turno em 2014 e acabar com a hegemonia petista no governo central.
Por ironia do destino, dois políticos historicamente ligados a Lula e ao PT formaram uma chapa forte que surge forte para enfrentar Dilma e Lula, deixando os tucanos Aécio e Serra comendo poeira na sua eterna crise existencial. Podemos não ter Fla-Flu entre PT e PSDB desta vez, como tudo parecia indicar.
Com um cacife de quase 20 milhões de votos nas últimas eleições e o segundo lugar nas pesquisas para 2014, variando entre 16 e 25% das intenções de voto, Marina aceitou disputar a eleição como vice de Eduardo Campos, o quarto colocado, que não consegue passar dos 5%, porque ainda é mais confortável ocupar o Palácio do Jaburú para continuar costurando sua Rede, do que voltar para o Acre de mãos abanando, sem partido, sem cargo e sem mandato. Mais adiante, afinal, as pesquisas poderão até determinar uma inversão dos nomes na chapa.
Deixando os marináticos fundamentalistas e a poesia de lado, Marina fez a escolha certa: ao optar por Eduardo Campos e deixar Roberto Freire chupando o dedo, com seu nanico PPS já rejeitado até por José Serra, a ex-ministra, que de boba não tem nada, aliou-se àquele que considero o mais preparado político brasileiro da geração pós-68. Foi uma jogada de mestre dos dois.
É jogo jogado. O resto é filosofia.

7 comentários em “Marina se rende à “velha política”

  1. Rsrsrsrs Amigo Gerson, eu diria descrença! Bom, mas, vamos lá… À toda evidência não há confusão. Antes, o que afirmei resiste a qualquer teste de racionalidade, por mais rigoroso que possa ser. Aliás, eu que sei de sua perspicácia, poderia lhe dizer que não deixasse suas inclinações impedi-lo de perceber o quanto o texto da postagem que ora comentamos, PARECE com os textos azevedianos. Todavia, não vou lhe dizer, prefiro lhe mostrar:

    “EU ESTAVA CERTO. ESCREVI AQUI NESTA SEXTA QUE MARINA DAVA PISTAS de que estava articulando a sua candidatura” RA .

    “ESTAVA NA CARA QUE ELA NÃO FICARIA FORA DO JOGO. Até o governo Dilma já contava com a candidatura presidencial de Marina Silva, COMO ESCREVI AQUI NESTA QUINTA-FEIRA na coluna “Planalto conta com Marina candidata mesmo sem Rede”. K

    “A turma da Rede É, SIM, CAPAZ DE PENSAR COISAS EXÓTICAS. A questão é saber SE O PPS, QUE É PEQUENO, MAS DOTADO DE GRANDE VALENTIA, VAI SE SUBMETER. O que se noticia CARACTERIZA UMA ESPÉCIE DE INVASÃO”. R A

    “O QUE NINGUÉM ESPERAVA É QUE A EX-SENADORA SE OFERECESSE PARA SER VICE DE EDUARDO CAMPOSO DO PSB, o candidato dissidente da base aliada do governo, como ela comunicou aos seus seguidores, reproduzindo o que dissera a ele, ao final de uma reunião que terminou com muito choro de marináticos na madrugada de sábado em Brasília”. K

    “2 – Empresários que estão no “projeto” querem candidatura
    Marina, como a gente sabe, se apresenta como a política mais independente do Brasil, mas ela é deste planeta, não de outro (ainda que alguns duvidem disso). A reportagem diz que o vereador empresário Ricardo Young, do PPS de São Paulo, fez chegar a ela a informação de que o, digamos, núcleo empresarial da Rede quer a candidatura por outra sigla. Pensam assim, além de Young, Guilherme Leal, da Natura, e executivos do Banco Itaú. Informa a reportagem: “Foi dito a ela que não seria possível abandonar um projeto que contou com tantos apoios, inclusive financeiro, na sua trajetória para criar a Rede.” Entendi.” R A

    “Para tristeza dos seus “sonháticos”, que acreditaram na pregação da missionária mística sobre a falência do antigo sistema de representação, Marina se rendeu à “Velha Política”, aceitando o jogo como ele é nada vida real, com o único objetivo de derrotar Dilma e o PT, que ela agora acusa de “chavismo”, depois de ter sido ministra de Lula nos seus dois mandatos”. K

    “ – Rede dividida entre “sonháticos” e pragmáticos
    Houve mais motivos para hesitação: os marineiros mesmo, os de fé, são contra a candidatura por outra legenda. Além do núcleo financeiro, políticos profissionais, oriundos de outros partidos, querem a candidatura — afinal, eles próprios podem ficar em situação difícil. Está nesse grupo Alfredo Sirkis (PV), Miro Teixeira (ex-PDT) e Walter Feldman (ex-PSDB). Ocorre que o que confere mística à Rede é essa outra militância”. RA

    “Deixando os marináticos fundamentalistas e a poesia de lado, Marina fez a escolha certa: ao optar por Eduardo Campos e deixar Roberto Freire chupando o dedo, com seu nanico PPS já rejeitado até por José Serra, a ex-ministra, que de boba não tem nada, aliou-se àquele que considero o mais preparado político brasileiro da geração pós-68. Foi uma jogada de mestre dos dois.
    É jogo jogado. O resto é filosofia.” K

    Pois bem, aí estão apenas dois curtos exemplos de toda uma longa torrente de semelhança que há entre os textos dos referidos articulistas. O que não é de se estranhar, eis que ambos atuam como porta-voz de um modo de governar único que há muitos anos, muitos mesmo, apenas se alterna no que respeita aos governantes da hora.

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    1. Amigo Oliveira, refiro-me a história e origem. Kotscho é um velho repórter, forjado no acompanhamento da vida de brasileiros nem sempre ouvidos. É um grande jornalista, não posso compará-lo a um reles caluniador como Azevedo. Se essa diferença não é visível pra você, tudo bem.

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  2. Mas, meu amigo, não sou eu que comparo o jornalista petista com o outro. É ele próprio quem se compara, escrevendo o que escreve. É ele mesmo quem “desenobrece” o seu próprio passado destilando o mesmo preconceito, o mesmo repúdio, o mesmo temor, e o mesmo temor escrito pelo outro, relativamente à democrática escolha da ex-verde. Eu apenas leio o que ambos produzem e constato a semelhança irrefutável tanto na postura, quanto no estilo, quanto no objetivo. E creia, não faço esta constatação com gosto, eis que não faz muito, mais do que simplesmente ler, eu por muito tempo me abeberei nos escritos do jornalista petista.

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  3. Dizer que foi uma atitude acertada de Marina ao sair como vice é, no mínimo, falta de visão estratégica no campo político. Ela perdeu a grande chance de se eleger presidente.

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