POR EDUARDO ABBAS
Sabe aquele desejo de infância de ir assistir uma corrida dentro do autódromo? Pois é, está cada vez mais difícil encontrar meninos e meninas que ainda alimentem essa ilusão. Pior ainda é acompanhar um Grande Prêmio do Brasil sem a menor graça, seja nos treinos ou mesmo na corrida, parece mais um jogo de cartas marcadas onde os promotores estão apenas e tão somente preocupados com a arrecadação.
Triste situação vive o autódromo de Interlagos que era, em tempos áureos, uma das melhores pistas do calendário, foi ceifada ao meio no inicio dos anos 90 e tem seu traçado antigo sempre ameaçado de desaparecer para a construção de arquibancadas fixas, que fatalmente viverão vazias. Virar um espaço multiuso é uma questão de tempo para os atuais administradores, que acham um desperdício gastar dinheiro com esportes a motor, eles são os mesmos que cultuam arenas de futebol superfaturadas país a fora e jogadas às traças, e acham melhor misturar na pista uma série de eventos de outras áreas. Vem cá, fazer um museu e um parque temático nem pensar né?

Agora, falar o que da corrida? Dizer que os gringos ficaram alojados no meio de uma obra inacabada e que vieram para cá só pra cumprir tabela? Foi isso mesmo, sem exageros nem querer tampar o sol com a peneira, o evento só serve mesmo de descarrego de dinheiro orçado para fazer RP entre convidados e clientes.
Qual é a graça de se ir a um evento de porte internacional apenas e tão somente para tirar self com carro, jogador de futebol e displays em camarotes ricamente decorados e com comida farta? Um dia, um idiota que até hoje vive em função do automobilismo disse que “a corrida é só o motivo, a gente vem mesmo pela festa, os carros são o pano de fundo”. E parece que os que lá estiveram estavam mesmo preocupados em comer e beber.
As arquibancadas com grandes espaços vazios nem puderam se alegrar em ver uma corrida disputada. O pessoal da mortadela e suco quente foi completamente desrespeitado, o ingresso é caro e não entregam um espetáculo, colocam 20 caras pra dar 71 voltas e fazer um pouco de barulho, não existem pegas, as disputas por posições são sempre do meio para trás, e tem ainda os que vivem batendo tambor para chover e melhorar o que está uma merda. E olha que quase tomaram porrada quando resolveram invadir a pista pra acompanhar o pódio de perto. É ridículo fazerem isso com quem paga e não recebe!
No fim, o que sobrou foi o Rosberg ganhar e ser vice, o Hamilton não conseguir fazer a homenagem ao Senna, o Vettel ser terceiro na corrida e no campeonato, ninguém bateu, apenas um carro parou, o Nasr não conseguiu chegar aos pontos e o outro brasileiro foi excluído da prova. Não precisávamos de 2 horas para isso acontecer, se fosse uma bateria de 30 minutos já estava de bom tamanho, inclusive porque evitaríamos ver no pódio a figura do cabeça de bacalhau, que na verdade só aparece na Fórmula 1 para entregar um troféu e pedir boné nas equipes.