Quando o S. Raimundo conquistou o acesso à Série C todo mundo achou que a equipe já havia alcançado seu objetivo na temporada. O técnico Lúcio Santarém, que pegou o bonde andando em plena competição, insistia que era possível ir mais longe. Essa ambição, própria de times realmente determinados, pode fazer toda a diferença no confronto final da Série D diante do Macaé (RJ).
Para o representante paraense a conquista do título brasileiro é o que falta para coroar uma temporada brilhante. Além do vice-campeonato estadual, o time fez campanha quase impecável na Série D, chegando à condição de finalista com todos os méritos e (no mínimo) em pé de igualdade com o adversário carioca.
Interessante é que a caminhada alvinegra desmente alguns preceitos forjados nos últimos anos no futebol do Pará. O principal deles é que técnico tem que ser, necessariamente, importado. O Mundico começou com Walter Lima, que buscou os reforços, selecionou jogadores e estruturou a equipe, dando-lhe os moldes táticos que permanecem até hoje.
Depois que Waltinho optou por se aventurar no Paissandu, o comando esteve nas mãos de Artur Oliveira, Carpegiane e Lúcio Santarém. O formato foi mantido, poucas peças foram trocadas e o time manteve o pique. Méritos dos treinadores, que sabiamente optaram pela simplicidade, evitando a tentação da invenção.
Outro princípio desmoralizado pelo S. Raimundo é quanto ao aproveitamento de jogadores nativos. O time, talvez com a exceção do amazonense Michel e do volante Beto, tem DNA inteiramente papachibé, o que lhe confere uma identificação especial com o torcedor santareno.
Basta observar a escalação do S. Raimundo no jogo de ontem, em Natal: o time mescla valores mocorongos (Labilá, João Pedro, Filho, Marcelo Pitbull) com enjeitados da capital (Rafael Oliveira, Trindade, Preto Marabá, Cleberton, Hallace).
A fórmula, apesar de desacreditada, deu certo. Não significa que deva ser copiada ao pé da letra por Remo e Paissandu, que cumprem jornada sofrível em 2009. Há sensíveis diferenças entre as características do futebol interiorano, até quanto aos anseios (e cobranças) do torcedor, que devem ser levadas em conta. Por outro lado, os cuidados na formação do elenco, de acordo com suas posses financeiras, merecem ser observados com mais atenção pela dupla da capital. Nunca é tarde para aprender.
O Brasileiro da Série A passa por uma gangorra nas primeiras posições que, às vezes, dá a impressão de que ninguém está a fim de ganhar. Graças muito mais à instabilidade dos concorrentes diretos, o Palmeiras se mantém na ponta da tabela, mas o futebol é raquítico, pouco convincente. Poucas vezes se viu um líder tão questionado quanto às qualidades técnicas.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 19)
Curtir isso:
Curtir Carregando...