Por Gerson Nogueira
O que leva um clube a execrar publicamente um de seus ídolos mais celebrados? Sim, estamos falando do Santos e de Paulo Henrique Ganso. Ao contrário do que se poderia supor, o ritual do adeus está longe das homenagens que um craque normalmente recebe.
Para quem acompanha a situação de fora, Ganso está sendo submetido a humilhações desnecessárias. Foi alvejado com moedas e cédulas depois da derrota frente ao Bahia, acusado de mercenário pelos torcedores. A imagem do jogador acuado, sem saber bem o que dizer a admiradores que se transformaram em algozes, é indigna da curta (e vitoriosa) história dele no clube.
A começar pela constatação de que ninguém merece ser defenestrado de forma tão degradante, pode-se dizer que o Santos age como se precisasse desesperadamente faturar uns cobres com a venda dos direitos econômicos do jogador. Nesse processo, até regras prosaicas de civilidade foram atropeladas.
Depois que Ganso admitiu a negociação com o São Paulo, a diretoria santista emitiu comunicado carregado de sinais para o torcedor. Dava a entender que o jogador estaria forçando a saída, intransigente na luta por mais ganhos. Será que apenas Ganso mira nos lucros que a transferência pode representar?
O futebol é um campo minado de hipocrisia que envolve todos os seus muitos atores. Não há espaço para ingênuos. A cena de amor desbragado, personificada no beijo ao escudo do time, virou piada de mau gosto, sufocada pelas frequentes desavenças que acompanham o término de contratos.
Ganso, que formou com Neymar a dupla de ouro da Vila, candidata a reeditar (guardadas as devidas proporções) a furiosa máquina de gols integrada por Pelé-Coutinho nos anos 60. Esse script perfeito começou a desandar por motivos alheios à vontade todos: a sequência de lesões, seguidas de cirurgias, que castigaram o atleta.
Tudo começou ainda em 2010, depois de uma temporada brilhante, que catapultou Ganso à condição de unanimidade nacional para disputar a Copa do Mundo da África do Sul. Pela teimosia bovina do técnico da Seleção, a jovem dupla santista foi barrada na festa. Dunga não teve a generosidade de entender que no futebol a glória é quase sempre efêmera.
À época, em crônica escrita neste espaço, manifestei o temor de que a melhor hora de Neymar e principalmente de Ganso estivesse passando. Logo a seguir, o meia-armador teve que se submeter a uma cirurgia. Um ano depois, já sem o mesmo rendimento, voltou a sofrer contusão grave nas finais do campeonato paulista.
Quando ensaiava um retorno triunfal nesta temporada, precisou fazer uma operação reparadora e foi escalado dias depois nas semifinais da Taça Libertadores. A precipitação do returno não beneficiou o Santos, mas pode ter causado danos irreparáveis à carreira do paraense. Nada disso foi levado em conta pelos dirigentes peixeiros na hora de sacrificar Ganso, exposto à torcida como traidor.
Que fique a lição aos jovens aspirantes a astros da bola. Os dias de festiva adoração passam depressa. Ganso, cujos passes milimétricos tanto ajudaram a alavancar a carreira de seu amigo Neymar, paga um preço alto demais por cobrar salários à altura de sua importância para o time – e para o marketing do clube. Todo profissional tem esse direito. Por ser do Norte talvez pareça intransigente demais. O fato é que, ainda hoje, os homens da casa grande não perdoam a audácia dos meninos da senzala.
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Depois do tropeço diante do Icasa, o Paissandu parte hoje para um jogo de recuperação contra o Luverdense, em Lucas do Rio Verde. O desafio é respeitável. O surpreendente time mato-grossense é o líder da chave e tem mantido regularidade dentro de seus domínios. O Paissandu pode se aproveitar do favoritismo do mandante para arrancar uma vitória reabilitadora.
Na estreia de Givanildo, também fora de casa, o time se comportou bem frente ao Salgueiro. Abriu o placar e teve chances de vencer. Se adotar a mesma postura, jogando fechado no meio-campo e saindo rapidamente nos contra-ataques, pode desbancar o melhor time do grupo. Outra vantagem é que o Luverdense não tem apoio do torcedor, fator que pode dar ainda mais tranquilidade ao Paissandu.
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Marcelo Veiga premiou o mérito e manteve como titulares Diego Barros, Jhonatan e Reis, que estavam suspensos e desfalcaram o time contra o Vilhena. Os dois garotos garantem mobilidade ao time. Barros, que é bem cotado no futebol de Mato Grosso, é superior a Marcelão. Com Rafael Andrade e Igor, pode vir a formar a zaga que o torcedor remista ainda não viu neste campeonato. Esquisita é a presença de Alceu na delegação, em detrimento de Rudiero. O ex-palmeirense está sem jogar há mais de quatro meses, enquanto o volante gaúcho entrou bem na partida contra o Vilhena. Seu pecado, ao que parece, foi ter sido indicado por Edson Gaúcho.
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Moisés, ex-jogador do Paissandu, é o convidado do Bola na Torre de hoje. Programa vai ao ar depois do Pânico na Band, às 23h45. Apresentação de Guilherme Guerreiro.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 02)
