Quatro anos

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POR FLÁVIO GOMES, no site Grande Prêmio

RIO (só torcer) – Da mesma forma que a cada 1º de maio somos impelidos a falar de Senna, a cada 29 de dezembro, desde 2013, nós que trabalhamos com automobilismo nos sentimos na obrigação de falar de Schumacher.

Ele não morreu, ao menos não do ponto de vista legal. Mas apagou há quatro anos num tombo de esqui e nunca mais acordou. É quase a mesma coisa.

Sua situação — já devo ter dito, ou escrito, ou ambos — é mais triste que a de Ayrton. O brasileiro não agonizou por dias, semanas, meses, anos. A morte foi instantânea, horrível, violenta, trágica, mas tudo se encerrou ali. O drama de Schumacher é duradouro e angustiante. Também já devo ter dito isso algumas dezenas de vezes, mas nunca deixo de me fazer muitas perguntas: o que será que se passa com quem está numa situação como a dele? Seu cérebro funciona? Seus pensamentos ainda fluem? Ele tem vontade de morrer? Consegue se comunicar? Ouvir? Ver? Sentir? Existe uma alma ali dentro? Ela já se foi? Aquilo é apenas um corpo humano em funcionamento com ajuda de aparelhos? Tecnicamente ele está vivo? O que é estar vivo tecnicamente? Faz algum sentido isso?

Torço muito para que não haja atividade cerebral nenhuma, porque não consigo imaginar nada pior do que estar aprisionado num corpo sem conseguir se mover, falar, enxergar, escutar, dizer a alguém o que sente, onde dói, o que quer, numa espera interminável pelo fim.

Já devo ter publicado essa foto aí em cima várias vezes, também. É a única que tenho com Michael, porque o Miguel Costa Jr. tirou — não tenho fotos com pilotos, quando alguém for escrever minha biografia (ninguém fará isso) vai achar que é mentira que cobri Fórmula 1 por 18 anos em todas as corridas porque simplesmente não há registros fotográficos. Ninguém ficava tirando foto de qualquer coisa nos anos 80/90/2000, até surgirem os celulares com câmeras capazes de compartilhar imagens, e quando isso aconteceu eu já estava fora.

É de 2006, a última coletiva dele como piloto da Ferrari, na véspera da despedida em Interlagos. A Ferrari me pedia para apresentar esses eventos e eu ia na boa e ainda me pagavam uns cobres. Achava divertido, e esse dia foi, realmente. Ao final, o pessoal do “Pânico” fez uma pergunta. Eu deixei para o encerramento mesmo, para eles não zoarem a entrevista toda. E foi boa: amanhã, já aposentado, se você acordar e olhar no espelho e aparecer a imagem do Barrichello, o que você faz? Eu achei engraçado, traduzi para ele (acho que a foto é desse momento), ele riu e sem dizer uma palavra fez um gesto esfregando os olhos, que podia ser interpretado como “eu tentaria acordar do pesadelo” ou “eu choraria”. E acabou a coletiva com todo mundo dando risada. Mas aí o doido do “Pânico” (ouvi dizer que o programa vai acabar, é verdade?) pediu para eu entregar um presente ao Schumacher, e me deu uma tartaruga de plástico. “Se chama Barrichello!”, gritou o rapaz.

A coletiva estava terminada, todos no recinto curtiram a galhofa e foram cuidar de suas vidas. Mas os fotógrafos, claro, registraram o momento em que Schumacher fez um gracejo com a tartaruga batizada de Barrichello, colocou um boné sobre ela e a imagem foi destaque nas primeiras páginas de jornais e portais do mundo inteiro. Rubinho, que estava na Honda na ocasião, ficou puto, achou que fui em quem armou aquela arapuca (ao menos é o que me disseram; nunca entendi por que ele achou isso, eu jamais teria a ideia de dar uma tartaruga a um piloto) e, por causa disso, nunca mais falou comigo. Paciência.

Sempre admirei demais Schumacher. Em 1991, fui o primeiro brasileiro a fazer uma entrevista com ele no modelo que, em jornal, a gente chama de “ping-pong”, com perguntas e respostas. Não lembro se foi em Spa, mesmo, na estreia, ou em Monza, na corrida seguinte, quando ele tirou o lugar de Moreno na Benetton. Acho que foi em Monza. Não deve ser difícil encontrar no site do acervo da “Folha de S.Paulo”. Claro que, na primeira ou na segunda corrida de sua vida, não seria possível imaginar onde chegaria. Dava para ver que era bom, claro, e a situação toda que envolveu sua chegada à F-1 ajudava a fazer dele uma boa história. Michael, para quem não lembra, substituiu de última hora Bertrand Gachot, que havia sido preso em Londres por se envolver numa briga de trânsito e jogar gás paralisante na cara de um motorista de táxi.

O caso era ótimo, um piloto belga preso às vésperas do GP da Bélgica, comoção nacional, seus colegas vestindo camisetas onde se lia “Free Gachot”, o asfalto de Spa pichado pelos torcedores, a Jordan sem ninguém para o lugar, e a Mercedes, que tinha algumas intenções ainda não muito claras para a categoria, pagou 300 mil dólares ao time estreante para alugar a vaga. Eddie Jordan, figura interessantíssima que hoje é comentarista de TV, aceitou a grana, claro, e colocou aquele alemão queixudo para correr. Schumacher fazia parte da equipe Sauber-Mercedes no Mundial de Protótipos e era apadrinhado da fábrica. O resto, como se diz, é história bem conhecida.

Muita gente me pergunta sobre Schumacher, se tenho alguma informação, se sei algo. Não, não tenho e não sei. Apenas tenho a convicção de que a próxima notícia que teremos dele será a da sua morte.

Galeria do rock

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Patti Smith, fotografada por Robert Mapplethorpe.

Direto do Twitter

“Jurista e professor Luiz Moreira:’Tem alguma mala contra o Lula? Tem algum recibo contra o Lula? O presidente Lula tem alguma conta secreta? Existe alguma gravação contra o Lula?'”.

Helder Salomão, no Twitter

Rock na madrugada – Rita Lee, Vírus do Amor

https://www.youtube.com/watch?v=RGZL4aUSO4E

Com Serginho Dias Baptista na guitarra solo. Grande momento do rock brasileiro dos anos 80.

2018 começa no dia 24 de janeiro

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POR FERNANDO BRITO, no Tijolaço

O ano político, claro, começa com o julgamento, com sentença razoavelmente previsível, do ex-presidente Lula no dia 24 de janeiro.

O mais provável  – resta sempre a esperança em algum nível de lucidez dos seres humanos – é que comece ali a experiência, inédita no Brasil, de uma eleição onde o conservadorismo pretende contar a possibilidade de uma disputa interna da direita, apenas.

Geraldo Alckmin, Rodrigo Maia, Henrique Meirelles e Marina Silva, entre si, crêem que travariam um “jogo de compadres”,  deixando que a mídia e a falta de tempo de televisão mantenham Jair Bolsonaro no patamar entre 15 e 20% do qual não se vislumbra possa sair.

Ciro Gomes, com os arroubos do seu individualismo, tem um ponto de partida mas não tem mostrado capacidade de somar, para que seja um ponto de chegada, infelizmente.

Lula continuará em campanha, independentemente do resultado do julgamento, até que possa medir os efeitos do trauma de ter-se o candidato com imenso favoritismo extirpado do processo eleitoral.

É ele que dará ao ex-presidente a observação necessária entre insistir, como deve fazer,  ou de indicar um candidato. Alguém que pode, até, começar de baixo, mas que terá a unção do “ele disse”. Só muito desespero poderia levar a uma decisão de prisão imediata de Lula, com consequências imprevisíveis, exceto na radicalização política que irá causar.

Há, portanto, um divisor de águas no julgamento do TRF-4, em Porto Alegre: ali decidir-se-á se teremos uma eleição democrática e livre ou se optarão por um processo de traumas sucessivos.

Atalhos para alcançar o poder são, sempre, caminhos cheios de despenhadeiros. O PSDB jogou fora uma vitória praticamente assegurada em 2018 quando resolveu apelar para o golpismo e é agora o mulambo que todos vêem.  Marina Silva, duas vezes “azarão” expressivo, cometeu um erro fatal ao emprestar-se a Aécio Neves no segundo turno de 2014 e é hoje um macarrão sem sal e sem molho, incapaz de agradar ou empolgar.

As candidatura de Meirelles e/ou Rodrigo Maia precisarão ser “inventadas” e podem “morrer” precocemente com a derrota da emenda da Previdência.  E não está fácil ser diferente disso, ainda mais porque, apesar do discurso oficial da “retomada da economia”, o panorama continua desalentador  quando sai dos jornais e vai para a poeira das ruas.

O povão observa e espera e as pesquisas dão sinal de que cai, até entre a classe média, o altar da Lava Jato e, com ele, a perspectiva de que se possa legitimar a exclusão de Lula.

Infelizmente, parte de uma autointitulada esquerda “purista” caminhou para um udenismo “cult” e reproduz, com punhos de renda, o discurso moralista de que se vale a direita para encobrir a exploração cruel que tem como projeto – mal se pode chamar assim – para o país.

Serão tempos muito duros, os meses de 2018 e precisamos conservar a cabeça lúcida e fria e manter os corações quentes.

Os índices obtidos por Lula, depois do massacre do qual foi vítima, mostram a força da memória da população.

Não somos nós, da classe média,  quem estamos mostrando a ela os caminhos que deve seguir. É ela, no seu instinto de sobrevivência, quem nos está ensinando.

A frase do dia

“A modéstia é uma virtude essencial para quem deseja ser como Jesus, manso e humilde de coração.”

Papa Francisco

Mídia italiana detona Renato Gaúcho

https://www.youtube.com/watch?v=TP4d8qO0dSM