POR SÍLVIO BARSETTI, do Portal Terra no Rio de Janeiro
Luiz Omar Pinheiro foi presidente do Paysandu de 2008 a 2012 e conviveu de perto com o coronel Antônio Nunes, número 1 da federação de futebol do Pará há 20 anos e recém-eleito para uma vice-presidência da CBF. A relação dos dois era protocolar, mas se deteriorou, segundo Omar, por causa do “desprezo” de Nunes pelo futebol do Estado e por “coisas estranhas” ocorridas na última eleição para a federação local, em dezembro de 2013.
O ex-dirigente foi um dos candidatos ao pleito e ficou em segundo lugar, à frente de Ulisses Sereni. Adiou o sonho de ser o mandatário da Federação Paraense pelo menos até 2017, mas questiona até hoje a derrota. Suas denúncias são graves, mas ele não quis ingressar na Justiça para tentar anular a eleição do coronel, dois anos atrás.
“Havia câmera escondida para flagrar o voto nas cabines eleitorais. Era um modo de o coronel depois checar quem votou realmente nele. Quem não deu aval a isso sofre até hoje, com a escassez de recursos. Estou falando das ligas que não o apoiaram. Além disso, houve negociação escusa, ordinária, para garantir votos, com remessas indevidas. Você entende o que eu estou falando. Interprete como quiser”.
Para Omar, o futebol do Pará não consegue mais prestígio nacional por causa da relação subserviente do coronel com a CBF. “Nos deixam em segundo plano, mas estão sempre dando um doce para o coronel, como uma chefia de delegação no exterior, viagens para acompanhar a seleção, etc”.
Pelo segundo dia seguido, o Terra tentou em vão um contato com o coronel Antônio Nunes para dar sua versão sobre as denúncias de Omar e de Ulisses Sereni – estas publicadas na segunda-feira (21/12).

DENÚNCIAS DE FRAUDE
Recém-eleito vice-presidente da CBF, o coronel Antônio Nunes foi acusado de fraude no pleito que o manteve no comando da federação paraense de futebol , em dezembro de 2013. Ele chegou ao seu sexto mandato seguido derrotando dois adversários, Ulisses Sereni e Luiz Omar Pinheiro. Mas ambos apontaram desvios graves na campanha do coronel durante todo o processo.
“Ele jamais nos forneceu a lista dos votantes. Tivemos de ingressar na Justiça para ter acesso aos nomes dos eleitores, mas nem assim conseguimos”, contou Sereni, em entrevista ao Terra .
O empresário de 41 anos, hoje diretor do futebol de base do Paysandu , foi mais além em suas denúncias. “O coronel pagou passagem aérea e hospedagem para a maioria dos representantes de ligas dos 147 municípios do Pará. Não tinha como ser derrotado. Foi uma deslealde sem igual. Para quem morava a até 200 ou 300 quilômetros de Belém, ele mandou carros e ônibus”.
Nunes negou seu envolvimento em escândalos naquela eleição. Na semana passada, ao deixar o prédio da CBF, pouco depois de ser empossado como vice da Região Sudeste, ele foi enfático ao dizer que não existe corrupção no futebol.
Ainda de acordo com Sereni, o coronel despachou enormes pacotes para eleitores do interior do Estado – destinados aos dirigentes de ligas de futebol com direito a voto na federação. “Eram bolas, redes, material vasto”. A relação dos mimos incluía camisas e agasalhos da Seleção Brasileira , numa colaboração direta da CBF. As remessas foram enviadas dias antes daquela eleição.
“O coronel Nunes é conhecido aqui no meio do futebol como um ‘Zé Mané’, totalmente inexpressivo. Se chegar à presidência da CBF, vai ser um cordeirinho dessa turma de Del Nero, Marin e Teixeira”, disse Sereni
Já Luiz Omar Pinheiro, ex-presidente do Paysandu, lamentou a derrota em 2013 com comentários públicos, naquela oportunidade, de que tinha perdido para o coronel por causa da compra de votos na eleição. Nunes recebeu 88 votos; Pinheiro, 56, e Sereni, 43.
O Terra não conseguiu contato com o coronel.