Nem tudo que reluz é craque

Por Gerson Nogueira

Apesar do assombroso poderio mercadológico, o negócio futebol ainda engatinha quanto à avaliação qualitativa de seu produto mais valioso: o atleta. Esta dificuldade tem raiz na própria natureza do esporte, onde nem sempre quem tem mais exposição no noticiário é exatamente quem vale mais. Aprende-se, de maneira primária até, a dar evidência aos artilheiros, pois são os grandes responsáveis pelas vitórias e, por tabela, pela lotação dos estádios.

Acontece que outras posições são tão importantes para o êxito de um time quanto a do goleador. Não é raro também que goleiros, defensores, alas e meio-campistas tenham mais valor de venda do que um atacante de ofício. A distribuição dos jogadores em campo é cada vez mais refém da qualificação técnica. Vai daí que é possível ver equipes que não dependem de atacantes fixos.

O Barcelona, merecidamente apontado como o time da década, não tem na escalação a figura do homem de área. A rigor, não tem esse tipo de jogador, embora ao longo de um jogo possa povoar a área inimiga com até cinco, seis de seus jogadores.

Lionel Messi, o supercraque do momento, trafega por uma faixa de gramado cada vez mais extensa. Não é o único. Cristiano Ronaldo, quase tão bom quanto ele, também mostra fôlego para percorrer quilômetros durante uma partida. Fazem muitos gols, mas não necessitam estar perto das traves adversárias para fazer isso.

Quase sempre, Messi esmera-se em rondar a área, fixa-se pelos lados do campo até o instante de dar o bote, quase sempre arrancando na diagonal para superar marcadores e desfechar o tiro definitivo. Em outros momentos, surge em meio aos zagueiros e resolve a parada com um simples toque. O português do Real Madri é mais atlético e gosta mais do choque, sendo mais frequente sua presença como homem de área.

Não surpreende que no futebol disputadíssimo e de alto nível que a Europa exibe hoje alguns brasileiros sejam coadjuvantes, embora especialistas na posição que mais glórias deu ao Brasil. No Milan, um dos raros clubes de ponta a apreciar o estilo brazuca de jogar, Robinho e Alexandre Pato têm prestígio com a torcida, mas têm resultados recentes dignos de boleiros de segunda linha.

Quando surgiu a notícia de que clubes brasileiros tinham interesse em repatriá-los veio à tona o descompasso entre o preço de mercado e a realidade de campo, a que me referi lá no começo. Pato tem preço em torno de R$ 45 milhões e Robinho é cotado pela metade disso. São valores até módicos para atletas em atividade nos grandes da Europa, mas constituem tremendo exagero diante da baixa produção atual de ambos.

Apesar de jovens, Pato e Robinho têm vasto histórico de lesões, passam muito tempo parados e quando reaparecem não se notabilizam por gols ou atuações decisivas. Pato, desde 2011, jogou somente 25 vezes e marcou meia dúzia de gols. Robinho tem retrospecto proporcionalmente igual: atuou 53 vezes nesse período, anotando 11 vezes. Ainda assim, o carente futebol nacional vive a valorizar esse gênero de jogador, sendo capaz até de desembolsos insanos para “reforçar” seus times.

O caso mais recente é o de Renato Augusto, meia de discretíssima participação no Campeonato Alemão e que já era discreto quando defendia o Flamengo. Corinthians e alguns outros grandes se assanham para contar com ele.

Além de expressar a ausência de critérios de valoração no comércio boleiro, a tendência de repatriamento confirma a entressafra brasileira, principalmente nas funções de criação e finalização.

E assim caminha a humanidade.

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Clubes vacilam, raposas agem

Das mais oportunas a matéria do repórter Taion Almeida, publicada pelo caderno Bola de domingo, sobre as raposas que rondam as divisões dos clubes paraenses. Paissandu, Remo e Tuna são alvos frequentes dessa prática predatória, que às vezes é defendida sob o argumento de que beneficia os atletas. Nada mais enganoso, porém.

Na maioria das vezes, a deficiente estrutura de formação dos clubes é substituída por contratos picaretas que lesam jogadores jovens, muitas vezes com endosso da própria família. A legislação esportiva, que se pretendia libertadora para os boleiros, tornou-se uma cerca baixa para a ação de espertalhões, cada vez mais ávidos em faturar alto com a ignorância das pessoas.

Cabe dizer que nada disso absolve os clubes, cujas categorias de base são um convite para a ação de investidores, procuradores e empresários. Há quem fale em amadorismo, mas infelizmente há também a suspeita de conivência de alguns dirigentes.

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Recesso de dez dias

A bola já parou de rolar, pelo menos a sério, e a coluna também entra em ligeiro recesso pelos próximos dez dias – volta, se Deus quiser, no dia 6 de janeiro de 2013. Deixo aqui votos de feliz Natal e boas festas para os habituais 27 baluartes e simpatizantes sazonais. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda e terça, 24 e 25)

29 comentários em “Nem tudo que reluz é craque

  1. Gerson, feliz natal e um próspero ano novo, que você volte em 2013 com muito mais energia e com muito mais inspiraçao para escrever seus ótimos textos.

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  2. Natal Feliz para vc e sua familia, camarada Gerson. Aos companheiros do blog, não esquecer do aniversariante do dia, pois ele é o maior de todos….Paz, saude e felicidades….

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  3. O mundo nao acabou, sabe porque? Por que o menino Jesus quer comemorar mais um aniversario com todos nos, parabens! Feliz Natal! a todos do blog, hoje e dia de renovar a esperanca, perdoar e amar nosso proximo. Ao amigo Gerson e sua familia meus sinceros votos de um abencoado natal.

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  4. Feliz Natal a todos os amigos do blog!
    Que Deus abençoe á todos independente de credo Religioso, paz,saúde,alegria e muito mais…
    Gerson, que DEUS contínue dando Sabedoria a vc para continuarmos os Debates aqui no point esportivo. Feliz Natal Gersão saiba que o adimiro Muito!

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  5. Amigo Gerson, mesmo atrasado desejo a vc e toda família um feliz natal e muita prosperidade em 2013. Que vc continue este trabalho maravilhoso e competente no jornalismo esportivo. E estarei aqui visitando diariamente este blog tão importante para quem gosta de esporte e outras noticias. FELIZ NATAL!

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  6. Bom dia Gerson. Feliz Ano Novo e espero e desejo um 2013 cheio de progresso em todos os sentidos.Que continues com muita saúde e q possas prosseguir sempre firme no comando dessa preciosa Coluna. ! Um grande abraço. Sobre o comentário em apreço,simplifico dizendo que,para haver esperto,tem que existir Otário !

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    1. Feliz Natal, amigo Manoel. E, pelas contas de Nelson Rodrigues, nasce um otário por minuto. Imagino que esses números devem ter aumentado bastante nos últimos tempos, principalmente no futebol.

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