Rush, a força de uma rivalidade

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Por André Barcinski

Não tenho nenhum interesse por carros. Zero. Acho que o mundo seria um lugar melhor se cada trinta automóveis fossem substituídos por um ônibus. Também acho Ron Howard um dos piores diretores de cinema dos últimos 30 anos. Certamente o pior, na relação ruindade/prestígio. Um filme sobre corridas de carro dirigido por Ron Howard, portanto, deveria ser o programa de índio do século. Mas até que “Rush – No Limite da Emoção” surpreendeu. Continuo abominando qualquer coisa relativa a carros e a Ron Howard, mas me diverti com o filme.

Para quem não sabe, “Rush” conta a história da rivalidade entre o austríaco Niki Lauda e o inglês James Hunt. Em 1976, os dois protagonizaram um dos duelos mais acirrados da história da Fórmula 1, decidido na última prova, no Japão (na verdade, o duelo só foi tão acirrado porque Lauda havia sofrido um pavoroso acidente e ficara de fora por várias corridas).

james-hunt-com-sua-mulher-suzi-miller-durante-o-gp-da-inglaterra-de-1974-em-brands-hatch-1287497580139_615x300Lauda era um “nerd” perfeccionista que não mexia um dedo sem analisar minuciosamente as conseqüências. Hunt era um beberrão mulherengo que agia por impulso. Se acreditarmos nos tablóides britânicos, Hunt dormiu com cinco mil mulheres e levou para a cama nada menos de 33 comissárias de bordo da British Airways nos dias antes da prova final de 1976. Era um rockstar das pistas.

Segundo especialistas em Fórmula 1, “Rush” tomou algumas liberdades poéticas: Lauda e Hunt não eram tão inimigos assim – chegaram a morar juntos uma época – e algumas sequências do filme foram “adaptadas” para realçar o drama e a rivalidade. De qualquer forma, o filme fala de uma era em que a Fórmula 1 ainda trazia personagens interessantes. A exemplo do boxe, que sempre teve lutadores carismáticos, mas que nos últimos anos tem sofrido com a falta de ídolos, a Fórmula 1 parece passar por uma crise de personalidade.

Voltando ao filme: “Rush” é mais um exemplo do cinemão careta de Ron Howard: música agitada nas partes agitadas, música melosa nas –muitas – cenas melosas, roteiro feito para ser compreendido por crianças de cinco anos, diálogos obtusos que não deixam margem a interpretação (“James, você é um louco!”; “Niki, você é um chato!”). Quando um corredor aparece pensando no outro, Howard dá um close na cara do pensativo e superimpõe imagens do rival, exatamente como novelas de época da Globo.

Há uma cena que merecia ser estudada em escolas de cinema, para ensinar aos alunos os perigos da pieguice: a que mostra Lauda no hospital, se recuperando do acidente, com um tubo de meio metro enfiado na garganta para limpar os pulmões, enquanto chora vendo James Hunt ganhar uma corrida na TV. Sorvete na testa é pouco. Mas nem Ron Howard consegue estragar personagens tão bons quanto Niki Lauda e James Hunt. Agora, imagine esse filme na mão de Michael Mann…

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