
POR GERSON NOGUEIRA
A evolução de Papão e Leão nas últimas rodadas dos campeonatos que disputam, Séries B e C, respectivamente, está diretamente associada à destacada participação de dois meias de ligação que extrapolam as exigências e limites habituais da função.
Além de assumirem a responsabilidade pelas tarefas mais criativas de suas equipes, Pedro Carmona e Rodriguinho participam ativamente de ações ofensivas, transformando-se em verdadeiros atacantes se o andamento da partida permitir.
As semelhanças dos papéis também encontram eco na trajetória de ambos no futebol paraense. Rodriguinho chegou ao Remo depois de Carmona, mas teve praticamente a mesma quantidade de partidas, pois ficou fora do time titular durante muito tempo.
Chamou atenção da torcida, durante a gestão de Givanildo Oliveira, pelo golaço de fora da área marcado em Re-Pa valendo pela fase decisiva do Campeonato Paraense. Entrou naquele jogo, deu sua contribuição ao título estadual e depois não voltou mais.
Na Série C, seguiu no ostracismo e ia deixar o clube quando Artur Oliveira resolveu resgatá-lo para integrar um quinteto ao lado de Dudu, Brasília, Rafael Bastos e Everton. A chance foi bem aproveitada e o Remo pela primeira vez na temporada passou a tratar a bola com criatividade e zelo.
De estilo técnico, Rodriguinho caiu como luva na nova composição de meia-cancha. Pela regularidade e importância tática, acabaria herdando o papel de organizador com as saídas de Artur, Everton e Rafael.
Sua movimentação a partir do meio é o ponto de equilíbrio do novo Remo estruturado por João Neto. Sem ele, o time fica previsível, apelando para o chutão e a ligação direta. Além disso, Rodriguinho é especialista em arremates de fora da área, cobrando faltas com grande perícia.
Por seu turno, Carmona não conseguiu ajudar o Papão na luta pelo tri estadual, mas deu inestimável colaboração na Copa Verde, fazendo o gol que garantiu o título diante do Atlético-ES, no Mangueirão.
Castigado por lesões crônicas e com dificuldades para adquirir condições plenas de jogo, andou desfalcando a equipe no começo da Série B. Chegou a sair apupado no jogo contra o S. Bento após jogar por apenas 20 minutos.
Seu resgate ocorreria pelas mãos de Guilherme Alves. Por coincidência, as quatro rodadas sob o comando do novo técnico marcaram também o renascimento de Carmona, que atuou muitíssimo bem contra o Oeste, em Barueri, participando do lance do primeiro gol.
Manteve o nível contra Guarani e foi um dos melhores frente ao Figueirense, cobrando faltas e organizando e até fazendo um gol de cabeça, como um aplicado centroavante. Voltou a atuar bem contra o Atlético-GO, em Goiânia, apesar do revés.
A rigor, pela primeira vez, Carmona é visto como titular incontestável no PSC, ao contrário do que ocorria na era Dado Cavalcanti, quando carregou a pecha de jogador “bichado” e era tido como descartável.
A esses dois armadores reabilitados, de estilo meio à moda antiga, cultores do esmero no chute e no passe, que não usam 10 nas costas, a dupla Re-Pa deve a atual fase positiva, que rendeu quatro vitórias nos últimos dez dias. O futebol às vezes nos premia com o improvável.
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As sombrias perspectivas da eleição azulina
Os bastidores fervilham no Remo com vistas à eleição presidencial no final do ano. O time ainda luta para se manter na Série C e já é possível observar pré-candidatos se lançando à rinha. Certas articulações juntam o não tão novo ao obsoleto absoluto, a falta de inspiração à ausência de competência, deixando entrever perspectivas sombrias para o clube.
Impressiona nesta fase de apresentação de nomes a carência de jovens lideranças, confirmando que a parvoíce e a pesporrência continuam a ditar as regras no desinteressante e previsível processo eleitoral azulino.
Até mesmo o veteraníssimo atual presidente alimenta pretensões de continuísmo, em total dissonância com os novos tempos e as exigências das estruturas profissionalizadas do esporte. Nem sombra de atualização ou reciclagem. Nada de inovação ou modernidade. Nenhum sinal de grandeza em nome da instituição.
É como se o Remo, potência popular por excelência, fosse mera capitania hereditária, joguete nas mãos de senhores ungidos por desígnios dos céus. Até quando os jovens (refiro-me à idade mental) leoninos irão esperar para tomar as rédeas da agremiação?
(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 03)