POR GERSON NOGUEIRA
No duelo com o Leão amazonense, o Remo tem hoje à noite a oportunidade de se redimir perante a torcida três dias depois de ter sido alijado da disputa do Campeonato Paraense, desfazendo o sonho do tricampeonato estadual. O vexame de ter feito uma das piores campanhas de sua história no Parazão não será facilmente apagado, mas pode pelo menos ser atenuado com uma boa atuação diante do Nacional.
Mais que isso: garantir classificação à semifinal da Copa Verde, pelo terceiro ano consecutivo, tem grande importância do ponto de vista das finanças do clube, seriamente comprometidas com a eliminação do Estadual.
Caso venha a ter, como é bem provável, o Papão como adversário de semifinal, o Remo poderá em duas partidas compensar os estragos causados pela desastrosa performance no Pará. A estimativa é de que os dois clássicos possam render algo em torno de R$ 1,6 milhão, permitindo a cada clube faturar pelo menos R$ 500 mil.
Com a vantagem de poder até empatar em 0 a 0, o Remo chega ao jogo com o Naça cercado de uma boa expectativa, graças à boa atuação no Re-Pa do último domingo. O empate, cedido a 13 minutos do fim, é encarado pelo técnico Marcelo Veiga como um acidente de percurso – e, de fato, foi.
O fato mais importante a essa altura é buscar alcançar uma estabilidade que o time não mostrou ao longo de todo o certame estadual, ainda sob o comando de Leston Junior. Em apenas 90 minutos, Veiga passou a impressão de que tem um esquema na cabeça e precisa apenas de tempo para executá-lo.
O time, de maneira geral, respondeu bem ao novo comando, apresentando-se de forma mais atenta e solidária diante do Papão. Para hoje, é provável que o meio-campo tenha o jovem Edcléber acompanhando Eduardo Ramos no setor de criação e que o ataque volte a ser formado por Ciro e Luiz Carlos, grata surpresa nas duas últimas partidas.
Outra possibilidade, para o decorrer do confronto, é a utilização de Sílvio, cuja velocidade havia sido esnobada por Leston e de ausência no Re-Pa (para a entrada do contestado Potita) muito lamentada pelos torcedores.
Com ânimo renovado e nervos no lugar, o Leão terá que encarar com bravura e determinação seu irmão de selva, sob pena de sacrificar duas competições em menos de uma semana.
————————————————-
Coronel segue apanhando por falta de suporte
A ESPN mostrou ontem pela manhã o trecho de uma entrevista do coronel Antonio Carlos Nunes a respeito do atual momento da Seleção Brasileira. Naquele estilo confuso de sempre, Nunes falou muito e disse pouco. Enrolou uma explicação sobre as Eliminatórias sul-americanas, avaliando que na verdade é uma etapa classificatória, no que está certo, mas se perdeu em digressões sobre os projetos que envolvem as seleções nacionais de futebol.
É verdade que não trouxe nada de novo ao debate, muito menos se arriscou a comentar sobre o comando técnico do escrete, mas os analistas da ESPN se esmeraram em nocautear o presidente interino da CBF, atribuindo um tom excessivamente grave às suas palavras.
Nunca vi o presidente licenciado da entidade, Marco Polo Del Nero, conceder entrevistas mais brilhantes que as do coronel paraense, mas o cartola paulista sempre desfrutou de indisfarçada tolerância por parte dos analistas esportivos, sem merecer o tom azedo destinado a Nunes.
Independentemente do preconceito óbvio, sigo acreditando que o cartola nascido em Monte Alegre peca por abrir mão de uma assessoria profissional ou pelo menos se apoiar na equipe de comunicação da CBF. Confunde o cenário nacional com a provinciana aldeia da FPF, onde nada do que dizia ganhava maior repercussão.
Como dirigente máximo do futebol brasileiro, mesmo que em caráter temporário, Nunes tem a obrigação de se preparar melhor para enfrentar as entrevistas coletivas. Não se concebe mais o improviso e as tiradas de caboclo papachibé. Tudo o que diz, de bom ou ruim, ganha ressonância imediata. O jogo é bruto e ele, melhor do que ninguém, deveria saber disso.
————————————————–
A estrela solitária une o Botafogo ao Pará
Em longo papo com o amigo Paulo André Barata, com direito a comentários sobre o momento golpista que atravessamos e reminiscências do período em que ele morou no Rio confraternizando com gente do porte de Tom Jobim e Vinícius de Morais, fiquei sabendo de algo inteiramente novo sobre o Botafogo.
Confesso que desconhecia vínculos históricos do Botafogo com o Pará. Pois, segundo o genial compositor de “Pauapixuna” e “Foi Assim”, fanático torcedor do Fluminense, a mítica estrela solitária alvinegra tem relação direta com a história do nosso Estado.
Tudo porque os fundadores do Botafogo se inspiraram na estrela que encima a esfera azul da bandeira brasileira, simbolizando o Pará. Tal estrela, Spica (Alfa da Virgem), virou a marca maior do emblema botafoguense por influência direta do paraense Benjamin Sodré, irmão de Lauro Sodré e um dos baluartes da fundação do clube.
Além da necessária atualização histórica sobre tão importante símbolo botafoguense, a conversa permitiu outra descoberta. Paulo André foi jogador de basquete do Remo nos anos 60, sob a batuta do então treinador João Braga de Farias Junior, que depois viria a ser um dos mais elogiados presidentes azulinos.
Apesar de torcedor alviceleste como o pai, o poeta Rui Paranatinga Barata, Paulo envergou a camiseta azulina durante quase dois anos, embora não tenha sido titular naquele quinteto dirigido por Farias. Perdeu o bola-ao-cesto paraense um promissor ala, mas ganhamos em troca um afiado músico e compositor, que segue a nos orgulhar perante o mundo.
(Coluna publicada no Bola desta quarta-feira, 06)