Por Gerson Nogueira
Surgiu ontem um facho de luz no fim do túnel em meio aos escombros da eliminação remista na Série D. O presidente Sérgio Cabeça anunciou a intenção de deixar o cargo no final de outubro, a fim de permitir que o futuro presidente do clube possa começar mais cedo o trabalho de preparação e planejamento para a próxima temporada.
Parece pouca coisa, mas, comparado a atitudes de dirigentes que tentaram se agarrar ao cargo a golpes de picareta, o desprendimento de Cabeça apressa a reorganização do Remo para 2013. Permite, entre outras coisas, que a nova gestão possa montar o time para disputar o Campeonato Paraense, uma das duas competições confirmadas (a outra é a Copa do Brasil) para o clube no próximo ano.
Não esquecendo que o Parazão vale bem mais do que aparenta: classifica para a Série D e é mais do que natural que o novo presidente não queira passar pelos constrangimentos vividos pela atual gestão, acusada de comprar a vaga depois que o Cametá anunciou desistência.
Um dia depois do desastre, Cabeça fez uma espécie de prestação de contas e garantiu que deixará o clube saneado. Reafirmou que o time de futebol está com salários em dia e prometeu quitar a pendência com os funcionários. Quanto à Justiça do Trabalho, em face do trabalho incansável de Ronaldo Passarinho e sua pequena equipe de advogados, os débitos estão controlados e o Remo segue livre da penhora de arrecadações.
Para dar um passo realmente à frente, Cabeça deveria se empenhar para pôr em prática o novo estatuto do clube, que já prevê eleições direitas para a presidência. Acima disso, deveria lutar para que a anacrônica composição do Conselho Deliberativo seja urgentemente modificada.
Clubes da grandeza do Remo não podem ficar à mercê de conselheiros que se reúnem uma vez por semestre, preferem jantares a assembleias ordinárias e fogem de decisões polêmicas como o capeta da cruz. O conselho não honra o nome que tem. Por tradição, não delibera nada. Em geral, funciona mais como gaveteiro. Ideias e propostas inovadoras são arquivadas solenemente. Os conselheiros atuais têm alergia a punir dirigentes picaretas, recusam-se a a rejeitar prestações de contas graciosas. Preferem o conchavo à confrontação.
Diretorias de clubes de massa não podem ser desconectadas da torcida. É preciso suprimir já essa distância. O sistema atual provou sua ineficácia. Não faz nenhum sentido que aqueles 35 mil torcedores que lotam as arquibancadas sejam representados por 400 conselheiros que não têm mais pique ou disposição para debates.
Salvo honrosas exceções, conselheiros são pessoas sem paciência para o contraditório, nem ânimo para o esforço diário que o futebol profissional exige. São amadores lidando com um negócio que movimenta milhões de reais e mobiliza multidões. A salvação do Remo talvez passe por esse choque de realidade. Quem dará o primeiro passo?

Os resultados da rodada foram generosos com o Paissandu, que tropeçou em casa novamente e ficou nos 15 pontos, mas terminou em terceiro lugar na classificação da Série C. O time só não foi generoso com o torcedor, que acreditava em vitória e teve que se contentar com um empate com sabor de derrota – o quarto desde que Givanildo Oliveira assumiu o barco.
Depois de desperdiçar inúmeras oportunidades – três delas nos pés de Rafael Oliveira –, o Paissandu repetiu erros primários de cobertura e permitiu o gol de empate aos 42 minutos. Ricardo Capanema cochilou e deu origem ao lance fatal. Por conta disso e dos erros primários dos atacantes, o time saiu de campo protegido pelo Batalhão de Choque, antecipando a cena que se repetiria no jogo do Remo, um dia depois.
Como Santa Cruz e Salgueiro disputam jogo atrasado na próxima quinta-feira, o Paissandu cairá para a quarta posição qualquer que seja o resultado, em função do saldo de gols. Givanildo terá uma semana para reorganizar a equipe para o confronto com o Fortaleza, adversário direto na briga pela classificação. O tempo é razoável, mas os atacantes precisam colaborar e acertar a pontaria. Nenhum time avança desperdiçando tantas oportunidades para vencer. (Foto: MÁRIO QUADROS/Foto)
—————————————————————
Desta vez, a CBF se superou. O amistoso de ontem, entre Brasil e China, foi daqueles duelos improváveis, entre equipes inteiramente desiguais. Durante os primeiros 45 minutos, que me esforcei para acompanhar, a bola ficou somente no campo de defesa chinês. A Seleção Brasileira, com todas as facilidades que um time inocente possibilita, perdeu uma meia dúzia de chances incríveis. O goleiro, da altura de Nelson Ned, era uma figura bizarra em campo.
Mano Menezes, cada vez mais Professor Pardal, botou Neymar de centroavante, típico gesto de quem não tem plano de voo definido. A melhor coisa da pelada foi mesmo o gol do bom Ramires, que já devia ser titular do escrete há muito tempo. Com sparrings desse porte, a Seleção tem tudo para desaprender o pouco que sabe.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 11)