Por Gerson Nogueira
Algo vai mal quando cartolas e políticos assumem a ribalta e tentam aparecer mais que os jogadores, verdadeiros artistas do espetáculo. Adota-se a balbúrdia como norma e começa a temporada de caça às bruxas com conseqüências quase sempre imprevisíveis. Ainda mais quando se vive um ano de eleições municipais, com ambições e projetos pessoais mais aflorados.
Curioso é que o campeonato se desenrolou até aqui sem anormalidades, com boas arbitragens e nenhuma ocorrência grave. Pode-se dizer, sem exagero, que é o melhor momento da arbitragem local, com reflexos na escolha de mediadores paraenses para competições nacionais.
Bastou um lance polêmico, no jogo Remo x Águia, na quinta-feira à noite, para que todo o trabalho da arbitragem paraense fosse ao chão. Como se os eventuais erros tivessem como origem na desonestidade e na intenção de favorecer algum time.
A jogada que originou o terceiro gol do Remo, interpretada como pênalti pelo auxiliar e confirmada pelo árbitro central, foi rápida e junto à linha da grande área. Mesmo depois de ver e rever as imagens na TV é difícil afirmar, com precisão, se a falta – um empurrão do lateral Rayro em Balu, do Remo – aconteceu dentro ou fora.
Ali, em fração de segundos, no calor dos acontecimentos, o mediador Dewson Freitas da Silva entendeu que a falta ocorreu na área e assinalou a penalidade sem hesitar. Mesmo que ele tenha se equivocado, seria leviandade extrema acusá-lo de agir em benefício dos azulinos.
De temperamento mercurial, normalmente abespinhado antes mesmo de a bola rolar, o técnico João Galvão, do Águia, que estava do outro lado, atravessou o gramado ao final da partida para interpelar o árbitro. Alegava que seu time fora garfado e vítima de uma arbitragem desastrosa. Quem acompanhou o jogo sabe que, com exceção do questionado lance, a atuação de Dewson foi tranqüila e correta.
Na sexta-feira, o Águia continuava a reclamar da marcação, atribuindo a derrota de 4 a 2 ao penal. Entrou em cena o presidente do clube, cobrando da FPF “arbitragens não comprometidas” e ameaçando contratar arbitragens de outros Estados para resguardar os direitos do clube e repetindo as mesmas acusações contra Dewson. Na entrevista à Rádio Clube, aproveitou para botar pressão sobre o árbitro Andrei da Silva e Silva, que apitará a partida de volta, neste domingo.
Não é o primeiro ataque frontal a um apitador neste Parazão. No jogo Independente x Remo, em Tucuruí, Andrei foi grosseiramente criticado pelo presidente do clube campeão estadual. Segundo Delei Santos, político como o presidente do Águia, o árbitro torceria pelo Remo e por isso estaria pré-disposto a prejudicar sua equipe.
Sem deixar de lado o destempero de alguns dirigentes, que deveriam ser exemplarmente enquadrados pelas instâncias disciplinares do TJD, o torcedor deve observar com cuidado firulas marqueteiras de quem usa os clubes como plataforma eleitoral e o futebol como palanque.
Reclamações e protestos por marcações prejudiciais são mais do que compreensíveis, mas, às vezes, por trás de reações furibundas escondem-se projetos que só se revelarão oficialmente nas eleições de outubro. Como ensina a velha canção tropicalista, é preciso estar atento e forte.
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O segundo jogo da semifinal entre Águia e Remo é uma decisão em aberto. Os dois gols de diferença que os azulinos levam a Marabá constituem vantagem expressiva, mas não irreversível. Time de defesa firme e meia-cancha aplicada, o Águia tem plenas condições de se impor no Zinho Oliveira, mesmo lutando contra o nervosismo de correr contra o relógio.
Ao Remo, cabe defender-se sem exagerar nas cautelas e explorar o contra-ataque. Com base no primeiro jogo, Sinomar Naves deve escalar novamente três beques e três volantes. Mais retrancado, impossível.
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Jader (S. Francisco); Pikachu (PSC), Sosa (Remo), Perema (S. Francisco) e Rayro (Águia); Diogo (Águia), Lineker (Tuna) e Flamel (Águia); Rafael Paty (Cametá), Beá (Tuna) e Bartola (PSC). Técnico: João Galvão. Esta é a seleção das sete rodadas da fase classificatória do 1º turno do Parazão. Alan, Júlio Ferrari, Roberto, Billy, Euler, Branco e Marciano também se destacaram e ficam no banco de suplentes.
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A coluna é dedicada ao meu tio Raimundão Dias, que morava em Baião e partiu na última terça-feira. Tinha 80 anos e era um pescador.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 12)