Os caminhões de Carille e a imprensa

Por Alberto Helena Jr.

Posso entender a frustração que deve ter se apossado do nosso querido Carille quando viu passar diante de sua casa o comboio de caminhões cheios de petrodólares para descarrega-los na varanda do murruga ali da esquina – ó, raios!

Mas, daí a descarregá-la sobre a imprensa que noticiou a probabilidade de ele ser o destinatário desse presente vai uma distância igual à percorrida de Riad, na Arábia Saudita, à Zona Leste de São Paulo até chegar em Lisboa.

Chego a essa conclusão, sobretudo, depois de ver o pai de Carille na televisão declarando que o filho havia lhe dito que a proposta árabe era simplesmente irrecusável. Quer dizer, então, que havia, sim, uma proposta. E que Carille estava ciente dela a ponto de comentá-la com ninguém menos que seu próprio pai. Portanto…

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A imprensa brasileira comete barbaridades, é verdade. Não só na manipulação das informações como no trato verbal que se lhes dá. Neste campo, então, comete atrocidades a cada instante, assemelhando-se às que se repetem sem fim nas escolas americanas, onde não só trucidam o idioma e o conhecimento em geral como também vidas inocentes.

A bem da verdade, ainda neste domingo, lendo a coluna do incomparável Janio de Freitas, na Folha, que dava um toque a respeito, confirmava comigo mesmo que o jornalismo praticado hoje em dia pouco tem a ver com aquele que aprendi nas redações do meu tempo – e lá já se vão mais de sessenta anos de ininterrupta atividade nesse ofício (comecei muito garoto, com 15 anos, diga-se).

O mundo deu voltas, a TV tomou conta da cena jornalística promovendo o showrnalismo e abrindo espaços pra qualquer celebridade, seja ou não um profissional do ramo. Em seguida, veio a Internet e suas redes sociais, espaço mágico em que qualquer um pode opinar a respeito do que quiser sem a necessária formação técnica e ética pra tanto – o que, se de um lado abre espaço para a opinião pública se manifestar diretamente, sem freios, de outro pode também conduzir a equívocos irrevogáveis.

A tal da última flor do Lácio inculta e bela do poeta reduziu-se a meras cinquenta palavras e um farto dicionário do idioma do Império, que, dentro de duas gerações, no máximo, será língua oficial deste país, belo e inculto até a raiz.

Mas, não me parece seja o caso presente. Aqui, a imprensa noticiou um fato que era evidente para todas as partes envolvidas. Fato que se alterou nas últimas horas, provocando a ressentida declaração de Carille, que, a estas alturas já deve estar arrependido do que disse depois do empate do Corinthians com o Sport, em Recife, por 1 a 1.

Como se diz por aí, faz parte, meu.

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