Ronaldinho Gaúcho é a bola da vez. De renegado, quase página virada desse folhetim, emerge como esperança de Mano Menezes para a reestruturação da Seleção Brasileira depois da péssima participação na Copa América. Na convocação de ontem, a presença de seu nome foi o fato mais ressaltado. E é justo que seja assim.
Dos jogadores em atividade no Brasil, Ronaldinho foi o que mais se destacou nos últimos dois meses. Comanda a excelente campanha do Flamengo no Brasileirão, com atuações convincentes, liderança em campo e muitos gols, tanto que é um dos goleadores do torneio.
Depois de um início de campeonato apenas razoável, o meia-atacante reassumiu a persona de grande astro no já célebre embate com o Santos na Vila Belmiro, quando funcionou como arco e flecha da sensacional virada rubro-negra. Desconfio que cravou sua convocação naquela noite inspirada.
João Saldanha dizia, com a sabedoria habitual, que Seleção Brasileira é retrato do momento. Por esse critério, Ronaldinho tinha que ser chamado. E para ser o titular contra a seleção de Gana, no próximo dia 6 de setembro, provavelmente barrando o paraense Paulo Henrique Ganso, cuja queda de rendimento não podia acontecer em pior hora.
Mano Menezes, cuja cabeça começa a ser pedida pela parcela mais xiita da torcida, foi rápido no gatilho. Com Ronaldinho no grupo, atende o clamor das ruas e ao mesmo tempo arranja uma alternativa para ajeitar a meia cancha do escrete. Mesmo o mais desatento fã de futebol sabe que o time precisa de um criador, que PHG não tem sido.
A dúvida é saber se o certame nacional é parâmetro seguro para apostar todas as fichas em Ronaldinho. Contra defesas desatentas e marcação pouco mais do que esforçada, jogadores habilidosos costumam deitar e rolar. No ano passado, o argentino Conca comeu a bola e ganhou todos os prêmios. Hoje, não consegue convencer nem no tosco futebol chinês.
Apelar a um jogador de baixa confiabilidade nos últimos cinco anos levanta outra questão: a Seleção atual tem como alvo prioritário a Copa de 2014 ou tem como único intuito preservar o emprego do treinador? A conferir.
O desabafo abespinhado de Renato Maurício Prado, num programa do Sportv, ontem, considerando que a convocação de Ronaldinho prejudica o Flamengo, virou hit instantâneo do Twitter. Fã de RMP, acho que o jornalista foi traído pelo coração rubro-negro. Mano tem ligações óbvias com o Corinthians, mas não pode ser acusado de estabelecer preferências. Vem chamando seguidamente Neymar e Ganso, do Santos. E chamou o volante Ralf, um dos esteios do time de Tite.
Na verdade, estamos diante de um típico conflito de interesses entre clubes e Seleção Brasileira, que só seria sanado se a CBF tivesse a sensibilidade de paralisar o Brasileiro sempre que ocorresse uma “data Fifa”.
Uma confusão dos diabos pode melar de vez a já deficitária e desinteressante Série D. Tudo porque o STJD decidiu incluir o Fast Clube como segundo representante amazonense na competição. Com isso, anulou os quatro resultados do Nacional (que havia sido indicado pela Federação Amazonense de Futebol) no grupo A1 e o excluiu do torneio. O Fast terá que enfrentar cada um dos adversários para ajustar a tabela em pleno andamento da sexta rodada.
Todo o imbróglio foi criado pela FAF ao dar a vaga ao Nacional, com base no ranking nacional de clubes. O tribunal entendeu – criando jurisprudência quanto a essas escolhas – que vale o índice técnico do campeonato estadual anterior, no qual o Fast foi vice-campeão e o Nacional apenas o 4º colocado.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 19)