O encaixe perfeito

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POR GERSON NOGUEIRA

Técnicos costumam ser execrados pelas mexidas que fazem nos times durante as partidas. A possibilidade de erro é imensa, pois o êxito da operação não depende exclusivamente do perfil do jogador que entra para substituir alguém que esteja indo mal. Muitos fatores interferem no processo.

Por vezes, o jogador escolhido para resolver os problemas do time entra e consegue ser pior do que o substituído. Do lado de fora, o torcedor fica na expectativa das ações do técnico, sempre esperando milagres e recriminando trocas inadequadas, de seis por meia dúzia ou meramente defensivistas.

Na Série B do ano passado, Dado Cavalcanti sofreu com as críticas às modificações que fazia no time do Papão. Chegou a ganhar a fama de técnico que mexe mal, que escolhe as peças erradas para substituir, que não tem a mão certa para modificar a história de um jogo etc.

Por justiça, cabe registrar que no clássico de anteontem, no estádio Jornalista Edgar Proença, Dado calou espetacularmente seus críticos mais ranhetas. Fez isso com uma mexida simples. No começo do segundo tempo, tirou o centroavante Betinho e lançou Leandro Cearense.

Betinho não jogava mal. Havia marcado o gol de empate no primeiro tempo e cumpria bem o seu papel de homem de referência na área. Teve aproveitamento de 100%, pois aproveitou a única oportunidade que surgiu. Marcou um gol esquisito, com a bola espirrando na hora do cabeceio e desviando na perna antes de tomar mansamente o rumo das redes azulinas.

Engraçado é que foi justamente a maneira atípica como a bola foi desviada por Betinho que permitiu o gol. A zaga e o goleiro Fernando Henrique foram surpreendidos pelo lance inusitado e não conseguiram reagir a tempo de evitar o empate alviceleste.

Pois Dado Cavalcanti decidiu mexer no ataque, atento aos sinais de desgaste físico dos azulinos. Injetou sangue novo, sacando Betinho para a entrada de Leandro Cearense. O que poderia ter sido uma mera troca de figurinhas resultou num grande acerto.

Cearense saiu do banco de reservas para dar uma canseira nos exaustos defensores remistas. Ao lado de Bruno Smith, que havia substituído a Rafael Luz minutos antes, o centroavante passou a trocar passes à entrada da área. Ao contrário de Betinho, Cearense sabe se movimentar bem fora da área e costuma se posicionar entre os zagueiros facilitando o chamado “um-dois” – tabela curta e rápida utilizada para iludir a marcação.

Foi justamente de uma troca de passes entre ambos, aos 31 minutos, que nasceu a vitória do Papão. O lance despertou polêmica pelo posicionamento de Smith na hora em que recebeu o passe inicial, mas é indiscutível que a manobra foi tramada com perfeição. Depois de lançado em profundidade, já dentro da área, Cearense bateu cruzado, no canto direito do gol remista.

Depois do jogo, Smith contou que repete muito o lance nos treinos com Cearense e os demais atacantes. Dado, modestamente, não fez qualquer referência ao acerto de sua mexida, que podia ter sido apenas uma troca banal de centroavantes, mas se transformou na grande sacada do jogo. Para os que lhe atiravam pedras pelas substituições, o desfecho do Re-Pa oferece a chance de rever conceitos. (Fotos: MÁRIO QUADROS)

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Dias de luta pela reconquista do torcedor

Poucas vezes se viu o Mangueirão tão despovoado em noite de clássico da Amazônia como anteontem. Muita coisa contribuiu para o prejuízo dos clubes nas bilheterias. A natureza do jogo (primeiro de dois confrontos), a chuva, os percalços do trânsito, as dificuldades de acesso pela avenida Augusto Montenegro, a concorrência da transmissão pela TV e até o horário pouco convidativo.

O fato é que a arrecadação do jogo mal passou da casa dos R$ 200 mil e o público pagante ficou na casa dos 14 mil, digno de ser inserido entre os piores números da história do principal clássico do Norte.

Há muito que a situação se mostra aflitiva para os clubes e para a própria tradição do futebol paraense. Antes orgulhoso de seus estádios abarrotados de gente, o Pará começa a conviver com um cenário totalmente inverso.

Os dias de casa cheia são cada vez mais raros. Nos últimos três anos, nenhum Re-Pa lotou o Mangueirão, mesmo com a redução de público para 35 mil lugares.

É possível observar que o futebol no Pará vive um conflito claro entre a busca por um público mais elitizado, representado pelo sócio-torcedor, de maior poder aquisitivo, e a preocupação em manter o torcedor avulso tradicional de corte mais modesto.

O problema está justamente em encontrar o equilíbrio entre as duas ações. Quando investe alto na captação do sócio torcedor, oferecendo vantagens e tratamento vip, os clubes naturalmente deixam de lado o arquibaldo velho de guerra, que junta todos os trocados para ir a campo incentivar o time de coração.

É fato concreto que quando os bares começaram a oferecer a comodidade do jogo ao vivo pela TV, com segurança, conforto e cervejinha gelada, a bilheteria dos estádios começou a fraquejar. Por isso mesmo, já vão longe os tempos de rendas de R$ 1 milhão.

Os sinais estão à vista. Se algo não for feito no sentido de reconquistar o torcedor – não apenas o ST –, logo o Pará irá se igualar a praças pouco afeitas a frequentar estádios.

Até mesmo as velhas disputas entre torcedores para saber que lado de arquibancada encheu mais estão ficando modorrentas e desinteressantes. Só pra constar, no Re-Pa de anteontem a galera bicolor levou a melhor, com 864 pagantes a mais. Como se vê, até essa discussão está ficando menor.

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Breve recesso

Por motivo de férias deste escriba, a coluna entra em recesso até o começo de maio, dando também merecido descanso aos 27 baluartes de sempre. Até a volta.

(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 22)

16 comentários em “O encaixe perfeito

  1. Rapaz, esse pretenso impedimento nem de longe se compara àquele pênalti (toque de mão) não marcado no primeiro clássico. Antes do passe do Cearense o Smith tava adiantado, mas vinha retornando e o Ítalo ficou parado, até que no momento em que a bola sai do LC eles já estão na mesma linha.
    Infelizmente não há nenhuma câmera bem posicionada e esse deslocamento do BS causa confusão. Era lance para câmera super lenta com linha de tira teima confiável.

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  2. Pelo exposto acima, respeito as opiniões contrárias e portanto penso que se o auxiliar levantasse a bandeirinha também seria motivo para discussão, muito embora o jogo já devesse estar parado antes da conclusão do LC e não haveria provavelmente gol anulado. A bronca é que saiu gol, se fosse pra fora, na trave ou nas mãos do FH, ninguém tava falando.

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  3. Concordo plenamente Mauricio, os remistas contando com o apoio de grande parte da imprensa estão querendo colocar pressão em cima da arbitragem, presidente bicolor precisa colocar as barbas de molho que estou sentindo cheiro de armação no ar.

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    1. Lá vem o velho complexo de vira-lata estragar a prosa, Adilson. É preciso manter a lucidez nesses momentos. Essa história de pressão em arbitragem não funciona mais. Pior é a afirmação irresponsável de que “grande parte da imprensa” estaria por trás disso. Não generalize, dê nome aos bois. Outra coisa: Mazola (e aquele papo furado de sistema) já saiu daqui há um bom tempo.

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  4. Gerson, todos os motivos por ti expostos, eu já falo aqui há tempos no teu blog

    O mesmo dirigente que faz festa quando assina contrato com TV e comemora adesão de ST é o que chora quando o arquibaldo vira solfado.

    Tv fechada hj qualquer um tem, quando não tem assiste com vizinho ou no bar.

    A solução é encarecer a cota nos contratos de tv e baratear o ingresso.

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  5. Edson, nao vejo que a TV sejao principal motivo, acho q a violencia pesa ainda mais. Eu, por exemplo, deixei de ir a campo, mas pela volencia do que pela TV, mesmo qaundo era so jogo do remo contra outro time de fora, via bandidos agindo no meio das torcidas organizadas saqueando a gente. Enquanto o estado nao fizer politicas de seguranca eficazes, cada vez mais vera o torcedor de bem ficar em suas casas, e cada vez bandidos frequentando os campos.

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  6. Gerson não ligue pra elas ser forem eliminados vão querer culpar arbitragem o Maischora no papim não ganhou nada é depois quer saiu também ainda teve abertado quer acreditou ser o Mazola falar quer x-men existem A Liga da justiça está em Belém eles vão acreditar kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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