Foi um vexame monumental. Nunca se tinha visto a Seleção Brasileira pisar num gramado tão devastado. Parecia picadeiro de circo mambembe. Mesmo com aquele bando de jogadores de segunda linha, o time nacional merecia palco mais decente do que o lamacento campo de Libreville, capital do Gabão, que vem a ser a 68ª seleção no ranking da Fifa. Além de tentar conduzir a bola num terreno esburacado e escorregadio, os jogadores tinham que driblar um degrau entre o campo e a pista de atletismo do caríssimo estádio financiado com grana chinesa – das mineradoras que exploram as jazidas de ferro do país africano.
São jogos (?) desse nível que evidenciam o descalabro da gestão do futebol no Brasil e o profundo menosprezo com que a CBF trata a Seleção, que é nada menos do que a galinha dos ovos de ouro. Diante do desrespeito com a história e a imagem do escrete, como esperar tratamento melhor para outros assuntos, de importância menos visível? O certo é que o contrato milionário, firmado com uma agência internacional de eventos, pode levar o selecionado pentacampeão do mundo para se apresentar em qualquer terreno baldio do planeta.
Por essas e outras, Romário ganhou pontos ao desafiar Ricardo Teixeira e Jerôme Valcke, em sessão da Câmara dos Deputados, a explicarem alguns dos temas obscuros (e espinhosos) que envolvem a Copa, a Seleção e a própria Fifa. Cabe a todo cidadão, parlamentar ou não, cobrar as respostas negadas até aqui. Acredito que, se tivessem coragem, o técnico Mano Menezes e os próprios jogadores cobrariam esclarecimentos quanto aos amalucados amistosos agendados para o escrete.
Mais do que o ridículo pasto oferecido em Libreville, com direito a um apagão de energia, a Seleção perdeu ao enfrentar um adversário sem tradições maiores e com potencial zero de garantir um teste pelo menos razoável aos brasileiros. Foi, de fato, um mero caça-níquel, que não acrescenta nada à preparação brasileira para a Copa do Mundo de 2014. A própria convocação já denunciava a desimportância do evento. Uma legião de ex-corintianos pontificava na lista de Mano, que ainda se viu na constrangedora obrigação de entregar a braçadeira de capitão ao eterno reserva Luisão. No fim das contas, nenhuma anotação válida sobre o embate, até porque todo mundo sabe que praticamente ninguém dali estará na equipe titular da Copa.
Grana na conta, mas prejuízo certo no calendário da Seleção. Tomara não tenhamos a lamentar lá na frente.
Risível foi ver a Globo – que desceu a ripa nas condições do Mangueirão naquele Brasil x Argentina – silenciar sobre o mangal do Gabão, capaz de fazer feio numa comparação com o Humberto Parente (Abaetetuba) e o Parque do Bacurau (Cametá). Só foi possível observar alguns comentários tímidos sobre a falta de pedigree do adversário, mas nenhum reparo ao terrível gramado.
Insisto nessas críticas ao local da partida porque o futebol é um esporte de habilidade e nenhum atleta consegue mostrar destreza ou categoria sobre um piso inadequado. Aliás, desde que o futebol foi inventado, a primeira das preocupações é justamente com o campo, tanto que o conjunto de regras oficiais começa justamente por esse item fundamental.
Zagallo, do alto de suas 80 primaveras, já cobra uma vaguinha na comissão técnica do escrete em 2014. O tempo passa, mas o veterano continua imbatível na arte de cavucar um bom emprego.
Luverdense e América terão, neste domingo, as atenções de uma imensa torcida paraense. Desse confronto pode emergir uma situação absolutamente nova para o Paissandu, que tropeça nas próprias pernas para obter o acesso à Série B. Bastará um novo empate entre os dois times para deixar o representante paraense com a vaga na mão – desde que, é claro, faça sua parte nos dois jogos que lhe restam. Para os bicolores, portanto, o domingo é dedicado à velha arte da secação.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 13)