Por Gerson Nogueira
Apesar do desafio aparentemente difícil, o Papão não teve muitos embaraços para seguir em frente na Copa do Brasil. Mesmo sofrendo dois gols logo de cara, o time não deixou o Sport disparar no placar. Marcou duas vezes e isso foi o suficiente para se classificar à próxima fase da competição, embolsando a premiação de R$ 430 mil.
Foi uma derrota com gosto de vitória, pois no resultado agregado o Papão marcou três gols, sendo dois na casa do adversário. O Sport também não lamentou o revés, visto que a própria imprensa pernambucana já insinuava que o clube tinha optado pela exposição internacional que a Copa Sul-Americana propicia.
Mais do que uma eventual atitude antidesportiva do Sport, o problema decorre da incoerência dos critérios adotados pela CBF, que acaba por obrigar os clubes a optarem por conta própria (e em prejuízo da lisura dos jogos) pelas competições mais rentáveis. Seria mais prático e justo que as vagas da Sul-Americana fossem destinadas aos clubes da Série B, ao invés de privilegiar equipes da Primeira Divisão.
Quanto ao jogo em si, cabe observar que o Papão correu riscos excessivos e cometeu falhas primárias, mesmo levando em conta a pouca disposição dos donos da casa. Foi espantosa a facilidade com que o ataque rubro-negro agiu nos minutos iniciais. Zagueiros e volantes do Papão pareciam travados e até o normalmente seguro Charles exagerou nos erros de posicionamento.
A marcha do placar deixou o torcedor bicolor desestimulado nos primeiros 15 minutos. Só depois de sofrer dois gols foi que o Papão começou a se articular melhor do meio para a frente, em grande parte puxado pelas jogadas de Pikachu e Marcos Paraná. No primeiro bom ataque, um cruzamento longo provocou a falha de Osvaldo, que desviou a bola para as próprias redes.
O gol devolveu a confiança ao Papão e mais justiça ao próprio jogo, visto que o Sport não era tão superior assim para desfrutar de vantagem tão tranquila. Só que Ananias e Patrick tinham completa liberdade pelos lados do campo, fazendo gato e sapato dos marcadores. Foi numa jogadinha repetida várias vezes que o Sport chegou ao terceiro gol. Cruzamento no segundo pau e o zagueiro Reiniê perdeu a disputa para o atacante. Por sorte, a reação bicolor não tardou. Aos 43 minutos, depois de furada do beque Renê, a bola chegou a Marcos Paraná, que bateu com categoria, fora do alcance do goleiro Saulo.
O segundo tempo praticamente não teve mais futebol. O Papão se segurava com até nove jogadores atrás dando chutões para garantir o resultado favorável e o Sport se perdia em passes improdutivos e a insistência com jogadas pelo meio da área. O placar permaneceu inalterado e todos saíram satisfeitos.
Na próxima fase, os descaminhos da CBF devem permitir a repetição do enredo. O Coritiba, como o Sport, também prefere disputar a Sul-Americana a permanecer na Copa do Brasil. E o Papão, que nada tem a ver com isso, vai avançando.
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Oportunidade de influir no debate
Ao lado de presidentes de outros 11 clubes brasileiros, Vandick Lima representará o Papão e o futebol do Norte na reunião convocada pela presidenta Dilma Rousseff para hoje, em Brasília. Depois de ter antecipado sua disposição de iniciar uma ampla reforma de gestão do futebol brasileiro, Dilma começa a adotar medidas práticas.
O convite aos dirigentes levou em conta o compromisso dos clubes com a Lei de Responsabilidade Fiscal e permitirá que todos possam opinar sobre os planos reformistas do governo federal.
Vandick, como ex-atleta e atual político, deve ter muito a contribuir para que as ideias de mudança não fiquem apenas no ensaio. Como os demais gestores, deverá também expor a dura realidade dos clubes no Brasil, quase todos de pires na mão, submissos ao poder centralizador da CBF.
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Remo planeja enxugamento
O Remo parece estar começando a cair na real. Seus dirigentes fizeram as contas e chegaram à constatação de que a despesa é superior à receita. Tal descompasso contábil inviabiliza qualquer negócio, não apenas no futebol. Com um elenco inchado, beirando 40 atletas, a diretoria parece estar disposta a iniciar alguns expurgos.
A dúvida é: quem irá sair a essa altura? Somente de volantes o clube dispõe hoje de meia dúzia, quantidade excessiva para a disputa de um campeonato de Série D. O ataque tem outra pequena legião e Tiago Potiguar acaba de ser reincorporado.
Em comparação com outros clubes do torneio, o Leão tem jogadores demais para um time que ainda não está pronto. Roberto Fernandes precisa arrumar a casa para brigar pela classificação, partindo para dois compromissos fora de casa (River e Guarani de Sobral). Por essas e outras, o projeto de enxugamento do plantel deve ficar para a próxima semana.
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Até tu, São Paulo?!
Causou estranheza ontem a entrevista do atacante Alan Kardec, do São Paulo, admitindo atrasos de pagamento no Morumbi. A casa caiu. A própria mídia paulistana pareceu ter sofrido um choque. Afinal, estamos falando de um dos mais tradicionais, poderosos e endinheirados clubes do Brasil. Mal comparando, é como se de repente alguém noticiasse que a Noruega e a Suíça têm favelas.
Acontece que Kardec, até inadvertidamente, foi bem claro. Existem situações pontuais no elenco, mas sem interferência no rendimento do time, segundo ele. É de conhecimento geral que o futebol brasileiro convive com mazelas antigas, dificuldades de gestão e pouca capacidade de faturamento (a começar pelas arrecadações fracas), mas soa esquisito – e preocupante – que uma agremiação apontada como modelo administrativo esteja enfrentando aperreios de caixa.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 25)