Por Marina Miyazaki Araújo
O infortúnio ocorrido na Fórmula 1, envolvendo Pai, Filho, Equipe, Espírito e o “Santo” – o outro piloto que não sabia de nada, mui amigo e “companheiro” de equipe – deu pano pra manga e pro macacão não-inflamável, ainda bem, “Júnior” vai precisar, sairá queimado, praticamente um torresmo depois de tudo isso, mas nada que não possa ser resolvido.
O tempo faz um bem danado pra memória. O mundo esqueceu que o maior ídolo brasileiro da F1 também teve que admitir que bateu no seu arquirrival intencionalmente e por conta própria, ninguém precisou mandar (acho), mesmo assim, é considerado herói nacional (me tira dessa estatística). E todo mundo tem certeza que ele foi pro céu.
Coisa que eu não entendo é o cara ser considerado herói por ganhar uma dúzia de “troféis” (no dialeto do futebol, para os demais: troféus) pilotando um carro impecável. Seguindo o mesmo raciocínio, vou apelar: o “piloto” de 80 anos que passa aqui na rua puxando o “carrinho de papel” no braço, fazendo as vezes de cavalo, motor, combustível, engenheiro e mágico, com velocidade e manobras impressionantes para evitar acidentes (deslealdade não é privilégio da F1), deveria ser o quê, Deus?
Mas, voltando ao imbróglio (palavra da moda entre jornalistas), imaginem Bob-Pai, o bronco, dando uma bronca em Bob-Filho; deve ter sido tão, mas tão, mas tão assombrosa e abissal, que até o pau mais torto teria virado régua de prumo na hora. É o tipo de coisa que merece uns dois pedalas bem caprichados, uma piaba, uma coça pra aprender o que é ser homem como papai: “matar a cobra e mostrar o pau” – a frase não está entre as 100.000 coisas mais elegantes do mundo, mas combina com o jeitão de Bob-Pai, que não faz a linha cara-de-paisagem-com-rabo-preso, como tantos outros pilotos e jogadores de futebol, que só falam coisas agradáveis e fofas sem compromisso.
Não acho que uma conduta irresponsável e infeliz determine o caráter de “Júnior”, apenas evidencia o quanto é criançola, mimado e, enquanto tiver o grande-pai para socorrê-lo, nunca será adulto apenas com a imitação chinfrim que faz do pai. Quanto maior o pai, mais inseguro o filho, e isso está longe de ser “mau caratismo”, já seu “companheiro” que se faz de idiota completo como se nem desconfiasse de nada e, mesmo depois de tomar conhecimento da “asneira”, não pede as contas, isto sim, é de caráter questionável e não poderia passar sem a peçonha.
E sobre a “delação premiada” – se “Júnior” contasse tudo, a FIA o pouparia – e a idéia de que o pai só abriu a boca e entregou todo mundo apenas para se vingar do ex-chefe do filho, é um tanto tacanha. Vamos ao exemplo, peguem o retroprojetor e a cartolina, vou explicar como se vocês tivessem mais de 40 anos:
Eu sei que “Júnior” é adulto e deveria saber a diferença entre o certo e errado, mas, guardadas as proporções do caso, siga o meu raciocínio confuso usando o Paulo Autran que há dentro de você e vivencie: um dia, Júnior, seu filho, menino aparentemente bonzinho, mas influenciável, é levado a fazer algo ilícito na escola, pois o colega o “obrigou”, e Júnior o faz, por vários motivos racionais, irracionais, inexplicáveis e indefensáveis, e acaba prejudicando outra criança.
Você amigo leitor, que não nasceu ontem, sente cheiro de asneira (não vou escrever “merda”, pois acho feio mocinhas escreverem a palavra merda) no ar, e coloca “Júnior” no pau-de-arara, que confessa a colossal asneira (sempre que aparecer a palavra “asneira” substitua por “merda”, se isso lhe for mais confortável). Diante da “asneira”, você abafaria o caso para que ninguém soubesse que o culpado foi Júnior? Jogaria panos quentes para que ninguém soubesse das fraquezas de Júnior que quase te matou de vergonha? Acobertaria tudo para Júnior não perder a vaga na escola? Abriria o jogo na diretoria da escola apenas para se vingar do coleguinha que sempre explorou Júnior?
Ou você faria seu filho enfrentar a verdade, mesmo que isso lhe rendesse processos, fama de dedo-duro e expusesse seu filho até as entranhas?
No fundo, Bob-Pai está errado, didaticamente falando, deveria ter deixado Bob-Filho à deriva se lascando sozinho para aprender a lição, pelo menos é o discurso de muitos educadores. Mas, quem não se lambuzaria com o filho, que atire a primeira mola.
Bob-Pai logo ressurgirá das cinzas como Fenix, arrasando com quem o cutucou com a vara curta. O que não mata, fortalece.
Purra, sumano, vá escrever bem assim lá em Cingapura… Matou a pau, resolveu o jogo nos primeiros dois parágrafos. Piquet pai, ao contrário do que pregam alguns abilolados do SporTV, é um grande cara e o campeão mais destemido (e sem apoio global!) que o Brasil produziu nas pistas. Esse texto resume um pouco disso. Quando crescer, quero ter um naco desse talento para a escrita. Um conselho amigo: leiam, meninos, leiam.
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