Agora é esquerda vs direita

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Por Paulo Nogueira, do DCM

Agora Aécio e aliados vão dizer que é mudança versus continuidade.

Mas não é.

Agora é esquerda versus direita. Ou centro-esquerda versus centro-direita.

Com Marina no segundo turno, se poderia levar razoavelmente a sério a hipótese da mudança.

Mas com Aécio, não.

O Aécio real, o de Armínio Fraga, tem um programa econômico que é uma réplica do thatcherismo dos anos 1980.

Thatcher, para quem não lembra, foi a real inspiração de FHC – a começar pela fé cega em que privatizações e desregulamentações eram a receita sagrada para dinamizar uma economia.

Na verdade, como o tempo mostrou em todos os países que adotaram o thatcherismo, era uma fórmula para concentrar renda e favorecer uma pequena elite que seria apelidada posteriormente de o “1%”.

No Brasil, a concentração só não foi maior porque um efeito colateral da estabilização favoreceu os pobres, que não tinham refúgio nos bancos para se proteger da inflação.

Fosse o Brasil, na era FHC, um país estável, como a Inglaterra de Thatcher, hoje provavelmente ele seria amaldiçoado como é, entre os britânicos, a Dama de Ferro.

Enxergar com clareza a oposição entre direita e esquerda vai ajudar muita gente indecisa a tomar uma posição, quer para um lado ou para outro.

A alta votação de Aécio surpreendeu, mas nem tanto assim. Muita gente antipetista se bandeara para Marina por entender que ela era a chance real de bater Dilma.

Quando, às vésperas da eleição, Aécio começou a aparecer na frente de Marina, os marinistas de ocasião voltaram para seu favorito.

Ficaram com ela, essencialmente, as mesmas pessoas que votaram nela em 2010. São eleitores que gostam de sua trajetória, e enxergam nela uma espécie de Lula de saias, com colheradas de sustentabilidade.

É difícil acreditar que a maior parte desses eleitores opte por Aécio, ainda que a própria Marina o apoie.

Também não devem ser subestimados os mais de 2 milhões de votos que tiveram, conjuntamente, Luciana Genro e Eduardo Jorge.

Os que os escolheram – tipicamente jovens idealistas – tenderão a ficar com Dilma diante do bloco de direita que se comporá em torno de Aécio.

Passada a ressaca, fica claro que parte da euforia tucana – e da mídia que apoia o PSDB — é fruto de uma estratégia de marketing destinada a convencer indecisos de que a vitória está próxima e intimidar os adversários.

É o chamado otimismo de conveniência.

Nunca, nos embates entre PT e PSDB, foi tão nítida a diferença entre as visões de mundo que os comandam.

Isso pode ser demonstrado pela opção que terão os simpatizantes de quatro candidatos com propostas opostas, Pastor Everaldo e Levy Fidelix, de um lado, e Luciana Genro e Eduardo Jorge, de outro.

Os eleitores de Everaldo e Fidelix cravarão certamente Aécio. Os de Luciana Genro e Eduardo Jorge, muito provavelmente, Dilma.

Isso conta, se não tudo, muito da escolha que os brasileiros terão que fazer em 26 de outubro.

Diga-me quem apoia você e eu direi quem você é: esta é uma frase que ajuda a entender o que está em jogo agora.

31 comentários em “Agora é esquerda vs direita

  1. Como diz o mestre Parsifal Pontes, Coordenador da campanha do Helder Barbalho, com o qual eu concordo, não existe mais partido de esquerda ou partido de direita. Ainda bem! Por isso vos digo, que vença o candidato que consiga colocar menos corrupto do seu lado no Poder!

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  2. Concordo com o Fernandes. Querer enxergar o PT como um partido de “esquerda” é muito forçar a barra, pois há muito tempo que o PT jogou às favas o seu discurso ético e em favor das classes populares para se tornar um partido tão pragmático e conservador quanto os partidos chamados de “direita”. O PT e o PSDB são tão parecidos hoje que o resultado desse 1º turno é de uma desesperança total, pois representa o continuísmo do continuísmo, seja quem for o vencedor do 2º turno.
    O medo venceu a esperança.

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  3. Bom, o que acho é que o debate político está deveras superficial e artificial. Falso, estranho. Vejam bem, não mudaram as características de esquerda e direita, mudaram os analistas. E não mudou a imprensa. Ela é a mesmíssima de 4, 8, 12, 16, 20 anos atrás. Jornais, rádios e TVs existem para isso mesmo, para influenciar pessoas, segundo críticos como Adorno e Benjamin. Por isso são especializadas em vendas. Hoje, pelo jornal Hoje, vi o Alexandre Garcia fazer uma análise ridícula da eleição, na qual ele visivelmente evitou até falar palavras que pudessem significar algum apoio à esquerda, enfatizou pequenas perdas petistas e peemedebistas no congresso e minimizou a derrota de Aécio em Minas e disse, ainda, que está fácil analisar a situação eleitoral no Rio Grande do Sul, onde o PT deve perder para o PMDB. Ou seja, é muito fácil analisar uma derrota do PT, ou um quadro favorável ao PSDB, que admitir que o contrário seja evidente. Num cálculo subliminar, tentou evitar dizer que eleitores do PSOL e do PV, e os mais à esquerda, como PCB e PSTU, migrarão para DIlma. Note, ele disse isso acabrunhado, como se tivesse vergonha de informar ou criticar com imparcialidade. Ele disse isso rapidamente, sem destaque, ou sem imparcialidade. Tratou o assunto como sem importância. Não foi imparcial. Mas disse com todas as letras e convicção que os que votaram em Fidélix, Eymael e Pastor Everaldo, certamente irão para Aécio, como primeiro ato por quem já começou a campanha ativamente. Afirmou que o voto em Marina é, por ele, qualificado, como um voto anti-PT. Não tenho certeza disso. Na verdade, desconfio de que seja exatamente o oposto quanto ao eleitor de Marina. A análise de que o voto marinista é anti-PT não faz sentido, quando este deveria, pela lógica, ir para Aécio. Não se admite no editorial da Globo qualquer alusão a uma possível transferência de votos à Dilma, ou qualquer possibilidade de vitória da petista, nem mesmo quando é óbvia. Direita x esquerda é um embate que ainda existe. Trata-se da velha disputa fundada por Marx, cada vez mais clara, óbvia e indiscutível verdade. Pobres e ricos não estão do mesmo lado. Pobres à esquerda, ricos à direita.

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  4. Visões de mundo diferentes? Pois, sim!
    Bom, mas aqueles que os escolheram que os escolheram para disputar o segundo turno, que façam bom proveito.

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  5. Se ainda há esta dicotomia política no Brasil ela não está em disputa no segundo turno do pleito presidencial. Não são de esquerda, nem mesmo os beneficiários das “bolsas”, que multiplicados pelos pretendentes à reeleição, correspondem ao fator quantitativo de.desequilíbrio em prol da conservação do poder governo.

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    1. Amigo Oliveira, não seja tão ressentido com os bolsistas. De mais a mais, esse discurso, obviamente, está à direita no debate político brasileiro. O sujeito que renega tal dicotomia é porque conscientemente sabe de sua existência.

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  6. Então chamemos assim, os das bolsas vs os dos bolsos, cheios, lógico! E o FHC chamou ontem os eleitores do PT de pobres e desinformados, logo os bicudos são ricos e informados, pode?

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  7. Políticas neo-liberal e socialista existem ambas e são bem diferentes. Os dois corners desse ring estão bem iluminados e os adversários, bem visíveis. Não há a menor dúvida de que temos os dois opostos muito bem caracterizados, inclusive nos discursos. É nítida a diferença. Volto a dizer, as políticas continuam exatamente as mesmas de antes, assim como há diferença entre democratas e republicanos nos EUA, com ambos sendo liberais, e as diferenças entre são nada sutis… Na mesma linha, PT e PSDB mantém intactos seus discursos e políticas públicas. O estado mínimo, a falta de concurso para o estado, o sucateamento do estado, a concentração de renda… resultados do PSDB. A recuperação do estado, contratação de concursados, distribuição de renda… resultados do PT. Por isso mesmo, sou esquerda, comunista e socialista. Por isso mesmo, insisto na Dilma.

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  8. A fronteira “esquerda x direita” está cada vez mais confusa na política de hoje. Essa questão das privatizações, por exemplo, é coisa do passado que ficará para a história como marco dos anos 90. Não cabe mais esse argumento contra o PSDB.

    O PSDB de hoje não tem mais essa ideia como alternativa. tanto é que os governos tucanos estaduais não privatizaram mais nada depois daquele período. Foi uma onda que passou. O que “precisava” privatizar já foi privatizado naquela época.

    Eu não sou petista nem tucano, mas acho que é saudável a alternância de poder. Depois de 12 anos de grandes avanços e conquistas sociais com o PT, acho válido um governo novo, que pregue a eficiência de gastos e da gestão pública, reformas tributária e política, estímulo ao crescimento econômico, manutenção e aprimoramento de programas sociais já existentes… Se o governo novo for ruim, que nas próximas eleições se volte ao PT….

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  9. Mas, os das bolsas não são opositores dos dos bolsos cheios. Antes, tem quereres compatíveis. Os primeiros não se importam que os segundos encham os bolsos, desde que lhe forneçam as bolsas; os segundos, querendo encher os bolsos, tem todo o interesse de continuar enchendo as bolsas. O problema é que o numerário que abastece uns e outros não brota em árvores. E problema maior ainda é que ocorrendo a reeleição ou ganhando os tucanos, a situação será a mesma.

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  10. Essa dicotomia Esquerda x Direita é o que o PT pensa que os petistas de outra (como eu) ainda acreditam. Querem levantar esse pavilhão há muito rebaixado. Mas a população não mais se seduz com tanta facilidade.
    Hoje conversando com um evangélico, ele me alertou, os eleitores de Marina, na maioria, são evangélicos e eles não votam na Dilma, porque, segundo ele, “Dilma lutou contra todas as nossas crenças, valores e princípios.” Isso é o que os pastores vão dizer em seus cultos nos próximos dias.
    A eleição de Dilma e Helder é igual aquele jogo de futebol em que o time está ganhando até nos acréscimos da prorrogação e leva um gol. Vão disputar os penaltis (eleição) com o moral baixo. E tenho dito!

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  11. Esquerda x Direita… De fato é a disputa entre a velha política, posto que, como pode se chamar de esquerda quem tem apoio e apoia Collor, Maluf, Sarney e companhia, penso que há muita direita nesse apoio a candidatura da mandataria.

    No mais, a polícia (ops, política do medo) ja está rolando solta contra o tucano, penso que isso possa ser bastante perigoso, todavia, os Trabalhadores tem o bolsa cabresto para sustentá-los no poder por mais algum tempo…

    Para finalizar, entre escolher as duas corjas que ficaram para o segundo turno, prefiro anular meu voto.

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  12. Amigo Gerson, não há ressentimento. O que há é democracia. E havendo democracia a verdade pode ser dita, precisa ser dita, tem de ser dita. Aliás, nas minhas andanças por Belem, e pelo interior do estado tive o privilégio de ser aceito como amigo por vários dos bolsistas. E eu disse esta verdade pra eles e ouvi a verdade deles, e a correspondente justificativa. O ambiente fraterno e a democracia permite que conversemos respeitosa, pacífica e tolerantemente. Foi por isso que nunca me permiti maiores ilusoes com o crescimento da Marina. E você é testemunha disso, pois escrevi isso varias vezes aqui no blog.
    Quanto à falaciosa dicotomia penso muito parecido com você: o sujeito que renega a inexistência da dicotomia é porque conscientemente sabe que ela não existe mesmo.

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  13. Amigo Antônio Oliveira, que estava sumido do blog, creio que por razões pessoais, você concordou com a existência da dicotomia ou negou?

    Particularmente, vejo que esta dicotomia não existe mais (a partir dos óculos teóricos que utilizo que está longe de ser o marxista), pois, em um mundo onde as dicotomias estão sendo colocadas em suspeição depois da explosão dos movimentos dos anos 60 e 70 (razão x desrazão, Homem x mulher, Científico x religioso e assim por diante) soa-me no mínimo antiquado recorrermos a ela para justificar voto em uma suposta esquerda que não existe mais.

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  14. Amigo Celira, bom dia pra você. Não sumi porque é difícil deixar de dar um gole, ainda que esporádico, nesta “cachaça” que é o BGN. Mas, de fato, por uma nuvem de embaraços relacionados à enfermidade de gente próxima, a qual já vai se dissipando, não pude vir aqui mais frequentemente.

    Quanto à dicotomia, eu me posiciono contrário a sua existência. Aliás, já escrevi a respeito aqui no blog. Hoje a prática dos políticos, dos partidos e dos governantes mostra que não existe dita polarização.

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  15. Amigo, Gerson, volto a dizer que tenho opinião semelhante a sua: independentemente da sua respeitável vontade, e de quem quer que seja, é fato que a dicotomia não existe na prática dos políticos, dos partidos e dos governantes. E digo isso também por constatação, não que me agrade dizer, e muito menos constatar. Mas, desenganadamente, no Brasil, impera a direita, nos políticos, partidos, e, principalmente, no governo. e o bolsismo é a principal demonstração desta verdade enquanto prática.

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  16. Osvaldo, ao meu jeito, eu me reportei sobre quem banca, quando disse que o numerário que abastece as “bolsas” e os “bolsos cheios” não brota em árvores. Mas, de todo o modo, é muito bem vindo o modo bem específico com o qual você se expressa.

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