Pensata: Em defesa de Barrichello

Por Flávio Gomes

De todas as pessoas que encontrei hoje, ouvi: “Esse Rubinho é um cagado, mesmo”, “Puta azar deu o Rubinho”, “Esse Rubinho é muito ruim”, “O cara é muito azarado, tinha de furar um pneu?”, “Esse cara é muito ruim, não vai ser campeão nunca”, “Quando a gente mais espera dele, faz isso”. E algumas variáveis sobre o mesmo tema.

Eu já tinha dessa impressão, mas depois deste fim de semana, tenho certeza. O problema de Barrichello não é ele, não são seus carros, não são seus companheiros de equipe. O problema de Barrichello é a TV Globo.

E por que a Globo, e não toda a mídia? Porque não se deve ter nenhuma ilusão. A imensa maioria das pessoas no Brasil só se informa sobre F-1 pela Globo. “Se informa” é um eufemismo, melhor corrigir. Digamos que a cultura de F-1 que a imensa maioria das pessoas tem no Brasil vem daquilo que a Globo diz. E a Globo só diz besteira. A cultura de F-1 do brasileiro médio é zero, talhada pelas cascatas globais.

Barrichello não fez nada de errado ontem, não errou ao tentar a pole com o carro mais leve, não teve azar nenhum, não foi cagado. Mas a histeria global, martelada dia após dia — e quando a corrida é no Brasil, e ele está na pole, chega a ser quase uma lavagem cerebral, uma lobotomia —, faz com que o público aqui acredite que Rubinho do Brasil tem a obrigação de ganhar, e se não ganhar, das duas uma: ou sacanearam com ele, ou é um cagado que não tem mais jeito.

As pessoas veem uma corrida de F-1 aqui com zero de informação honesta. Ontem, depois de dez voltas já era possível afirmar que Rubens não venceria a prova. Simples: não abria de Webber e iria parar cinco voltas antes nos boxes. Cinco voltas, com um carro mais rápido e cada vez mais leve, seriam mais do que suficientes para Webber voltar à sua frente do pit stop. E Kubica, também. Ambos passaram.

Rubens apostou no clima instável de São Paulo, no que fez muito bem. Larga na pole, pula na frente, vai que chove no início, todos têm de parar, a vantagem do carro mais pesado é anulada. Ou, ainda: acontece alguma merda atrás dele, Webber se enrosca, Kubica bate, fica para trás, e a vantagem é igualmente anulada.

Mas há uma desonestidade editorial clara naquilo que a Globo faz, alimentando uma expectativa que não poderá ser cumprida. Porque corrida de carro é muito mais do que essa gritaria de “Vâmo, Rubinho!”, “Não erra agora, Rubinho!”, “Acelera, Rubinho!”. Corrida de carro tem lógica, é matemática, e quem mostra um evento desses a milhões de pessoas tem a obrigação de ser honesto.

Porque se não for, as pessoas não têm elementos para entender a derrota. E se amparam na explicação que está à mão: o cara é cagado, dá azar, não vai ganhar nunca. Ou, ainda: furaram o pneu dele de propósito.

E, aí, vai-se criando a fama, dia após dia, de perdedor, azarado, cagado. Uma farsa, uma mentira. A TV mente o tempo todo. Foi assim nos anos pós-Senna, em que Barrichello, de Jordan ou Stewart, não tinha a menor chance de ganhar uma corrida, embora a TV dissesse o contrário. Porque corria contra Williams, Ferrari, McLaren, Benetton. Depois, na Ferrari, a venda de ilusões baratas era igualmente cruel, porque contra um piloto como Schumacher, Barrichello jamais seria campeão. Não seria porque Schumacher era muito melhor. Se eu for companheiro de Barrichello numa corrida de qualquer coisa, não terei chance alguma de andar na frente dele. Deem um kart para ele e outro para mim, e ele vai chegar na frente todas as vezes. Entreguem um Lada igualzinho ao meu, e não vou ser mais rápido que ele nunca, em nenhuma volta.

Mas a Globo vende a esperança, porque acha que as pessoas só vão se interessar por seu evento se houver a chance de um brasileiro vencer, mesmo se for uma mentira deslavada, como na maioria das vezes. É um engodo, e uma sacanagem com o piloto. A expectativa que se cria por seus resultados é criada na TV. OK, muitas vezes Rubens embarcou na onda, mas é o menor dos culpados.

Se a TV não se dedicasse tanto a iludir seus telespectadores tratados como otários, Barrichello não seria zoado como é há anos, pela Globo inclusive. Poderia conduzir sua carreira com mais tranquilidade e serenidade. Ele não tem a obrigação de vencer por ninguém, pelo povo, pelo país. Tem obrigação de trabalhar direito para quem lhe paga, e por ele mesmo.

Um dia depois de uma corrida normal, na qual fez o que podia fazer dentro dos limites de seu carro e de seu talento, o coitado tem de aguentar um tijolo a mais nessa construção de uma imagem que não corresponde à realidade. Barrichello pode não ser o melhor piloto do mundo, está longe disso, mas é um dos bons dos últimos anos, como outros tantos. Nem muito mais, nem muito menos. Não estaria há tanto tempo correndo se não tivesse qualidades.

Quando parar, muito provavelmente sem ter sido campeão, terá para sempre colado na testa o rótulo de cagado, azarado, lento, o que for. Pode agradecer à TV por isso. Foi ela que, nesses anos todos, disse ao Brasil que Rubens era algo que nunca foi. Talvez ele nunca entenda isso, até porque adora ser bajulado pela Globo, com seu pseudo-jornalismo esportivo meloso, ufanista e cascateiro. Mas é assim.

8 comentários em “Pensata: Em defesa de Barrichello

  1. Foi isso que eu disse, Gerson. Ao invés de “bater” no Rubinho, tem que malhar a “Grobo” embusteira.

    Ele colaborou? Sim. Quem não gosta de ser paparicado? Até agora não vi ninguém dizer não aos paparicos da “Grobo”.

    É uma faca de dois legumes, fazer o quê?

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  2. Flavio se empaturrou no Pastel e nao tomou nenhuma???
    a globo vende o peixe dela para quem nao pode fazer assinaturas de canais pagos, nao tem 1 real para ir em um Cafe’ internet e etccc… ta’ na dela, ate’ quando der. se bem que isso nao vai ser eterno.
    A grande maioria dos jornalistas esportivos do Brasil, acham que precisam somente fazer leitura de jogo de futebol e nada mais…

    acho que ha poucos que realmente conhecem F1 e nesse meio ha os que se escondem por nao passarem em frente seus conhecimentos.

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  3. Quem é esse Flávio Gomes?

    Onde já se viu uma coisa dessas?

    A Globo está certa, tem que dar muita força pro piloto da casa.

    Quem não lembra do Maguila (lutador de box) que a Bandeirantes também o colocava lá em cima?

    Esse Flávio Gomes deve ser um revoltado por nunca ter trabalhado na Globo.

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  4. Penso que o Rubinho sofreu pelo fato de achar que devia substituir Senna como ídolo da fórmula 1…isso sem falar que o galvão adora criar ídolos do nada. Hj em dia basta o cara ganhar qualquer coisinha que vira ídolo instantãneo, ver a dayanne dos santos que de repente era a melhor do mundo e na olimpíada decepcionou…dcepcionou quem embarcou no oba oba da globo e do Galvão.

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  5. Leio os textos de Flávio e Téo José com tanta constância quanto os textos do Gerson. E este texto é um espetáculo para aqueles que acham Rubens um piloto “ruim” (Barriquebra, não é Gerson, hahaha!).

    De fato, devemos admitir que Rubéns não é (e nunca foi) o melhor piloto da categoria, mas daí pintar uma imagem (nacional) extremamente depreciativa é no mínimo falta de respeito com o profissional Rubens Barrichelo.

    A Globo faz isso de forma sutil (formar imagens e opiniões) com alguns esportistas. Ela inicia afagando o profissional com o ufanismo esportivo e depreciando este com o seu humor sem graça (ver Ronaldo Fenômeno).

    Claro que ela (Globo) tem interesse em voltar a ter e ver um campeão de formula 1 brasileiro, mas não precisa forçar a barra, como tem forçado com Massa, por exemplo, que é sim apenas um piloto mediano e com certeza não é muito melhor que Rubéns (veremos ano que vem Massa e Alonso, este último um excelente piloto, apesar das vigarices com a Renault).

    A verdade é que a Globo tem de diminuir essa visão ufanista e para de dizer que Rubéns é excelente, que Massa é um dos melhores pilotos da Formula 1 atual e (principalmente) que Senna foi o maior piloto de todos os tempos! (para mim, Nelson era bem melhor).

    Globo! Deixa que o novo campeão surja naturalmente…

    Abraço Gerson!

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  6. Um belo texto do Flavio Gomes, um dos melhores jornalistas de automobilismo. Provavelmente Massa nao sera campeao, pois ha pilotos melhores que ele, como Alonso, Hamilton e Vettel. Mas com a mudanca no regulamento em 2010, pode ser que haja alguma zebra; como a Brawn este ano. Barrichelo estara na Willians apenas pela experiencia. Di Grassi e Bruno Senna tentam uma vaga, mas sao pilotos que sequer conseguiram ganhar a GP2. A grande verdade e que nao temos um talento para competir na F1 e a Bobo precisa vender o seu produto para os incautos.

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