Por Gerson Nogueira
A estreia do Corinthians no Mundial de Clubes, ontem, impressionou pelo sofrível nível técnico dos dois times e do próprio torneio. Apesar de reunir campeões dos continentes mais importantes do mapa da bola, a competição junta alguns emergentes inexpressivos em função dos arranjos políticos da Fifa. Perde-se a chance preciosa de ter um encerramento de temporada de alto padrão, reunindo grandes times. A participação de campeões e vices da Europa e da América do Sul seria uma boa maneira de qualificar a disputa.
Por enquanto, porém, o Mundial tem esse formato arcaico, atentando contra a qualidade do futebol. Um bom retrato disso foi o que se viu na vitória corintiana sobre o Al Ahly, um time esforçado, mas inocente. Mesmo diante de falhas clamorosas de marcação da defesa do Corinthians, o time egípcio não teve talento para aproveitar. Cercava a área, mas era incapaz de aprofundar as jogadas.
Graças a essa disparidade técnica, o Corinthians escapou de um vexame. Nervoso ao extremo, o time brasileiro não conseguiu nem reproduzir sua forma tradicional de jogo, com pressão na saída de bola dos adversários e pegada forte no meio-de-campo. Confuso na articulação, dependendo dos lampejos de Douglas, custou a se assentar em campo. O peso da responsabilidade parecia excessivo, mas tudo clareou com o gol de Guerrero, após belo cruzamento de Douglas.
Ocorre que a vantagem mínima não tranquilizou os comandados de Tite, que permitiram o crescimento do Al Ahly no segundo tempo. Com direito a alguns sustos. Há quem afirme que jogar contra time ruim é muito mais complicado. Entendo que bons times jogam contra qualquer adversário.
Faltou ao Corinthians a superioridade que um campeão de Libertadores deveria mostrar. A explicação talvez esteja na velha dificuldade que uma equipe essencialmente marcadora tem para superar um oponente que fica na espera. A tal ansiedade da estreia, tão lembrada pela crônica paulista, não tem como ser levada a sério, pois o Corinthians rendeu mais nos primeiros 45 minutos, caindo de produção drasticamente no período final.
Sem Emerson na forma ideal, o Corinthians não tinha avanços pela direita do ataque, um ponto forte do esquema que levou à conquista da Libertadores. Guerrero, o homem de área, não tem a mobilidade que o jogo de velocidade exige e os volantes Ralf e Paulinho fizeram apenas o que volantes brasileiros costumam fazer: marcar muito e passar mal.
Para a final, contra mexicanos ou ingleses (que se enfrentam hoje cedo), será preciso corrigir fundamentalmente a transição do jogo. Sem bom passe e com saída lenta, qualquer adversário será forte obstáculo para a realização corintiano de conquistar o mundo.
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São Paulo volta à ribalta
O jogo terminou de forma vergonhosa, com brigas provocadas em campo pelos jogadores do Tigre e fora de campo contando com o auxílio de seguranças do São Paulo. Na bola, bastou um tempo para o São Paulo conquistar a Copa Sul-Americana, ontem, sobre o Tigre. O resultado se definiu antes dos 30 minutos, com gols de Lucas e Osvaldo.
Com três atacantes e a aproximação de Jadson, Ney Franco botou o time no ataque, consciente de que no Morumbi o São Paulo teria que impor seu jogo. E impôs, com categoria e organização. Em nenhum instante, o Tigre se mostrou um adversário capaz de equilibrar a decisão. O resultado final, confirmado pela Conmebol, fez justiça ao único time que jogou futebol.
Quando o placar chegou a 2 a 0, evidenciando que não acreditavam nas próprias forças, os argentinos passaram a distribuir pontapés e a provocar preferencialmente o atacante Lucas. Como ele não reagia, foi pressionado até na saída de campo. O árbitro chileno optou pela omissão, deixando o jogo (e a pancadaria) correr solto. Pela covardia, foi o principal responsável pela confusão que levou à suspensão da partida.
A confusão se estendeu aos vestiários, sem que as informações – dos argentinos e da Polícia de S. Paulo – pudessem ser confirmadas. Os visitantes alegam que foram agredidos por policiais e seguranças do São Paulo. No Campeonato Brasileiro de 1981, ocorreu episódio semelhante com o Botafogo de Mendonça, Rocha e Ziza.
Registre-se, quanto à cobertura das emissoras, que a Fox Sports ainda buscou ouvir as partes envolvidas na confusão, enquanto as demais emissoras preferiram se concentrar na festa são-paulina. São maneiras diferentes de fazer jornalismo, embora só exista uma forma certa: a da informação séria e precisamente apurada.
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Reforço para o ataque
A anunciada contratação de Leandro Cearense representa um importante reforço para o elenco remista que vai disputar o Campeonato Paraense. Artilheiro do torneio há dois anos, Leandro não repetiu a boa fase na passagem por outros clubes, mas é um atacante técnico e que pode formar boa dupla com Branco.
Com a especulada aquisição de Bismarck (ex-Guarani de Sobral), o técnico Flávio Araújo começa a dispor de mais qualidade nas opções para o ataque e o setor de armação. O principal desafio, porém, continua de pé: entrosar e dar liga a um time antes da estreia, prevista para o dia 14 de janeiro. É uma luta contra o relógio.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 13)