Um craque sob ataque

Por Gerson Nogueira

Bastaram dois reveses – a derrota para o Barcelona no Mundial de Clubes e a eliminação na Taça Libertadores – para que o futebol de Neymar volte a ser questionado no Brasil inteiro. Depois de confirmar nos últimos dois anos a condição de jogador diferenciado, com jeito de futuro fora-de-série, o jovem atacante santista prova o lado amargo da fama.
Como é próprio da rotina do futebol, assim como despontou muito rápido, merecendo elogios por vezes exagerado, passa agora também a ser alvo de apedrejamento sempre que seu time tem um resultado infeliz. As seguidas – e impróprias – comparações com Lionel Messi atiçam ainda mais a onda de críticas a Neymar.
Prudente como sempre, Mestre Telê recomendava preservar o craque em momentos ruins. Isso significa blindá-lo e trabalhar para que volte, no mais breve espaço de tempo, a jogar o que sabe. Infelizmente, Neymar não tem descanso. Os múltiplos compromissos de sua agenda publicitária convivem com a necessária carga de treinamentos e exercícios.
Conciliar as exigências da bola com as obrigações contratuais do marketing é um desafio que requer super capacidade física. Se a juventude permite aguentar a sobrecarga, não se pode esquecer que Neymar é um garoto ainda, com os anseios e conflitos próprios da idade.
Precisa se divertir, conviver com os amigos, namorar, curtir a vida. É claro que, para um profissional do seu nível e com a aura de celebridade, o direito à curtição é extremamente limitado, mas jamais lhe pode ser negado.
A dedicação espartana à carreira, dentro e fora de campo, já bagunçou a cabeça de muitos atletas. Sem vida social e interação com as pessoas dificilmente um profissional, seja de que área for, obtém sucesso pleno e duradouro.
Esperança nacional para a Copa de 2014, Neymar é frequentemente aconselhado a atuar no futebol europeu. Os mais tradicionalistas resistem a isso, temerosos de que sua impressionante habilidade acabe domada pelos rígidos sistemas táticos do Velho Continente.
Na contramão desse nacionalismo boleiro, há a evidência de que precisa evoluir quanto ao posicionamento em campo e ganhar maturidade para encarar grandes defesas. Na fase de mata-mata da Libertadores, vigiado pelos zagueiros do Vellez, praticamente não conseguiu jogar.
Contra o Corinthians, essa dificuldade ressurgiu e aumentou as angústias de quem vê o único craque brasileiro da atualidade sem saber o que fazer diante de marcações mais firmes. E o exemplo negativo de Robinho, o rei das pedaladas, reaparece em todo o seu esplendor.      
No inferno astral de Neymar, há espaço também para a proverbial mania nacional de esculachar com famosos. Fazer sucesso por aqui parece ofensa pessoal, já dizia o maestro Tom Jobim, do alto de sua sabedoria. Se o atacante santista vai aproveitar a maré ruim para empreender uma virada na carreira, ninguém sabe. Mas é certo que, para brilhar em seu próprio Mundial, o Brasil vai depender muito dele. 
 
 
Registro mensagem de Sérgio Papellin, ex-supervisor do Remo, referindo-se à coluna “Categoria sub-40 em alta”, publicada na última quarta-feira: “Caro Gerson, quero lhe parabenizar pela análise que você faz da equipe do Remo na sua coluna de hoje (anteontem). As séries C e D são competições em que precisamos de atletas de força e velocidade, mas infelizmente o Remo está indo pelo caminho oposto. Vamos ficar na torcida para que dê certo! Grande abraço”.
 
 
Para não ficar atrás de Corinthians e Santos, Palmeiras e Grêmio dedicaram-se a fazer um jogo ruim, de poucas jogadas criativas e profusão de pontapés. Felipão e Luxemburgo, técnicos consagrados, pareciam irreconhecíveis na distribuição de seus times em campo.
De um lado, o Palmeiras resguardando-se ao máximo, confiante na vantagem de dois gols. Do outro, um Grêmio raçudo como sempre e violento como nunca. Até jogadores discretos, como Pará, perderam o juízo. No fim, três expulsões (incluindo a injusta exclusão do palmeirense Henrique, mais vítima do que algoz na pancadaria). 
A classificação palmeirense, há doze anos esperada, acabou assegurada por personagem improvável: o chileno Valdívia, que entrou no segundo tempo e em dois lances estabeleceu a diferença entre pernas-de-pau e um autêntico camisa 10. Fez o gol de empate, mandou uma na trave e descontrolou de vez os brucutus do Grêmio.
 
 
 
Direto do blog
 
“Já andam falando em Tite na Seleção caso Mano fracasse na Olimpíada. Já imaginaram o Brasil atuando atrás contra o Zimbábue em pleno Maracanã em busca do 1 a 0? E a coletiva do Tite, que disse dois palavrões para externar todo o seu êxtase com a pelada de ontem, dizendo que o embate foi de muita ‘qualidade técnica’? Não há vida inteligente apenas na meia-cancha de nossas equipes, falta também nos bancos de reservas…”.
 
De Daniel Malcher, implacável na crítica à “retrancabilidade” de Tite.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 22)

10 comentários em “Um craque sob ataque

  1. Gerson e amigos, quanto ao que falou o Papelim, penso que ele está equivocado. O Tupi e o Santa Cruz, campeão e vice da série D do ano passado, não tínham times tão jovens assim e, em relação a esse elenco do Remo, o do Santa era bem mais velho e conseguiu o acesso.
    – Vale lembrar que o baratíssimo time do Alecrim, era um dos times mais jovens da série C em 2010 e, foi rebaixado.
    – O que manda nesses casos, é o técnico que seu time possui e, se for bom e ele estiver montando o time, pode apostar. Eu, aposto nesse time do Remo, apesar de todos nós termos conhecimento que o clube não pode dar todos os jogadores que o técnico pede e, aí sim, poderá estar o problema.
    – Amigo Daniel foi perfeito. Só penso que o problema não é de técnico e sim dos jogadores que são oferecidos a muitos deles. Se fosse possível, gostaria que os nossos técnicos fossem pra Europa, com todos aqueles craques e, os tecnicos que atuam na Europa, viessem pra cá, sendo contratados há 15 dias de uma competição, o clube não podendo dar a ele todos os jogadores que ele quer e, com resultados imediatos, caso contrário, rua. Ah, mas como eu queria ver.

    Aliás, o Santos que encantava a todos nós a bem pouco tempo, tinha o Dorival como técnico. Porque ele não consegue a mesma coisa no Inter? E o Santos, porque não consegue mais jogar como nos tempos do Dorival, mesmo só tendo perdido o Robinho? Elementar…

    – É a minha opinião.

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  2. Foi a coluna do ano…rs rs rs …repercurtiu fora do Estado e quem sabe, do País…é isso aí…Em tempo: Eu me candidato a mediar essas partidas Sub 40 he he he

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  3. Gerson, ser comentarista do dia seguinte, ou depois do fato, é fácil, mas assumo essa posição porque fui um que concordou com a não convocação de Neymar e Ganso para a Copa de 2010, tá lá nos seus arquivos. Assim como sempre me coloquei como desconfiado em relação ao Neymar. Como falei em outro post, agora é tarde, nem a Europa ajeita o que chegou errado ao profissional. Certíssimo está o imperador. Saiu moleque, encorpou, ganhou muita grana, voltou e enganou e agora quer voltar às raízes da favela e do pagode, aproveitar a vida e ficar com os amigos de infância que os respeitam e adoram e vice-versa.

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  4. O Dorival, no Inter, não tem o elenco que tinha no Santos e o atual elenco do Santos não é o mesmo. Vejam a La U que vendeu o melhor jogador e não consegue repetir a campanha do ano passado. Agora Tite ou Muricy na seleção é trocar seis por meia dúzia. Técnicos bons são os do Chelsea, Real e do Barcelona. No Brasil, depois do Telê, tá difícil.

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