Nivelamento por baixo

POR GERSON NOGUEIRA

A Série B 2015 terminou neste sábado, com saldo técnico abaixo das expectativas. Em comparação com outras edições do campeonato, esta foi uma das mais pobres. Poucos times conseguiram se destacar, vacilando quanto à regularidade e à qualidade de jogo. Até o campeão Botafogo, dono de incontestável campanha, não teve o brilho esperado, oscilando muito ao longo da competição. Sua conquista só foi tranquila porque a concorrência conseguiu ser ainda menos eficiente.

América-MG, Vitória e Santa Cruz, também classificados, padeceram do mesmo pecado. O América até arrancou bem, mas caiu de rendimento e só levantou na reta final. O Vitória cumpriu campanha do tipo gangorra, ganhando aqui e perdendo acolá. O Santa Cruz só conseguiu engatar a ascensão nas últimas rodadas. Nenhum dos que subiram pode ser apontado como grande time. No máximo, foram equipes que erraram menos.

Quase no mesmo nível dos que subiram, Bahia, Sampaio Corrêa, Náutico, Bragantino e Papão passaram bem perto da vaga e poderiam ter tido melhor sorte. A queda de rendimento nas nove rodadas finais – por deficiência de elenco e falhas de estratégia –, explica o fracasso dos integrantes desse pelotão.

Já no aspecto individual é possível apontar jogadores que sobressaíram em meio à multidão. O time de melhores do campeonato escalado pela coluna é até bem interessante, capaz de fazer boa figura numa hipotética Primeira Divisão: Jefferson (Botafogo); Pikachu (PSC), Alemão (Santa Cruz), Ronaldo Alves (Náutico) e Diego Renan (Vitória); Willian Arão (Botafogo), Nadson (Sampaio) e Jocinei (Bragantino); Marcelo Toscano (América-MG), Zé Carlos (CRB) e Neílton (Botafogo).

O técnico é Marcelo Martelotte, que tirou leite de pedra e conduziu o Santa Cruz a um acesso que vale tanto quanto um título de campeonato. Mas a escolha poderia recair, sem configurar injustiça, no veterano Givanildo Oliveira ou em Vagner Mancini.

A revelação é Fernando Neto, do Macaé, que esbanjou vitalidade na meia-cancha de um dos times mais atrapalhados da disputa.

Já o melhor jogador da competição, pela alto nível mantido nos dois turnos e a indiscutível categoria, é o meia-atacante Nadson, do Sampaio.

Dos titulares do escrete da Segundona, Jefferson foi determinante para a confiança que o Botafogo demonstrou desde o começo do torneio. Como líder e pela condição de melhor goleiro do país, deu ao grupo a convicção de que era possível voltar à elite – e assim foi. Na suplência, Emerson, pela impecável performance no Papão, e o paraguaio Roberto Gatito Fernandez (Vitória).

Na lateral direita, Pikachu foi o jogador mais destacado, brilhando principalmente na excelente fase inicial do Papão. Depois, caiu junto com o time e pareceu afetado pelas especulações que o colocavam em vários times da Série A – e até mesmo na lista de Dunga. Seu reserva imediato é o combativo Ricardinho, do Paraná.

A zaga titular é formada por Alemão (Santa) e Ronaldo Alves (Náutico), dois beques bons no jogo aéreo e fortes na antecipação. Os suplentes são Fabiano Eller (Náutico) e Ligger (Oeste), que também tiveram bom desempenho nos dois turnos.

O lado esquerdo da defesa teve poucos destaques, mas Diego Renan foi o mais regular, com excelente papel na arrancada do Vitória. Pery (CRB) e João Lucas (PSC) são os reservas.

Willian Arão, do Botafogo, foi disparadamente o melhor volante, tendo a vantagem de saber articular as ações ofensivas. Além disso, ainda aparecia para finalizar. Tony (América) e Ricardo Capanema (PSC) são os suplentes, sendo que o volante do Papão foi prejudicado pela lesão que o afastou de boa parte do returno.

Na criação, Nadson (Sampaio) e Jocinei (Braga) brilharam intensamente. Além de executarem a transição, comandaram seus times em campo, marcando muitos gols. Daniel Carvalho, responsável pela cadência e organização da meiúca do Botafogo, e Fernando Neto (Macaé), a andorinha solitária do Macaé, são os reservas.

O ataque reúne três das principais figuras do campeonato. Marcelo Toscano (América), Zé Carlos (CRB) e Neílton (Bota) foram fundamentais em seus times para a conquista do acesso. De características diferentes, todos se destacam pela boa colocação na área e grande capacidade de finalização. Seus reservas são Navarro (Bota), Kieza (Bahia) e Richarlyson (América), que ficaram apenas alguns degraus abaixo do rendimento dos titulares.

Um time de bom nível para uma Série Bem nem tanto.

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Direto do blog

“Acredito que 2016 será um ano de bons embates, pois, com os dois grandes tendo calendários garantidos para a temporada que se aproxima, os demais concorrentes terão um fôlego a mais com a perspectiva de vaga em competição nacional. Tirando a rivalidade de lado, a vinda do Remo para uma divisão nacional abre para o Estado uma chance de subir no ranking nacional das federações. Agora é esperar que os emergentes montem equipes qualificadas e que não compareçam com os sucatões de outrora!”.

Miguel Ângelo Carvalho, projetando um campeonato estadual atraente.  

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Bola na Torre

Giuseppe Tommaso comanda a atração neste domingo na RBATV, tendo na bancada a participação de Valmir Rodrigues, Carlos Castilho e deste escriba de Baião. Começa logo depois do Pânico, por volta de 00h20.

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Acordos parecidos, repercussões opostas

Cacaio não permaneceu no Remo porque não aceitou um contrato de seis meses. Considerou a oferta desonrosa. A negociação foi criticada e a saída do técnico até hoje gera críticas sobre uma suposta ingratidão do clube.

Dado Cavalcanti topou ficar no Papão firmando contrato até maio de 2016. Se for bem sucedido no Parazão, renova para a Série B. Se fracassar, dificilmente continua. Ninguém (até agora) questionou o acordo.

Coisas do nosso futebol.

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 29) 

12 comentários em “Nivelamento por baixo

  1. Bem retratado o que foi a série B este ano. Vacilos foram determinantes para o enquadramento dos acessados. O Lobo teve a mesma oportunidade que outros tiveram como o Sampaio Corrêa que cumpriu uma bela campanha sem ser coroado. Já na série D, o fator sorte sobrou a favor do Leão em não afrontar o Botafogo antes da definição das vagas. O River foi a grata surpresa e por detalhes não ficou com o título. Faltou malícia ao time mafrense. O aspecto treinador, Dado teve a humildade de testar si mesmo aceitando um contrato a médio prazo. Quanto a Cacaio penso que mesmo que lhe ofertasse um contrato a seu anseio, outras circunstâncias seriam criadas para alijado do clube. Não era a intenção do magnata azulino aposta na estrela do treinador.

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  2. Ao Cacaio foi proposta imposta pela diretoria remista enquanto que do lado bicolor quem propôs foi o treinador.
    Ontem em belíssima entrevista cedida ao Bola de Fogo, o Dado Cavalcanti vem confirmando mais e mais o bom caráter e grande profissional que é pois visando primeiro se firmar como treinador ele quer o resultado, o título do parazão, e ai sim poder prorrogar este para as demais competições de 2016.
    Como ele diz não adianta eu querer me apegar a multa rescisória etc…
    Bem diferente de muitos enganadores que passaram por Belém!

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  3. Amigos,

    Para ver que a proposta do rival não era tão ruim, mas Cacaio, que ainda tem muita estrada pela frente, pediu demais. Dito isso, penso que o Remo fez o certo ao propor seis meses, pois Cacaio ainda é aposta no escuro e, caso demitissem ele no Parazão, o Remo teria que arcar com custo trabalhista de um ano.

    Sobre o acordo de Dado, penso que ele poderá ser ruim para o PSC no segundo momento, pois Dado poderá inflacionar seu salário para o brasileiro caso conquiste o paraense com facilidade. Porém, caso Dado não vá bem no paraense, ela poderá ser benéfica, já que o custo será “diminuto” com questões trabalhistas.

    PS.: Claro que, como bem colocou o Miguel, há diferenças entra o acordo de Dado e Cacaio, mesmo assim, a proposta do rival era boa.

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  4. Quanto a série B, realmente foi uma das edições mais fracas, creio eu, dos últimos dez anos. Nunca foi tão fácil subir! Os concorrentes ao acesso foram carrascos deles mesmos, ao exemplo Bicolor, de que ao ter certos resultados das rodadas lhe facilitando a vida, o time fazia o favor de deixar escapar por terra estas dádivas que fariam falta lá na frente.
    E o que falar dos que caíram?.
    O Ceará namorou a competição inteira como rebaixamento se livrando no último confronto de forma dramática levando o seu torcedor a loucura no apito final e ao desespero antes deste.

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  5. Gerson, coerente sua análise – virtude nata de todo botafoguense !. Acredito que os vacilos do Paysandú, em casa, contra Náutico (derrota de 1 x 0) e empates contra os rebaixados Macaé e Mogi Miri, foram determinantes para a não ascensão à Série A. Foram 7 preciosos pontos desperdiçados, que ao final da competição teriam contabilizado ao Papão os mesmos 67 pontos do Santa Cruz, vice campeão. Se tivesse ganho esses 3 jogos, teria o mesmo número de vitórias do Santa (20), perderia para este no saldo de gols, mas seria o 3º colocado. Em minha avaliação, a derrota para o Náutico marcou o início de descida da rampa do time, no 2º turno.

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    1. Apesar de todas as oscilações do time nos dois turnos, penso que o jogo que liquidou as chances de acesso foi aquele com o Mogi em SP. Caso vencesse, o Papão teria tido fôlego para continuar buscando pontos.

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  6. A situação do Dado e do Cacaio são totalmente diferentes, eu pessoalmente não vejo com bons olhos uma contratação do Dado por mais de quatro meses, as estatísticas estão ai e eu prefiro confiar nelas, os clubes acabam pro ter pelo menos dois técnicos por ano, um contrato longo pode implicar em multa alta, eu acredito que o principal problema foram as contratações que renderam muito pouco e não sei até que ponto o Dado teve participação, seria uma aposta muito alta da Diretoria um contrato de um ano, não sei muito sobre os bastidores para saber de quem realmente partiu a proposta de 4 meses. Quanto a dizerem que o Cacaio pediu demais eu discordo totalmente, o Remo deve ao Cacaio, segundo notícias, mais de R$ 80.000,00 quem diz que o Cacaio pediu alto demais, deveria imaginar a empresa aonde trabalha lhe devendo uns 6 meses de Salário e só depois disso refletir sobre as atitudes do Cacaio, estão esquecendo que ele ficou um tempo sem contrato, mesmo depois do sucesso no Parazão, se o Remo fosse um time de Palavra creio que tudo teria se acertado, se fosse um Raphael Levy no comando eu tenho certeza que Cacaio seria técnico, ele pede 1 ano de contrato, por que sabe que não vai receber metade disso e ainda vai ter que ir pra justiça, gastar tempo e dinheiro com advogado, no fim das contas se o Remo tiver um bom advogado e cumprir o acordo esse suposto um ano de contrato em dinheiro equivalem a no máximo 5 meses de salários pagos em dia. Só quem já foi pra Justiça sabe como é que é essa lenga lenga de acordos.

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  7. Não poria Jeferson como melhor goleiro, até porque faltou em muitos jogos.

    Amigo Miguel, essa sucataria no nosso futebol é interminável.

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  8. Em relação ao Dado, acho que é bom pra duas partes esse contrato, bem diferente do rival, o papão confia no Dado e na sua competência.

    Se for campeão vai pedir aumento, se não for, penso que fica insustentável sua continuidade.

    Vou torcer pra dar certo. Pois o Dado é um bom camarada.

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