Por Gerson Nogueira
A diferença entre o execrado “lazaronês” da década de 90 e o tolerado “titês” da atualidade é basicamente o sucesso de um contra os azares do outro. O carioca Sebastião Lazaroni, cuja curta passagem pela Seleção Brasileira coincidiu desgraçadamente com o auge da dupla portenha Maradona-Caniggia em 1990, virou sinônimo de um momento infeliz do futebol nacional.
Lazaroni (ao lado de Dunga) foi a maior vítima daquele mau passo em campos italianos. Por conta disso, suas frases confusas se transformaram em piada e sobreviveram ao próprio autor, sobre quem pouco se ouviu falar depois daquela Copa. Não se sabe por onde o velho Laza anda, mas suas sentenças lapidares, como “galgando parâmetros”, estão irremediavelmente registradas para a posteridade.
No outro extremo, o verborrágico Tite, campeão brasileiro e da Libertadores pelo Corinthians, saboreia lua-de-mel tão intensa com a torcida (e mídia) que desfruta de surpreendente tolerância ao seu pensamento recheado de frases desconexas, adjetivos e hipérboles em profusão. É, por assim dizer, um Lazaroni repaginado e com concordância verbal mais caprichada.
Como o Timão tornou-se uma máquina vitoriosa nos últimos dois anos, todo e qualquer excesso é permitido e até o besteirol do treinador é aceito sem problemas. Em certas entrevistas, é até divertido observar o ar de suprema sapiência de Tite ao desfiar conceitos sem pé nem cabeça.
A sério, o técnico é capaz de disparar frases como “imposição de corpos na marcação”, “maleabilidade dos alas” e “previsibilidade do erro”. Ou, ainda, a incrível reflexão “olha para dentro de ti mesmo e procure fazer o melhor”, espécie de elo perdido entre a neurolinguística e mensagens catequistas.
Mais hilária, porém, é a postura devotada e quase aduladora de repórteres, narradores e analistas, muitos dos quais implacáveis com Sebastião Rolando-Lero Lazaroni há 20 anos. No fundo, a situação revela que não há nada como a vitória – ou a simples possibilidade de – para fazer com que a tolerância (ou sabujice) humana se revele em todo esplendor.
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A primeira grande contratação
O Paissandu apresentou, em entrevista coletiva, ontem à tarde, seu novo gerente executivo de Futebol. Trata-se de Oscar Yamato, de 54 anos, com ampla experiência na área. Depois de tentar (sem sucesso) trazer Gustavo Mendes, os novos dirigentes do Papão chegaram a Yamato a partir de boas referências obtidas junto a clubes do Sul e Sudeste. Na prática, o gerente é o primeiro grande reforço para 2013.
Um aspecto particular encantou a diretoria do Paissandu: Yamato tem como especialidade o gerenciamento do processo de integração de futebol profissional com formação de base. Trabalhou no Matsubara, Maringá, Coritiba, Atlético-PR e Vitória.
Yamato foi o primeiro executivo do futebol a pensar e executar um projeto de centro de treinamento no Brasil, justamente no Matsubara, nos anos 70. Por essa época, CT era uma sigla ainda desconhecida por aqui. Durante esse período, dedicou-se também a prospectar talentos em todo o país. Do futebol paraense, levou para o Sul atletas do nível de Oberdan Benedelack, Mirandinha e Guilherme.
Sem dúvida, um golaço da gestão Vandick, que deve se refletir em bons resultados mais à frente. Para que esse investimento na profissionalização gere frutos é importante que o torcedor tenha a devida compreensão do processo. O Paissandu – e o futebol do Pará – passará por uma mudança de cultura, o que muitas vezes leva algum tempo e gera desconfianças e rejeições. Ocorre que não há outro caminho para o sucesso.
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Falando a mesma língua
O episódio da segunda “fuga” do lateral Tiago Cametá – desta vez, a caminho da Ponte Preta – serviu pelo menos para mostrar que a nova administração do Remo pretende trilhar caminhos mais sensatos. O vice Zeca Pirão, em entrevista à Rádio Clube, foi peremptório (ave, Valdo Sousa!): toda e qualquer medida a ser tomada em relação ao jogador terá que ser avalizada pelo Departamento Jurídico. Simples.
É bom lembrar que, até recentemente, o responsável pelo setor jurídico do clube, Ronaldo Passarinho, queixava-se justamente desse menosprezo por parte dos dirigentes. Só o procuravam para apagar incêndios, quando já não havia muito a fazer. O caso Mendes é simbólico dessa inversão de valores.
Quanto a Tiago Cametá, que tem contrato até fevereiro de 2013 com o Remo, o mais provável é que seja acionado judicialmente por quebra de contrato. O clube que o contratar – no caso, a Ponte – irá arcar com as consequências do imbróglio.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 15)