Retrato do subemprego

Entregadores descansam entre turnos de trabalho, na avenida Faria Lima, no centro de São Paulo.

Vigarice da “retomada da economia” começou no governo golpista

Por Fernando Brito, no DCM

O discurso da “retomada da economia”, foi inaugurado com a chegada de Michel Temer ao poder, em 2016. E não era só nas colunas dos analistas econômicos, também o “mercado” previa, no início de cada ano, uma expansão do PIB (2,7% em janeiro de 2017 e 2,6% em janeiro desta ano) que foi se concretizar em algo perto de 1%, ao afinal do período.

A realidade era substituída pelos desejos mas os indicadores econômicos permaneciam reais, desmentindo toda as marolas de otimismo que eram ideologicamente construídas.

A crise real, porém, tinha lá a sua utilidade: era utilizada como elemento “terrorista” para legitimar a retirada de direitos sociais: com Temer e com Bolsonaro, a “ameaça” de não pagar os já aposentados para tornar aceitável que não se pagasse, no futuro, aos “novos velhos”.

Tivemos outra onda, nos últimos meses, com a situação “menos pior” que nos levou a liberação de fundos públicos (FGTS e PIS). Improvável que se sustente, pelo baixo apetite de investimentos, pela imensa capacidade ociosa que não os exige, e por uma quase estagnação da renda.

Estão surgindo, porém, sinais de que o “agora a coisa vai” possa estar se transferindo também para os índices da economia.

Começou com o estranhíssimo “esquecimento” de US$ 10 bilhões – bilhões de dólares, mesmo – nas contas de nossas exportações, divulgada pelo Ministério da Economia. Veio a fuga de capitais estrangeiros em grau recorde (R$ 43 bilhões, até o dia 21) de uma Bolsa de Valores que solta foguetes com níveis de valorização recordes).

Depois, a desatenção com a alta do indicador antecedente dos preços ao consumidor, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que avançou 2,84% em dezembro, a maior em 16 anos.

Na última live presidencial, ouve-se que “a economia deslanchou”, refletindo o clima criado pela associação de shoppings que disse terem cresci mais de 9% as vendas nominais (o que daria mais de 5% de crescimento real). Logo vieram os comerciantes menores dizer que não foi assim: as vendas de Natal deste ano empataram com 2018, dizem eles e vários, identificando-se, dizem que venderam menos.

Há, portanto, algum temor de que fantasias como a do “motoqueiro incendiário”, o “navio grego”, os “dados errados do Inpe” estejam se formando também nos números da economia, malgrado a capacidade dos órgãos oficiais de aferi-los corretamente.

O verão é, tradicionalmente, uma época de elevação de preços dos alimentos, exceto – ironicamente – a carne bovina, que entra em período de safra no final de novembro. Mais que os corpos na praia, acho que vai ser difícil esconder a alta dos preços que, este ano, fez uma avant-première em dezembro.

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‘O Globo’ vê avanços na economia e sofre bombardeio de críticas na internet

O jornal O Globo, da família Marinho, publica texto neste domingo (29), assinado por Paulo Celso Pereira, onde afirma que o presidente Jair Bolsonaro encerra o ano com “avanços na Economia” e “retrocessos na Educação e Meio Ambiente”. Desde as primeiras horas da madrugada, postagens na internet, em sua grande maioria irônicas, criticam a matéria.

O texto afirma que “o ambiente belicoso não impediu o governo Bolsonaro de terminar seu primeiro ano com avanços em uma agenda econômica fundamental para pavimentar o fim da recessão, mas contribuiu para que ele não deixasse marcas relevantes em outras áreas”.

Desemprego atinge em cheio o futebol brasileiro

A grande maioria dos jogadores brasileiros tem sofrido com desempregado. São 90 mil atletas profissionais registrados e apenas  11.551 contratos ativos, isto é, quase 90% dos deles não tinha um clube. Os números são do estudo da EY encomendado pela CBF sobre o impacto econômico do futebol brasileiro – referem-se ao ano de 2018.

Na discussão do calendário, a CBF e as federações usam como principal argumento para a manutenção de datas de Estaduais que a redução destes iria causar um desemprego em massa. Mas o levantamento da EY mostra que isso já ocorre porque, na realidade, não há competições no pais que sustentem tantos atletas.

Além disso, o levantamento mostra uma disparidade grande entre os salários e jogadores da elite em relação a maioria do país. Um dado mostra que são gastos em torno de R$ 1 bilhão em salários para jogadores de futebol por ano.

Desse total, 80% (R$ 800 milhões) estão concentrados em 7% dos jogadores, ficando o restante dos atletas com um quinto. Não por acas

o a maioria dos jogadores (55%) ganha salário mínimo. Enquanto isso, 13 jogadores ganham acima de R$ 500 mil por mês.

Isso demonstra que há dois mundos do futebol diferentes no Brasil. Um que é efetivamente profissional com clubes que disputam as principais séries do Brasileiro e talvez o Paulista, e outro semi-amador travestido que oficialmente é uma atividade remunerada.

O problema é que a gestão atual da CBF para o futebol brasileiro, por meio de seu calendário, prende o primeiro mundo (o profissional de fato) às necessidades do restante. Então, times grandes têm que jogar contra equipes de parca estrutura para financiar sua subsistência. Ao mesmo tempo federações de locais onde o futebol profissional praticamente não existe influenciam nos destinos da Série A.

Do outro lado, a CBF e as federações fornecem estrutura insuficiente para desenvolver o segundo mundo, do futebol semi-amador, seja para transforma-lo em um celeiro de atletas, para fortalecer e transforma-los em viáveis economicamente ou para que cumpram um papel em comunidades locais.

Um mapa feito pela EY em seu estudo mostra que a origem de nascimento da maioria dos jogadores profissionais são as costas do Nordeste, as regiões do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e do sul do país. Ou seja, locais onde a formação é estimulada pelo valor econômico e não por projetos feitos pelas entidades.

No documento, é ressaltado que o futebol brasileiro tem 250 competições organizadas. Desses, 16 são nacionais e o restante organizado pelas federações. A maioria dos campeonatos  é organizado pelas federações, e 53% deles são de divisão de base. Nesse número, estão incluídas competições femininas. 

No total, há 360 mil jogadores no Brasil, contabilizados aí a maioria de amadores. Outro sinal de que há problemas na organização do futebol nacional é de que existem mais clube inativos do que ativos: são 874 que reativaram registros na CBF nos últimos quatro anos, contra 895 inativos. De novo, Estaduais não tem sido suficientes para manter vivas essas agremiações já que o número de times cai ano a ano.

A CBF tem um mérito de ter contratado um estudo dessa abrangência para traçar um diagnóstico do futebol brasileiro. Só com um retrato detalhado é possível decidir os próximos passos. Agora, resta saber se a confederação aceitará liberar a elite do futebol brasileiro para explorar o máximo o seu ponteiam econômico, tirando as travas que a CBF lhe impõe, e ao mesmo tempo desenvolver projetos que atendam o restante do futebol brasileiro. (Do Blog do Rodrigo Mattos)

A frase do dia

“Esse rapaz (Moro) me deprime. Feio por dentro e por fora, ignorante, analfabeto, cafona, megalomaníaco e mau-caráter. E esganiçado. Antítese do sexo. Desgraçado (sem graça) e enfezado (entupido de fezes). E ainda por cima inimigo da democracia”.

Barbara Gancia, jornalista

Folha aponta perda de 80% dos assinantes

A morte dos jornais impressos é inexorável. É o que se depreende da coluna da ombudsman da Folha de S. Paulo, Flávia Lima, publicada neste domingo, em que ele revela que o jornal impresso perdeu praticamente 80% de seus assinantes, desde o ano 2000, em que a internet começou a se popularizar de vez.

“Em 2000, a Folha contava, em média, com 440.655 assinantes no formato impresso. Desde então, mais de 350.000 assinaturas foram perdidas no papel – mais do que toda a circulação atual da Folha”, diz a jornalista, que aponta a migração para assinaturas digitais. 

Hoje, a Folha tem cerca de 235 mil assinantes digitais e 86 mil assinantes da versão em papel, mas a tendência de queda do papel se acentual. “Em 2019, até novembro, a assinatura do papel caiu 13,3%. A digital subiu 17%, o que é positivo. Mas o quadro não é tão simples”, afirma a ombudman. 

“A assinatura cheia do impresso custa hoje cerca de quatro vezes a do digital. É certo que o jornal digital quase não tem custos de impressão e distribuição, mas vive à base de tecnologia —além de gastos fixos, como a mão de obra. As assinaturas e os preços cobrados no digital são suficientes para cobrir esses gastos?”, questiona.

Outro ponto importante é o fato de a Folha ter tentado explorar seus atritos com Jair Bolsonaro – que não entram na política econômica – para ganhar mais assinantes. Novembro, mês em que o presidente subiu o tom contra o jornal, foi um dos melhores do ano, com 2.640 novas assinaturas. “Nos momentos de ataques mais diretos à Folha, houve mobilização do público nos dias seguintes”, diz Antonio Manuel Teixeira Mendes, superintendente do Grupo Folha. (Do Brasil247)

Presidente do PSOL erra ao negar que EUA podem ter incentivado atos de junho de 2013

Por Joaquim de Carvalho, no DCM

O presidente do PSOL, Juliano Medeiros, tirou uma frase de Lula do contexto para fazer o tuíte lacrador sobre as manifestações de 2013, e se deu mal. Recebeu uma enxurrada de críticas fundamentadas por defender posições que o aproximam do MBL, o movimento de direita que também vê nas passeatas daquele ano um movimento espontâneo de defesa de serviços públicos de qualidade. Fosse assim, com a precariedade dos serviços prestados hoje por diferentes níveis de governo, a população estaria de novo nas ruas.

Para entender a polêmica, no entanto, registremos o que escreveu Juliano Medeiros:

“Quer dizer que as centenas de historiadores, sociólogos e cientistas políticos de ESQUERDA estão perdendo tempo ao estudar 2013 como um fenômeno social complexo que estava em disputa porque, na verdade, tudo não passou de uma armação da CIA? Discordo.”

Na entrevista de mais de 30 minutos ao jornalista Nacho Lemus, Lula não mencionou uma única vez CIA e, sempre que falava, tinha o cuidado de dizer “Eu acho”, para depois expor argumentos que permitem a conclusão de que os Estados Unidos estiveram por trás do movimento que golpeou a democracia no país, com a derrubada de Dilma Rousseff e a condenação e prisão do próprio Lula, que o tirou da disputa eleitoral que certamente evitaria a ascensão de Jair Bolsonaro.

Nacho Lemus realizou a entrevista pela TV pública Telesur, que é mantida por governos de esquerda na América Latina e tem sede na Venezuela. Nacho perguntou a Lula se existem diferenças entre as manifestações que ocorrem atualmente em vários países da América Latina e aquelas que aconteceram no Brasil em 2013.

“A diferença é que essas manifestações são feitas para conquistar direitos. As manifestações de 2013 foram feitas já fazendo parte do golpe contra o PT”, respondeu Lula.

“Elas já foram articuladas para garantir o golpe, porque elas não tinham reivindicações específicas. Não tinham reivindicação específica. As manifestações começaram como parte do golpe incentivadas pela mídia brasileira, incentivadas eu acho que, inclusive, de fora para dentro. Acho que já teve o braço dos Estados Unidos nas manifestações do Brasil.”

Na polêmica levantada por Juliano Medeiros, alguém lembrou que o protesto começou com a reivindicação de revogação do aumento de 20 centavos no preço da tarifa de transporte. Sim, é verdade.

Mas essa reivindicação foi atendida nos primeiros dias, e os protestos continuaram, com um miríade de reivindicações que se resumiam na frase “padrão Fifa”. No meio da manifestação, surgiram também placas defendendo a não provação da PEC 37, uma proposta de emenda que reafirmaria o princípio constitucional de que a investigação cabe à polícia, com controle externo do ministério público.

Promotores e procuradores não são tiras, supervisionam os policiais, para evitar abusos e desvio das investigações, mas não investigam diretamente.

É, em síntese, o que definiu a Constituição. Mas, com o passar dos anos, membros do ministério público começaram a realizar inquéritos, muitas vezes sem a participação de policiais e sem nenhum regra definida no código de processo penal.

A PEC 37 acabava com isso e, uma vez aprovada, dificilmente haveria Lava Jato. Pelo menos, não no padrão atualmente visto. A maioria do povo nem sabia o que era PEC 37, mas os jornais davam destaque a essa reivindicação. A PEC 37 acabou rejeitada, no auge das manifestações. Logo surgiram nas passeatas  cartazes de “Fora, Dilma”, ao mesmo tempo em que era proibido o uso de bandeiras de partidos políticos.

Estava, evidentemente, plantada a semente que viria dar no fruto Bolsonaro. Era a criminalização da política. Na entrevista — que Juliano Medeiros, pelo jeito, não viu —, Lula trata do tema da criminalização da política.

“A política está desacreditada, e não só no Brasil. E a quem interessa desacreditar a política?”, questionou o ex-presidente. “As elites financeiras”, ele mesmo respondeu, para em seguida desenvolver o raciocínio:

“Hoje não existe mais preocupação com o sistema produtivo de um país. Hoje, o que está acontecendo no mundo é a financeirização da economia. São grupos e grupos, centenas e centenas de fundos e você não sabe quem é o dono. Você não sabe com quem conversar. Que estão especulando. É por isso que, no Brasil, a Bolsa cresce 110 mil pontos e o desemprego cresce.”

Lula não fala em CIA por trás de movimentos que servem à criminalização da política e a movimentos especulativos que, derrubando e levantando índices econômicos, produzem o enriquecimento de uns e o empobrecimento de outros. Mas o ex-presidente dá pistas de que houve ação externa no golpe desencadeado no Brasil — no qual as manifestações de junho tiveram, obviamente, importância.

Falando sobre o papel da OEA no golpe da Bolívia, ele disse:

“Acho que o que está acontecendo na América Latina é uma articulação profunda da extrema direita liderada pelos Estados Unidos, liderada pelo Trump e seus assessores, liderada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Uma perseguição. É quase uma tentativa de destruir aquilo que conquistamos de democracia na América Latina. Aliás, em 500 anos de história, não conheço uma única atitude americana em benefício da autonomia e da liberdade de algum país na América Latina. Os Estados Unidos têm se comportado, me parece, para tentar evitar a influência da China na América Latina, para tentar enfrentar a importância da Rússia no mundo geopolítico, os americanos resolveram tomar a América Latina outra vez. Ou seja, a América Latina não tem que ter protagonismo, a América Latina não tem que ter independência, a América Latina não tem que ter política própria. São os Estados Unidos que determinam o que a gente vai fazer, e o Bolsonaro se submeteu a isso, se submeteu da forma mais vergonhosa possível, batendo continência à bandeira americana, quase que oferecendo a Amazônia para o governo americano. Isso é uma vergonha, isso nunca aconteceu no Brasil. Um país que tem autoestima, um país que tem orgulho próprio, um país que tem amor a si mesmo não pode aceitar essa submissão.”

O jornalista venezuelano lembrou que, uma semana depois da condenação de Lula pelo caso do sítio de Atibaia, um conselheiro de assuntos políticos da Embaixada dos Estados Unidos visitou o Tribunal Federal Regional da 4ª Região. “Penso que é uma vergonha, um vexame”, disse Lula, que sugeriu ao Conselho Nacional de Justiça, ao Conselho Nacional do Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal que olhem com muita atenção a submissão da Operação Lava Jato aos Estados Unidos.

“A Operação Lava Jato ameaçou a democracia no Brasil, ameaçou a Câmara dos Deputados, o Senado, todas as outras instituições e ameaçou a Suprema Corte várias vezes.

Lula lembrou que, quando prestou depoimento a Moro, já vinha observando a quantidade de viagens que membros da Lava Jato, incluindo o juiz, fizeram aos Estados Unidos, especialmente ao Departamento de Justiça. “Nós temos inclusive vídeos de procuradores americanos felizes com a minha prisão. Agora, um representante político da Embaixada visita um tribunal que passou meu processo na frente de 1941 processos, um tribunal que não votou o meu processo, votou o desrespeito à Suprema Corte, foi um desafio. Essa gente não pode ficar impune”, comentou.

Lula disse que a visita do representante político da Embaixada é uma ofensa à soberania do Brasil e um dia os membros da Lava Jato serão responsabilizados pelos prejuízos causados ao país, especialmente à economia. É claro que os Estados Unidos não organizaram diretamente as manifestações de junho de 2013, mas deram sinais de que queriam o enfraquecimento do governo de Dilma Rousseff.

Os arquivos revelados por Edward Snoden, ex-agente da CIA e analista da NSA, revelam que o Brasil, entre 2010 e 2012, foi o país mais espionado pelo serviço secreto americano, com base em dados interceptados. A própria Dilma foi interceptada.

O Brasil tinha assumido protagonismo geopolítico e tinha também descoberto as maiores reservas de petróleo do século XXI. Ignorar esses fatos é contribuir para a mistificação da história.

É claro que as manifestações de junho de 2013 tiveram outros motivações além de uma possível ação externa. Assim como, em 1964, houve, de fato, ação de grupos religiosos na organização de atos para derrubar João Goulart. Mas, no essencial, quem garantiu o golpe de 64? O governo americano, como já está fora de questão. No futuro, se saberá com mais nitidez quem esteve por trás do golpe que teve seu marco inicial nas manifestações de 2013. Que grupos foram financiados e por quem.

Hoje, negar a possibilidade de ação externa nos atos preparativos do golpe, incluindo aí as manifestações de junho de 2013, é, no mínimo, ingenuidade. O Brasil daquela época tinha muitos problemas, inclusive de serviços públicos, mas, às vésperas de sediar uma Copa do Mundo e se tornar vitrine do mundo, era reconhecido mundialmente por seus êxitos, como um país de quase pleno emprego, em meio à crise mundial, e a ascensão do que se chamou à época de uma nova classe média.