Foi um verdadeiro baile, como gostavam de bradar os radialistas do passado. Goleadas são sempre bem-vindas, ainda mais em estréias, mas alguns resultados acachapantes podem esconder armadilhas e trair prognósticos. De todos os esportes, o futebol é o mais fértil nesse tipo de falseta. Times que parecem jogar por música, tocados pelos deuses da bola, de repente naufragam, tudo desanda e a carruagem vira abóbora.
Chamo atenção para esse risco a partir da aparentemente inquestionável vitória do Remo sobre o Ananindeua. Foram seis gols, três em cada tempo, com direito a dribles, jogadas rápidas e articuladas, chutes certeiros. Enfim, tudo conforme o figurino desejado pela torcida, que saiu exultante do Evandro Almeida.
Apesar das cautelas, não se pode criticar o torcedor pela alegria fácil. Torcidas existem justamente para extravasar sentimentos puros. Por isso mesmo, gols em cascata galvanizam as arquibancadas. Não importa se, do outro lado, havia um adversário inferior, que a cada lance desafortunado ficava ainda mais fragilizado.
Ao torcedor é permitido que festeje sem culpas ou limites. Dos analistas, esses estraga-prazeres, espera-se que observem a tudo com mais frieza, distanciamento e objetividade. Assim, do mesmo jeito que o triunfo no Re-Pa foi comprometido pelo estágio do adversário naquele momento, o massacre sobre o Ananindeua deve ser visto com reservas e deixar os azulinos com as barbas de molho. Satisfeitos com o êxito inicial, mas realistas quanto ao seu significado.
O desenho radicalmente ofensivo, com quatro jogadores (Vélber, Gian, Samir e Helinton) preocupados apenas em atacar, funcionou à perfeição diante de um oponente que se deixou dominar desde os primeiros movimentos. Razoável supor que essa mesma formação não pode se repetir sempre, principalmente contra equipes bem ajustadas. Isto é, pode até ser reproduzida, embora com grandes riscos de insucesso.
Disposto a agredir sempre, o Remo teve inegáveis méritos na construção do placar. Marcou em cima, confundiu a saída do Ananindeua e foi ágil nas manobras a partir da intermediária. Danilo funcionou como primeiro volante, Fabrício desembaraça e simplifica o jogo. Os quatro da frente tiveram boa articulação, com destaque para Gian e Vélber. Samir tende a crescer como segundo atacante, fazendo par com Marciano. Por ora, com Helinton, fica limitado pela improvisação como centroavante.
Os problemas do Remo se localizam na linha de defesa. E não são poucos. Raul, revelação da base, é firme e está cada vez mais confiante. Precisará de um parceiro do mesmo nível quando tiver pela frente ataques mais calibrados. Nas laterais, dificuldades maiores na lateral-esquerda. Paulinho é mediano na marcação, mas fraqueja no apoio. Pela direita, uma decepção: Neto foi tímido e não aproveitou o imenso corredor que tinha pela frente num jogo fácil, que terminou com jeito de treino.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 19 – foto: MÁRIO QUADROS)








