A proposta esboçada pelo presidente do Remo de venda do estádio Evandro Almeida mereceu ontem, no Bola na Torre, o endosso de 58% dos que participaram da enquete (sem valor científico) do programa. É um indicativo do posicionamento da torcida em relação à idéia.
De minha parte, insisto nas dúvidas quanto ao êxito da iniciativa e, principalmente, quanto aos números apresentados pela diretoria para justificar o negócio. Comecemos pelo total da dívida, que no crepúsculo da gestão de Raimundo Ribeiro situava-se em cerca de R$ 6 milhões.
O dinheiro arrecadado com o leilão da sede campestre abateu esse débito quase pela metade. Depois disso, não houve despesa que justificasse o aumento do rombo. Estranhamente, o presidente anunciou um valor estimado em R$ 15 milhões e no fim de semana já surgiram informações de que a dívida chegaria a incríveis R$ 26 milhões.
Como acreditar num projeto que apresenta furos nas próprias justificativas? Ao mesmo tempo, é improvável que empresas locais sérias estejam dispostas a assumir o compromisso de entregar um novo estádio (cujo custo mínimo é de R$ 50 milhões), mais R$ 15 milhões em dinheiro, em troca da posse do Baenão. Por mais otimismo que se tenha, fica difícil acreditar que alguém se entregue a um plano tão mirabolante.
Sem entrar no mérito das questões afetivas e sentimentais que envolvem uma transação desse porte, entendo que é cedo para se buscar a solução drástica de disponibilizar patrimônio tão valioso. Se tiver um mínimo de ousadia, a diretoria tem meios de buscar sócios para a reforma e ampliação do estádio atual, empreendimento que teria mais chances de ser viabilizado. Aliás, bastaria seguir à risca o próprio programa de campanha divulgado às vésperas da eleição, que previa justamente a captação de parcerias para revitalizar o Baenão.
Chama atenção, por fim, a avidez com que os últimos gestores se lançam a projetos de venda de bens do clube, como se não houvesse qualquer outra alternativa possível. Ao torcedor, é repassada a panacéia de que o Remo voltará a ter um time competitivo e vencedor. Exemplos de desmanche de patrimônio no futebol brasileiro indicam justamente o contrário.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 21)