Por Gerson Nogueira
Mais que um dérbi emocionante, o Re-Pa deste domingo será um grande teste de resistência e civilidade. Estará em jogo a capacidade de oferecer, no estádio Mangueirão, conforto e segurança à massa torcedora calculada em 40 mil pessoas. Ninguém fala abertamente, mas a escalada de incidentes violentos pode mudar em definitivo a cara do choque-rei – para pior.
O fato é que uma das mais intensas manifestações populares do Pará corre o sério risco de vir a se transformar em evento de uma torcida só. A experiência, já posta em prática em Minas Gerais sempre que Cruzeiro e Atlético se enfrentam, é a admissão clara do fracasso das forças de segurança e órgãos de fiscalização. Expõe a falência da ordem diante do fenômeno das hordas que assombram estádios e afugentam o torcedor comum.
Nos últimos anos, esforços inegáveis têm sido desenvolvidos para impedir que o futebol paraense chegue ao ponto de capitular ante as facções organizadas. Os progressos, porém, têm sido mínimos. A cada novo Re-Pa, repetem-se cenas de barbárie explícita nas áreas de acesso, no entorno e até nos ônibus que passam às proximidades do Mangueirão.
Às vésperas do Carnaval, o temor de uma tragédia provocada por arruaceiros levou a Polícia Militar a transferir o clássico de domingo para sábado, ferindo a centenária tradição de jogos entre os dois velhos rivais. A medida, que recebeu críticas generalizadas – inclusive deste escriba –, mostrou-se afinal a mais prudente, amparada em exemplos recentes e no quadro de insegurança existente em Belém.
Apesar dessa providência, cerca de 40 ônibus foram apedrejados e dezenas de pessoas foram vitimadas por assaltos e furtos dentro e fora do estádio. Sem contar as brigas ocorridas nas rampas internas e à saída do clássico.
Durante a semana, a PM, o MPE, a Justiça e os clubes reuniram para montar um amplo esquema de segurança, a fim de garantir a integridade dos verdadeiros torcedores. Na verdade, as providências definidas representam uma das últimas tentativas de preservar o Re-Pa como um jogo marcado pelo encontro festivo de duas torcidas rivais.
Caso o embate de hoje seja marcado pelas ocorrências violentas de sempre, prejudicando pessoas e patrimônios, medidas mais drásticas precisarão ser adotadas. Mesmo que, em última análise, signifiquem o triunfo dos bárbaros.
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Felipe e o esquecimento
A tragédia de Oruro, que vitimou um menino de 14 anos, alvejado por um sinalizador no jogo entre San José e Corinthians, tem um triste precedente no Pará. Em abril de 2007, antes do Re-Pa que decidiria o returno do campeonato, Felipe Matheus, de 11 anos, foi atingido na cabeça por um rojão disparado por um torcedor remista.
Felipe aniversariava naquele domingo. O foguete tinha sido turbinado com pequenas petecas de aço. Socorrido e levado a um hospital, Felipe morreu dois dias depois, devido à gravidade do ferimento.
Desde então, pouco se avançou na punição aos criminosos dos estádios, incluindo o próprio autor do disparo contra o menino. Lutar para impedir que a violência das “organizadas” sacrifique outros Felipes é o maior desafio de todos que amam o futebol paraense.
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Os senhores da bola
Meias habilidosos, Eduardo Ramos e Tiago Galhardo serão os mais vigiados em campo no clássico que abre a decisão do turno do Parazão, hoje à tarde. A razão é simples: todas as jogadas trabalhadas dos dois times passam por eles. São os homens responsáveis pela criação, desafogando a defesa na saída de bola e alimentando o ataque. Além disso, ambos têm características ofensivas e costumam chegar à área para arremates ou troca de passes.
Galhardo teve participação em boa parte dos gols marcados pelo Remo na competição, especializando-se em fazer assistências precisas. É o responsável pela organização das jogadas, embora tenha perfil de meia-atacante, o camisa 8 tradicional. Mais do que lançar, prefere conduzir a bola. Mas, diante das carências do elenco, Flávio Araújo resolveu utilizá-lo como o 10 que o Remo tanto buscava. Deu certo.
Ramos, ao contrário, chegou com credenciais de meia-armador clássico, depois de passagens destacadas pelo futebol pernambucano e rápida fase no Corinthians. Gosta de fazer lançamentos, embora se adapte bem à troca de passes com os atacantes. Pela facilidade nos tiros de média distância, funciona também como um falso atacante.
Peculiaridades à parte, o Re-Pa estará muito bem resolvido se Galhardo e Ramos forem realmente os destaques de seus times. Sinal de que a técnica prevalece sobre a força e a inspiração supera a transpiração.
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Bola na Torre
Zé Antônio (Remo) e João Neto (Paissandu) são os convidados do programa, que começa às 23h50, na RBATV. Guerreiro apresenta. Participações de Giuseppe Tomazo e deste escriba baionense.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 24)









