Por Rodrigo Vianna
Os corpos ainda não haviam sido localizados. Os bombeiros ainda procuravam as caixas pretas do avião em que viajavam Eduardo Campos e mais seis pessoas. Mas o “mercado” e a gloriosa mídia brasileira já faziam suas contas.
O Blog da Maria Frô captou bem essa onda que foi invadindo a internet durante esse trágico 13 de agosto. A “Veja” especula com números da Bolsa. A “Folha” adianta-se e faz pesquisas, já perguntando: “ontem, o candidato Eduardo Campos morreu em um acidente de avião; na sua opinião o PSB deveria: 1 lançar Marina Silva como candidata a presidente, 2 lançar outro candidato…”
Começo da tarde: comentaristas da “GloboNews” tentavam estabelecer o “novo quadro político”. No rádio, uma “analista de mercado” dizia que a morte de Eduardo (os outros seis mortos nem são levados em conta) cria “um fato novo” na campanha eleitoral.
A analista chegou a dizer que isso poderia ser “positivo para o Brasil”.
Há certa excitação no ar. Excitação mórbida. Comentaristas gagos, acadêmicos globais e outros quetais animam-se com a possibilidade de que Marina seja candidata e ajude a levar a eleição ao segundo turno. É a torcida da revista “Veja”. Torcida que se exalta, sem respeitar os mortos, nem as famílias, nem nada mais.
Não me espanta. Tenho ouvido coisas incríveis pelas ruas. O Brasil está envenenado.
Sim, Marina pode ser candidata. O DataFolha já registrou até pesquisa eleitoral com o nome de Marina Silva na corrida.
A elite brasileira tem pressa. É preciso definir o que fazer. Qual será o canto de sereia a convencer Marina? É preciso sondar humores.
FHC, numa rádio, respondia que a entrada de Marina muda tudo. “Não sei se ganha, mas aumenta a chance de segundo turno”.
Esse é o papel (falta combinar com a ex-ministra) reservado a Marina, nos sonhos de colunistas, comentaristas gagos e urubus de toda ordem: levar a eleição pro segundo turno, carregando o cadáver de Eduardo se preciso. Desde que no segundo turno esteja Aécio, e não a própria Marina.
Mas o quadro se complica. O eleitor nordestino de Eduardo é muito sensível ao que indicar Lula. O ex-presidente guarda um silêncio respeitoso, enquanto revistas da marginal e marginais de revistas fazem cálculos, contas e insuflam a onda de ódio no Brasil.
Tudo isso por cima dos cadáveres de Eduardo e das outras vítimas do acidente.
Marina é útil? Ótimo. Falta combinar com o eleitor.
“A imprensa é tão importante que minimiza o que silencia e maximiza o que anuncia”
Papa João Paulo II
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É, mesmo a vida tendo de continuar, há que se ter um pouco de serenidade em certos momentos.
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Os abutres em cena.
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Discordo Antônio Oliveira. Como dizia o poeta Cazuza: O tempo não pára. A imprensa está fazendo especulações necessárias. Por sinal, antes mesmo da mídia nacional especular, a imprensa estrangeira ja especulava sobre quem sucederia Campos. Esse é o papel da imprensa. Mesmo que o momento seja difícil, politicamente.
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Para mim, o autor do texto crítica parte da imprensa, mas faz o mesmo. Por sinal, palavras muito infeliz, ou será que os nordestino vivem sob o cabresto de determinados políticos?
Veja a passagem:
O eleitor nordestino de Eduardo é muito sensível ao que indicar Lula. O ex-presidente guarda um silêncio respeitoso, enquanto revistas da marginal e marginais de revistas fazem cálculos, contas e insuflam a onda de ódio no Brasil.
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Para mim, o autor do texto crítica parte da imprensa, mas faz o mesmo. Por sinal, palavras muito infeliz, ou será que os nordestino vivem sob o cabresto de determinados políticos?
Veja a passagem:
O eleitor nordestino de Eduardo é muito sensível ao que indicar o ex-presidente.
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Celira, concordo com você que o autor do texto postado faz o mesmo. Concordo com você e com o Cazuza. Afinal, o tempo realmente não para. Tanto que eu mesmo escrevi que ‘a vida precisa continuar’.
Aliás, eu mesmo, enquanto ainda não se confirmara a morte do Eduardo Campos, pensei que acaso o pior se confirmasse e a Marina assumisse a cabeça da chapa eu votaria nela. Mas, recordo que imediatamente rechacei este pensamento e me reprovei por tê-lo articulado naquele momento, exatamente naquele momento, quando as chamas e a fumaça da tragédia ainda não haviam nem se dissipado.
Quer dizer, se eu reprovei a mim mesmo, não poderia jamais aprovar o que fez a mídia, inclusive a estrangeira e o próprio autor do texto postado.
Mas, creia, apesar de pensar diferente, eu respeito seu ponto de vista. Até porque sei da necessidade de que existam aqueles que se disponham a tocar o barco enquanto os outros menos afeitos à certas tormentas estejam nauseados.
Mas, que é preciso serenidade, ah isso é. Ou não?
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* pára
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Concordo, amigo Antônio Oliveira, deve-se ter serenidade. Penso que imprensa brasileira foi até bastante serena. Não fazendo especulações por um bom tempo nos jornais e plantões. Todavia, uma hora ela teria que tocat no assunto. Faz parte da imprensa. Faz parte da vida de jornalista. Afinal de contas, quantos jornalistas largariam o furo para salvar uma vida? Logo, falar dos encaminhamentos é algo até normal. Óbvio que há exageros, como encomendar pesquisas e fazer prognósticos para a eleição.
Para terminar, este episódio é muito emblemático para mostrar como funciona a imprensa.
Aquele filme quarto poder é muito interessante sobre o papel e despapel da impresan como um todo.
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Prefiro notar que a imprensa, pela própria natureza (e complexidade) de sua missão, tem costas larguíssimas e aceita todo tipo de julgamento. Vida que segue.
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É isso aí, meu amigo. A propósito, achei ótimo o “despapel”.
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Mesmo que Campos fosse candidato há muito tempo sempre houve pesquisas colocando Marina como opção ao eleitor e (como se fosse) a melhor opção ao PSB… “Se fosse Marina em vez de Campos, haveria segundo turno” e coisas assim nunca deixaram a mídia. Pra bom entendedor… Isso é uma inexplicável pressão política sobre Campos e o PSB e também uma indefensável insistência da direita em desestabilizar mais um governo legítimo, eleito pelo povo. A história do Brasil mostra como as elites brasileiras reagem a candidatos de esquerda. E uma vez que o povo provou um governo socialista, aprovou. Esse é o terror da direita branca elitista oligárquica. Só que, uma vez candidato, é preciso respeito. Uma vez que se é vice numa chapa, é porque não se quer a atenção da mídia. Na minha opinião, Marina foi produzida, inventada, e o desrespeito, desdém, com Eduardo Campos não é de hoje. Não embarco em teorias conspiratórias e o acidente com Eduardo Campos é um acidente. A menos que se prove o contrário, é um acidente. Não encaro a especulação sobre a nova candidatura do PSB como desrespeito a Campos, mas como uma reação natural de um partido que acabou de perder um grande líder. O que é questionável é esse jornalismo especulativo que é totalmente irresponsável porque se antecipa aos fatos e tem explorado tudo como um reality show.
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