Por Gerson Nogueira
Há oito anos, num evento realizado em Ananindeua, tive a oportunidade de conversar demoradamente com Vandick Lima, que expressou na ocasião a vontade de um dia assumir a presidência do Paissandu. Antecipava sua preocupação com os problemas que o time, à época ainda na Série B, já vinha esboçando.
Na conversa, Vandick antecipou detalhes de seus planos para mudar os destinos do clube. O projeto parecia distante, mas o tempo veio confirmar o agravamento da situação do Paissandu e a concretização do sonho do ex-artilheiro. É quase certo que uma coisa está diretamente atrelada à outra, tamanho o grau de insatisfação de torcedores e sócios com a gestão que termina neste mês.
É fato, também, que a vitória de Vandick foi possibilitada pela mudança nos estatutos que permitiu a eleição direta no clube. No sistema indireto vigente até a eleição passada dificilmente um candidato oposicionista lograria êxito na disputa – fato que não ocorria há 38 anos.
A partir de janeiro, porém, o presidente deixa a fase do encantamento e do estilingue para se defrontar com a realidade e a condição de vidraça. Os afagos da torcida, empolgada com o novo, têm prazo de validade. Acostumado à política partidária, o ex-jogador sabe que não pode decepcionar seus eleitores e apoiadores.
Pelo que deixou claro na campanha, o Paissandu sob seu comando vai ingressar no profissionalismo. Será uma ruptura importante com a secular tradição de apadrinhamentos e indicações de correligionários. O futebol profissional será administrado por um executivo contratado, com autonomia para contratações.
E o que não pode haver, a partir de agora, é a enxurrada de “reforços” própria do modelo anterior. Mais do que nunca, para a disputa da Série B, será necessário ter critério e capacidade de encontrar bons jogadores.
Ao mesmo tempo, a partir da plataforma eleitoral, a torcida vai esperar (e cobrar) a construção do centro de treinamento. Segundo Vandick, o terreno já está assegurado, cedido em comodato por um grupo empresarial de Belém. Não precisa haver pressa, mas não pode haver esquecimento.
Na prática, a receita em curso para toda eleição está de pé no Paissandu: quanto maior a expectativa, maior o risco de decepção. O dado positivo é que Vandick sabe bem o que isso significa.
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Em defesa do mata-mata
A propósito da coluna de ontem, que versou sobre a chatice crônica do Campeonato Brasileiro no sistema de pontos corridos, o leitor Carlos Eduardo Lira, um dos 18 baluartes, apresenta uma alternativa para o atual sistema de pontos corridos do Campeonato Brasileiro.
“Os times brasileiros tornaram-se times de resultados. Por consequência, estes times abrirão mão de produzir novos talentos, como o time endiabrado do Santos de Robinho e Diego, que surpreendeu o Brasil. Em síntese, arrisco-me a dizer que, talvez nos dias de hoje, o Brasil tenha os times de futebol mais maquiavélicos do futebol mundial, já que não interessam os meios, pois importantes são os fins”, analisa.
Por essa razão, Lira defende a adoção de um Brasileiro dividido em quatro Conferências (Norte-Centro-Oeste, Nordeste, Sul e Sudeste), com regras bem definidas: turno e returno, pontos corridos, classificando para uma segunda fase, de mata-mata. A partir daí, se enfrentariam o campeão e o vice da Conferência Norte/Centro-Oeste, do primeiro ao sexto colocado da Conferência Sudeste; do primeiro ao quarto da Conferência Sul; e do primeiro ao quarto da Conferência Nordeste.
“A etapa mata-mata seria definida em melhor de 3 jogos, com vantagem dos primeiros colocados jogar dois jogos em casa. Cada mata-mata definiria a vantagem de fazer os dois jogos em casa, ou seja, o time que tiver o melhor retrospecto no mata-mata vigente ganha o direito de jogar os dois jogos em casa.
“Penso que esta seria a fórmula mais justa e seletiva de um Campeonato Brasileiro, já que desenvolveria o futebol em todo o país. Sou tão contra os pontos corridos porque o Brasil não tem o tamanho da Espanha, da Alemanha e da Inglaterra. O Brasil é do tamanho dos EUA. Talvez tenhamos que aprender com os americanos”, arremata.
A fórmula, de fato, levaria a campeonatos mais competitivos e emocionantes, embora não necessariamente justos, levando em conta a crença atual.
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Fracassa a tentativa de composição
O Remo se prepara para a escolha do novo presidente e, depois do programa Bola na Torre de domingo, chegou a ser costurada a hipótese de uma composição de chapas. Sérgio Cabeça permaneceria à frente, mas Roberto Macedo entraria como vice-presidente, ficando Zeca Pirão como o vice de Futebol.
Vários emissários ilustres trabalharam por esse acordo, que serviria para pacificar o clube, mas alguns detalhes terminaram por impedir a concretização da chapa única. A única certeza é quanto à aclamação de Manoel Ribeiro para o Conselho Deliberativo. Rafael Levy presidirá o processo eleitoral.
E, depois de várias informações desencontradas, a diretoria também confirmou que o colégio eleitoral para o pleito de quinta-feira (6) terá 142 votantes. São 100 conselheiros, 26 beneméritos, 10 grandes beneméritos, quatro ex-presidentes e dois ex-presidentes do Condel. Apesar da grande mobilização de Macedo e seus aliados na reta final, Cabeça é o favorito.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 04)