Desabafo de uma paraense

Por Alvarez Marcelina

Minha terra tem mangueiras,
Onde a sombra vou buscar;
os frutos que delas brotam,
São mais doces que os de cá.
Minha terra tem um povo,
alegre , puro e hospitaleiro,
que emprega o português correto
Em seu falar mais corriqueiro.

Tu vistes, tu fostes, tu queres,
Não é difícil pra nós;
Difícil é falar para aqueles ,
que não ouvem nossa voz.
Minha terra tem primores,
Tem belezas sem igual,
o que mais posso dizer da
minha bela Belém capital.

Falar o Égua como espanto,
ou como forma de encanto;
Torna-se algo grosseiro
Nas bocas dos forasteiros.

Como ousam pronunciar assim,
minha marca de nascença,
Sem o menor cuidado tomar,
achando que isso lhes dará audiência.

Então agora peço licença,
Para um conselho lhes dar
Pois que empreguem os verbos certos
Em suas conversas de boteco
E depois venham pra cá,

Minha cidade é no norte,
meu sotaque não é forte,
minha praia é de rio
Tô meio longe do mar,
Me refresco é na chuva, depois do tacacá.

Vocês não podem imaginar
Nem a Globo contará,
Isso tudo só verá
quem um dia for ao Pará,

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que encontre as raízes
Que deixei ao vir pra cá.

A puta que os pariu, Rede Globo,
se quer fazer, que faça direito.
Que isto lhe sirva de lembrete:
“Amor Eterno Amor” é o cacete.

18 comentários em “Desabafo de uma paraense

  1. Não assisto novelas. Disseram-me que as falas não eram boas e que se confundiam com as do nordeste. Mas e daí? Precisa toda essa indignação? Cabe aos responsáveis pelo turismo saber tirar proveito de uma grande propaganda do Pará, não importa se é porque a Record ou a Band estão em crescimento por aqui e a Globo quer apenas nos agradar. Acho que na verdade carregamos um certo complexo de rejeição ou inferioridade, sei lá. É tema polêmico cada vez que alguém põe o dedo nas nossas mazelas, e olha que a novela apenas quis mostrar o Pará.

    Curtir

  2. Mauricio vc está correto, neste caso vale aquela maxíma.

    Se quiserem falar de mim, falem bem ou mal, mais falem.

    Quem não se lembra de Tieta, que teve sua semente no agreste nordestino e até hoje é bem lembrada.

    Não esqueçamos que o Crô era carioca e não paraense.

    Tem uma hora que nem tudo pode ser visto pelo olhos do mal.

    Curtir

  3. O que retira a força do texto é dizer que a gente fala o português corretamente e, depois, escrever: tu fosteS, tu visteS.. tomara que o pessoal de fora nao leia esse texto, pois vamos virar motivo de gozaçao….

    Curtir

  4. Pelo amor de Deus!
    Alguem diga para essa senhora que no preterito perfeito do indicativo não existe “S” no final do verbo!!

    Egua muleke!! ..”Tem termo!!!”

    Curtir

  5. Pode até ser “paraensismo”, “provincianismo” ou coisa que o valha. Além do mais, por tratar-se de obra ficcional e voltada para o deleite das massas (o gênero é a novela), via de regra pouco exigentes, a obra em questão não têm a obrigatoriedade de retratar de forma fidedigna a realidade. Aliás, obra ficcional nenhuma tem tal obrigação. Contudo, por não ter este compromisso fiel com as ocorrências cotidianas de um povo ou lugar, não significa que pode livremente incorrer em um erro crasso: deturpar a realidade.
    Mas o Marajó global, como bem disse o L.F.Pinto, está mais para a Ilha da Fantasia do que para o arquipélago situado no delta do Rio Amazonas. Mas… é ficção, logo…

    Curtir

  6. Quanto aos erros ortográficos,não há muito que se estranhar,levando-se em consideração que poucos sabem escrever corretamente nossa linguagem.Inclusive,pessoas formadas e até mesmo especializadas,vacilam.Aparentemente o nosso Portugues é fácil,mas na verdade, é uma das linguas mais complicadas que existem.Gosto muito da lingua portuguesa e nutro admiração por quem sabe usa-la corretamente.Aquí no Blog,além do Gerson,que dispensa comentários,há também vários especialistas no modo correto de escrever.

    Curtir

  7. Mesmo sem chegar aos extremos de indignação verbal da autora do post, tenho pra mim que algumas situações a Globo foi além de todas as “licenças poéticas” e tem merecido as muitas críticas que tem recebido dos paraenses que volta e meia frequentam o interior, seja para mero passeio, seja para rever seus familiares. Aliás, este negócio de sair pela manhã lá do interior de Soure, já com o sol alto, dar uma passada em Santarém, e ainda voltar para o almoço, é algo capaz de duplicar a audiência da Record. Isso sem falar de expressões tipo “maninho” e “aruá” dentre outras. Diga lá, Edson, se é ou não é verdade?!

    Curtir

  8. Paraensismo é o cacete. Todo mundo chega aqui arrastando uma cachorrinha, cria seus filhos, debocha diminui e alguem ainda escreve que é paraensismo.

    Quantos jogos da Copa serão realizados aqui?
    Olimpíadas? Nem pensar.
    Obras sgnificativas? Quantas?
    Estão levando todo o Minério e deixando um imenso buraco e miséria quando a lavra e esgotada.

    Vai lá e pergunta para os povos que moravam na região inundada do lago de Tucuruí, se até hoje as obrigações foram cumrpidas, passados 30 anos.
    Quantos embarcações estão transpondo as eclusas de Tucuruí?

    Somos os maiores prejudicados com as mazelas da maravilhosa Lei Kandir e mais um infinidades de situações.

    Isso cara, não é paraensismo, não. É fato. não é opinião, são dados que qualquer pessoa não alienada conhece.

    Se essa porcaria de novela presta ou não estou pouco me importando.
    Mas saber que continamos na era da política do café com leite, não me deixa nem um pouco feliz.

    LUIZ DUARTE
    Eng. Civil

    Curtir

  9. Luiz, você não tá errado. Quantos paraenses fazem a vida em outros cantos do Brasil e voltam falando mal de lá? Quantos falam bem daqui? Não se pode confundir. A comentarista criticou especificamente a novela da Globo. Ninguém defendeu a exploração do Pará e suas riquezas. Se nossos políticos são fracos e inoperantes é outra coisa.

    Curtir

  10. Amigo Antonio morei em Soure entre 83 á 90, quando fui pra lá eu tinha apenas 8 anos e ao retornar já tinha 15, mais ou menos isso.

    Bastaram este poucos anos pra que eu nunca mais esqueça esta terra tão linda e tão amada por mim.

    Fici feliz e preocupado ao mesmo tempo quando nossa ilha ganha uma visibildade dessas.

    Agora Antonio sobre sua colocação teve uma mania que peguei de lá e que voltei a perder aqui em marituba, se a Globo colocasse isso em sua novela, aí que ia ter gente bufando de raiva.

    É o famoso “diáaaaaaaaaabo”, que antes eu pensava que era só diáaaaaa, depois que eu entedí que era diábo mesmo, falado assim arrastado.
    Tem também o “cardote”, “mais espia”, “cerpa invês de Celpa e Celpa invês de cerpa”, “peral”, “bora macho” etc… é uma festa a lingua do interiorano.

    Já sobre o que o Luiz falou é outra coisa, eu também fico na bronca com o transporte que é dispensado pra nossa Soure e Salvaterra queridas.

    Sem contar o transporte dentro da cidade.
    Durante a semana quem quiser ir as praias tanto de Barra velha quanto do Pesqueiro tá ferrado.

    * Antonio vc quando foi em Soure chegou a ir lá no Tombo do Jutaí pra tomar um refri?
    Se não fostes, da próxima vez vá. É uma visão privilegiáda da natureza que nos deixou Deus.

    Curtir

  11. Aqui em MS pensam que sou carioca,geralmente perguntam por causa do S pronunciado com som de x, herança de meus avós portugueses, meu sotaque não é muito “paraense” por conta de já ter morado em outros estados por muitos anos, mas esse S com som de X me denuncia.Carioca ou amazonense? respondo :Paraense com orgulho.
    Quanto aos sotaques ou falas lembro-me de uma aula sobre gramática com um especialista já agora nos cursos que faço.
    Categoricamente o professor fez uma afirmação muito importante. “Não há certo ou errado nas falas.Na escrita há uma sistematização sob a égide da NGB e que é levada a sério como Norma Culta da Língua.”
    Aqui , no cotidiano é um festival de ” Nós foi, eles vai jogar hoje, vou ti falaá procê, não dizem na fala voce , dizem ocê, procê, docê etc.E o R retroflexo é presente sempre : “Poiirrta, coiirrda,coiiirrta invés de poRta , coRda, coRta.
    Nunca inquiri , zombei, ou questionei.
    Só não adiro a esse R retroflexo.Meus filhos menores já pronunciam as palavras de forma mais acentuada com o sotaque daqui, mas são crianças , passam o dia na escola.Shabelle estuda de manhã e faz música á tarde,os outros fazem informática.Ou seja o contato com os nativos é grande.Natural, faz parte.Simples assim.

    Curtir

  12. Luiz, já sou vacinado em relação a esses textos ideologizados quando se trata desse “paraensismo”. Diga-se de passagem, a gestão de Simão Jatene I, usou e abusou desse viés ideológico em sua excelente propaganda institucional. A diversidade social e cultural presente no Pará,já derrubou essa representação estereotipada e os debates do plebiscito, em suas múltiplas dimensões, também. Portanto, sem “zangas”, deleitemos o momento, ainda que reconhecendo nossas contradições.

    Curtir

  13. Edson, este “diaaaaabo” é das expressões exclamativas das mais marcantes. Na mesma linha tem ainda o “Cruz” exclamação normalmente utilizada para reprovar alguma coisa (pelo menos foi a maneira como vi ser empregada na maioria das vezes). Também há uma expressão interessante usada quando o sujeito toma uma dose de 51 ou do Rabo Fino (tatuzinho) pela manhã logo cedo: “dar bom dia à buca”. A propósito, não há nada mais revigorante do que um “cardote” de espinhaço. Por último, dentre as que me ocorrem agora, há uma outra que é excelente, relativa à maneira como os marajoaras tratam uns aos outros. É o famoso “parente”.

    Agora em meados de junho, devo ir ao Marajó, à Cachoeira do Arari, Município menos desenvolvido que Soure, mas tão rico quanto em tradições. Se der certo vou lá em Soure e certamente irei checar sua recomendação.

    Curtir

  14. Penso que esses versos expressam o complexo de inferioridade e mania de perseguição que afligem boa parte dos paraenses, o que penso eu ser fruto do forte bairrismo que caracteriza nossa sociedade.
    E o pior é que sofremos de um tipo de um bairrismo rancoroso, que se manifesta em afirmações do tipo: “A puta que os pariu, Rede Globo” ou “Paraensismo é o cacete”.

    Curtir

Deixar mensagem para Cláudio Santos - Técnico do Columbia - Val de Cans Cancelar resposta