Por Gerson Nogueira
Nada como a derrota para clarear as ideias. A vitória dos mexicanos nem chegou a ser surpreendente. Nas circunstâncias, pode ser considerada normal, afinal foi o confronto de uma seleção principal contra um time olímpico, apesar da boa distância futebolística que separa o Brasil do México. Sem querer atenuar as coisas, penso que o melhor que podia acontecer à seleção do Mano Menezes era um tropeço agora, ainda a tempo de correções de rota, principalmente no setor de
meio-de-campo, onde Oscar joga praticamente sozinho. É tempo de reavaliar a própria capacidade de Neymar desequilibrar partidas. Pelos confrontos recentes, o atacante santista vem demonstrando extrema dificuldade em superar marcações mais fortes. Não muda o fato de que Neymar é o melhor jogador brasileiro da atualidade, mas ajuda a baixar as expectativas quanto às próprias chances do Brasil tanto em Londres quanto na Copa de 2014. O santista é bom, acima da média, mas não pode ser colocado no mesmo patamar de Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo. É um atacante em ascensão, que precisa superar alguns estágios para ser considerado um fora-de-série. O mais importante talvez seja a baixa quantidade de testes contra defesas realmente fortes. A do México, que nem está entre as melhores do mundo, acentuou essa necessidade.
Só por esses detalhes o amistoso de ontem já teria valido a pena. Mas serviu também para reavaliar a importância de alguns jogadores para o escrete. Marcelo, que vinha muito bem, foi excessivamente dispersivo em lances de ataque. Hulk é raçudo, não desiste nunca, mas tem sérios problemas quando precisa ser mais habilidoso. Oscar, como já se previa, é muito bom com a bola nos pés, mas franzino em excesso para o jogo de choques na meia-cancha. Alexandre Pato, bem, continua o mesmo: desde sempre alterna lances de puro talento com jogadas de peladeiro. Duvido que vá muito além disso.
No fim das contas, o brasileiro tem mesmo é que ir se acostumando com um fato indesmentível: não há mais a tal acachapante superioridade nacional, capaz de fazer qualquer um tremer diante da simples visão da camisa canarinho. Hoje, emergentes e medianos – como o México – encaram o Brasil sem qualquer reverência. Sabem que, dependendo das circunstâncias, podem até conquistar uma vitória consagradora o suficiente para descontar parte de tantas humilhações sofridas ao longo dos anos. Quando vi 2 a 0 no placar do majestoso estádio de Dallas temi que um desses pesadelos vingativos do futebol estava em marcha. Do jeito como a coisa se conduziu, ficou de bom tamanho.
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Eram outros tempos. Não havia segurança para blindar astros. Nem astros que se achavam acima dos simples mortais. Mané Garrincha, astro maior do Botafogo dos anos 60 e um dos melhores jogadores de todos os tempos, visitou Belém numa daquelas excursões que os grandes clubes costumavam fazer em fim de temporada. Uma multidão foi vê-lo de perto no estádio Evandro Almeida, checar se a Alegria do Povo era mesmo de carne e osso. Entre os fãs, um garoto de seus oito anos, Antonio Petillo, que furou o cerco e chegou até Garrincha. Ganhou um cumprimento simpático, acompanhado de um sorriso. Jogador de futsal nas horas vagas, desportista e empresário, Petillo cresceu rubro-negro, mas não perdeu a lembrança daquela tarde fantástica em que ganhou um cumprimento do maior driblador de todos os tempos. É cena para emoldurar e pregar na parede do coração.
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Não era um adversário portentoso, o jogo não valia nada, mas artilheiro de verdade não escolhe cara nem data. Kiros aproveitou as brechas que a zaga do Time Negra lhe deu e cravou quatro gols no amistoso da manhã de ontem, na Curuzu, diante de pouco mais de mil torcedores. Todos que assistiam a partida ficaram impressionados com o senso de colocação e o oportunismo do grandalhão que Roberval Davino importou de Pernambuco. Se vai manter a média no Campeonato Brasileiro já é uma outra história, que só Deus sabe. Mas, sem dúvida, fazia um bom tempo que nenhum outro atacante conseguia marcar três gols de uma tacada só vestindo a camisa do Papão. Kiros, por sinal, foi disparadamente o melhor do treino e confirmou a condição de titular.
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A grande dúvida da segunda-feira é se Adriano Magrão vai, afinal, se apresentar ou não ao Remo. Os negócios entabulados desde sexta-feira indicam que as duas diretorias se acertaram, com a anuência dos respectivos técnicos. O jogador, porém, manteve um tom de mistério quanto a aceitar ou não o prato feito, que lhe foi imposto sem qualquer aviso. A conferir.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 04)