Escola para a cartolagem

Por Gerson Nogueira

Durante anos a fio, o comentarista esportivo Edyr Proença defendeu a criação de uma escola especial para dirigentes. Para ele, lembrando a frase clássica de Tom Jobim em relação à música, o futebol é para profissionais. Nos românticos anos 60 e 70, a sugestão não era muito levada em conta, mas o tempo – e as necessidades surgidas desde então – se encarregou de mostrar que o velho Edyr estava certíssimo. 
As mazelas do nosso futebol, escancaradas a cada temporada pelos insucessos estrondosos de Remo e Paissandu, se tornaram debate obrigatório entre os torcedores, o que é uma boa notícia. Afinal, a maior interessada na ressurreição dos clubes e na adoção de novas formas de gestão é justamente a torcida, na condição de cliente (e credor) direto do negócio futebol.
Em movimentado bate-papo promovido pelo Troféu Camisa 13, ontem à noite, no auditório do DIÁRIO, o assunto dominou amplamente a discussão nas palestras e nas intervenções do público. Ao lado deste escriba, Guilherme Guerreiro defendeu a adoção de projetos de marketing pelos clubes, a fim de explorar o fabuloso potencial representado pelas torcidas.
Observou, porém, que o Remo está impossibilitado de utilizar comercialmente a própria marca, entregue por contrato de 10 anos – celebrado pelo ex-presidente Amaro Klautau – com uma empresa paranaense.
Por tabela, o Paissandu sofre os efeitos dessa parceria infeliz celebrada pelo maior rival, pois várias promoções ficam prejudicadas e até inviabilizadas pela ausência do necessário contraponto de torcidas.


Carlos Castilho defendeu a tese de que o caminho é apostar em gestões modernas, profissionalização de quadros e renovação nas cúpulas diretivas dos clubes. Prevalece a mentalidade ultrapassada e anacrônica, que barra projetos inovadores e compromete, inclusive, a lisura do processo eleitoral.
No Paissandu, a idéia de escolher os dirigentes pelo voto direto não prosperou no último pleito, apesar de deliberações nesse sentido. No Remo, a iniciativa não saiu do papel até o momento. Por enquanto, só a Tuna instituiu a prática democrática de escolha dos gestores.
Um dos presentes ao debate foi o ex-zagueiro remista Ruy Azevedo, capitão na histórica vitória azulina sobre o Flamengo no Maracanã, em 1975. Executivo e professor universitário, Azevedo relatou sua via-crúcis nos clubes paraenses propondo a implantação do projeto de sócio-torcedor, ainda no final dos anos 90.
Torcedores, estudantes de comunicação e desportistas em geral também manifestaram suas inquietações com a realidade do futebol no Pará, cujos exemplos mais gritantes de deterioração é a permanência prolongada (seis anos) do Paissandu na Série C e a ausência de perspectivas no Remo, sem divisão desde 2010. Coincidência ou não, a única categoria diretamente interessada que faltou ao debate informal do Troféu Camisa 13 foi a dos dirigentes de clubes. (Foto: EVERALDO NASCIMENTO/Bola)
 
 
O mineiro Flávio Lopes, ex-técnico do CRB, é a surpreendente escolha remista para substituir Sinomar Naves. Chega na quinta-feira e não terá muito tempo para arrumar a casa para o segundo turno. Seus maiores desafios serão se adaptar às particularidades – e armadilhas – do Campeonato Paraense e sobreviver ao barril de pólvora instalado no Baenão.
 
 
Na Seleção Brasileira chamada para enfrentar a Bósnia, a evidência de uma realidade que somente parte da imprensa ainda não assimilou: Kaká, que já foi saudado como melhor do mundo, caminha para a aposentadoria. Seu rendimento no Real Madri, nas raras ocasiões em que José Mourinho o escala, já não é de um atleta de primeira linha. Apesar de algumas teimosias, Mano Menezes acerta ao não fazer planos de aproveitar o meia-atacante.  
 
 
Direto do blog
 
“Quanto aos dois finalistas do turno, acho justíssimo pelo que Águia e Cametá fizeram dentro das quatro linhas, mas gostaria que as autoridades tomassem as providências necessárias contra o jogador Alexandre Carioca e dessem um paradeiro nas declarações sempre provocadoras do técnico João Galvão”.
 
De Wagner Oliveira, torcedor azulino, morador de Vila dos Cabanos.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 15)

14 comentários em “Escola para a cartolagem

  1. Gerson, a propósito do rival, o blog já fez alguma apuração sobre a emissão de centenas de títulos de sócio proprietários que teriam sido entregues a um sócio para fins de reembolso de gastos em reformas no estádio?

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  2. Incrível como transformaram o Alexandre Carioca no único vilão dessa pancadaria em Marabá! Magnum, como foi exibido em rede nacional e conforme relato do juiz em súmula, fez ainda pior, aplicando uma voadora que atingiu dois profissionais do Águia! Depois, agrediu o jogador Branco com um soco na nuca, violência equivalente, se não maior, do que a praticada por Alexandre Carioca!

    Mas o torcedor faz questão de ignorar esse fato gravíssimo por conveniência. É necessário que somente o Águia passe por vilão, uma vez que o Remo tem interesse em tirar o mando de campo dos marabaenses, pois sua estréia no 2º turno será justamente no Zinho Oliveira, contra o Águia.

    Mas a nota triste é que NENHUM DOS BRIGÕES DEVERÁ CUMPRIR A PENA devido às brechas da lei: com a costumeira demora dos julgamentos, ambos deverão ganhar muito tempo antes da punição e, quando esta vier, entrarão com o famigerado EFEITO SUSPENSIVO, que tomará longo tempo para ser julgado. O mais provável é que a decisão final ocorra somente após o encerramento do campeonato e a punição de ambos seja convertida em ridículas CESTAS BÁSICAS…

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    1. Rogério, concordo com você e tenho feito referência ao papel do Magnum na briga, mas não exageremos. O golpe com um instrumento metálico, por parte do A. Carioca, é a demonstração clara de que o sujeito não visava apenas descarregar a raiva de momento, pretendia ferir de forma mais profunda e violenta. Para mim, brigas são atos de burrice, sempre, mas não devemos minimizar ato tão grave – e inédito no futebol paraense.

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  3. Clube de futebol deve ser uma unica atividade ficando os demais esportes e atividades amadoras para as fundações assim constituidas dentro das faculdades e clubes sociais. Assim, especilizando-se a atividades todos os profissionais trabalharão num único foco e serão antes selecionadospor sua competencia profissional na atividade empresarial futebol profissional.

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  4. Eu não sei o que seria pior, mais criticado. A reação dos jogadores do Remo em defesa de Betinho, que, além de agredido pelo goleiro adversário, ainda foi cercado imediatamente por 4, 5 ou 6 ao esboçar a reação natural, ou a omissão dos azulinos deixando Betinho largado à própria sorte.
    O pior é que no final só se fala em Magnum e Alexandre. O erro iniciou na jogada de linha lateral envolvendo o goleiro e Betinho. O goleiro nem cartão amarelo recebeu.

    Quanto a todo esse quiproquó, se fosse eu o presidente do Remo deixaria quieto, pois um prejuízo ao Águia, como a interdição do estadinho, só prejudicaria mais ainda o próprio Remo, que agora deve torcer desesperadamente para que o clube marabaense seja o campeão do turno.
    É o poço que o Remo próprio cavou.

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    1. Amigo Valentim, a não aplicação do cartão amarelo ao goleiro Alan foi, de fato, o único erro do Andrei na partida. Em sua defesa, acredito que ele evitou dar o cartão, receando estender ainda mais os conflitos em campo.

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  5. Gerson Nogueira,
    Essa ausência de dirigentes nesse debate so prova o que todo mundo ja sabe a respeito da culpabilidade, incapacidade e amadorismo deles para administrarem clubes de grande torcida. Nesse aspecto se eles não tem idéias falar ou acrescentar em termos de inovação e crescimento dos clubes é evidente que jamais compareceriam a um debate para tratar justamente disso. Mas se o problema de gestão desses dirigentes fosse somente a falta de idéias seria menos mal. Ocorre que não é so isso. Ainda tem o agravante de gerirem mal os poucos ou parcos recursos financeiros que entram nesses clubes. Aí é desastre total. So para não falar da perda de dinheiro em contratações bizônias a preço de ouro de jogadores e treinadores em fim de carreira, ainda tem as grandes perdas de receita de renda de bilheteria que mesmo nas situações ruins desses clubes ainda aparecem algumas oportunidades de faturamento alto as quais são desperdiçadas como se rasgassem dinheiro. Um pequeno exemplo disso foi aquele jogo entre Paysandu e Salgueiro em Belém, super importante, decisão de uma vaga para a serie B e decisão de meis um brasileiro para o Paysandu depois 10 anos, torcida totalmente motivada, até torcedor rival ouvi falar que iriam ao jogo so para “secar”, Paysandu jogando pelo impate e muitos outros atrativos que indicassem um público pagente de no minimo 35 mil pessoas. dessa forma qualquer menos entendido deveria saber que esse jogo era para o Mangueirão. Mas o amadorismo imperou, colocaram o jogo para a Curuzu que so cabe 12 mil( até por picuinha ao rival que queria vender seu estádio) e o resultado foi a perda do jogo, classifacação, dinheiro, porque apresentaram pouco mais de 11 mil pagantes, absurdo. Eu com 50 reais que consegui em cima da hora para ir ao jogo, não consegui ingresso nem de cambista porque alguns que tinham tão vendendo a 100 reais, mais absurdo ainda, mas tudo culpa da cabeça desses dirigentes. Se fosse no Mangueirão, o Paysandu concerteza se perdesse o jogo, mas ganharia muito dinheiro para aliviar a situação. Mas ocorreu todo esse erro e no final do mês o dirigente tava reclamando que não poderia mandar alguns jogadores perebas embora porque não tinha como indenizar. Não é por cacaso que esses clubes estão nessa situação caótica.

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  6. Cheguei a acreditar, meu caro Gerson, na escalação de árbitros paraenses para os jogos de maior importância, como foi esse Águia x Remo.

    Veja só: durante a semana, com razão ou sem razão, João Galvão deitou falação por conta do erro do árbitro no jogo em que o Remo foi o mandante. Visando tirar proveito (não tem santo de um lado nem de outro) da situação, focou em Andrei, dizendo que o mesmo é remista e coisas assim.

    O que acontece então. Embora nem ele, Andrei, mesmo admita, justamente pelo fato de ser remista, o árbitro ficou cheio de dedos (você mesmo admite em outras palavras) para dar cartão ao goleiro aguiano. Houvesse um lance de penal a favor do Remo e eu não me surpreenderia se ele não homologasse, justamente para mostrar isenção.

    O certo era então ter árbitro de fora (não que seja melhor que os paraenses, mas isentos) para os dois jogos.

    Você concorda?

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  7. Quanto ao Magno não se pode esquecer que a origem da atitude dele foi um ato de legítima defesa em favor do Betinho, que como acertadamente disse o Valentim, estava cercado e sendo agredido por vários jogadores reservas do Águia. Depois de apurado, se houve algum excesso, o Magno não pode ficar sem punição. Todavia, o comportamento do AC não tem precedentes e justifica toda a carga que contra ele vem sendo feita. Quanto ao Alan acho que o próprio AndreY concorda que teria sido justa a aplicação do amarelinho. Quanto à interdição, só com o que assisti pela TV, me parece constituir medida excessiva acaso se confirme. Esta opinião pode mudar após a leitura do que o mediador escreveu em seu relatório, a qual ainda não consegui fazer.

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  8. Meu caro Gerson, ontem (anos 60/70) como hoje nos anos 2000, a recomendação era e ainda é a adoção, a prática de gestões modernas na administração dos chamados clubes esportivos.
    Pergunto, o que é uma gestão moderna ? Onde buscar um profissional com formação profissional/academica capaz de executar essa gestão.
    Não esqueçamos que os clubes de futebol diferem em muito dos
    clubes sociais e diferem mais ainda de outras naturezas organizacionais, empresariais.
    Pergunto, encontrado o gestor moderno e este recomende redução de despezas por um considerado periodo como fórmula
    de sanar as finanças e isso venha a reflitir negativamente no futebol do clube, qual será a reação da torcida.
    Pertenço a uma geração de jornalistas (não confundir com cronistas) que não tinha na imprensa sua atividade principal Uns preocupavam-se tão somente com o Baenão, Curuzú ou Souza,
    outros com visão mais larga alcançavam as deficiencias estruturais
    dos nossos clubes. Alguns abordavam essas deficiencias em suas
    cronicas ou comentários, outros limitavam-se em saber.
    Infelizmente sempre foi assim, dirigentes e imprensa parece que
    andaram sempre de mãos juntas..

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