Por Gerson Nogueira
O que há com os campeões estaduais vindos do interior? A pergunta volta a ser feita depois que o Cametá fracassou no primeiro turno, ficando sob o sério risco de ser rebaixado, seguindo a sina do Independente Tucuruí, campeão paraense de 2011. Maldição ou incompetência?
Antes de atribuir o fracasso a forças ocultas, cabe analisar as causas terrenas. Na conquista inédita do Independente, saltava aos olhos a ausência de planejamento e as dificuldades de sobrevivência do clube.
Criado para servir de veículo a projetos político-eleitorais, o Independente não teve fôlego para manter o status conquistado de maneira inesperada. Campeão meio sem querer, menos por suas virtudes do que pela má fase dos grandes da capital, lucrou com a curta participação na Copa do Brasil. Embolsou mais de R$ 400 mil ao receber o São Paulo no Mangueirão. Apesar disso, enfraqueceu o elenco e frustrou as expectativas no Parazão do ano passado, caindo para a segunda divisão.

O Cametá, que também virou campeão sem haver se preparado para isso, parece fadado a repetir o trajeto do Independente. Por falta de condições financeiras para custear a campanha, cedeu a vaga na Série D 2012 ao Remo em rumoroso e desgastante episódio.
O elenco campeão sofreu desmanche radical e foi assim, desfigurado, que o Cametá entrou no Parazão, sem poder defender seu título. A diretoria não investiu em novas contratações e acabou perdendo o técnico Cacaio, que, diante da falta de perspectivas, optou por assumir a Tuna.
Salvo exceções, como o Santa Cruz, de prosperidade não explicada até hoje, os demais convivem com uma realidade de aperreios diversos. A ajuda garantida pelo contrato com o governo do Estado é a única (e insuficiente) fonte de receita, o que acarreta atrasos salariais e deserção dos melhores jogadores.
Não por acaso, além de Independente e Cametá, vários outros times medianos quebraram e desceram ao fundo do poço, sem se reerguer. Castanhal, São Raimundo, Ananindeua, Bragantino, Abaeté, Vênus e Pedreira são os exemplos mais recentes. Quase todos têm como traço comum a pouca identificação com as torcidas locais, mandando suas partidas para públicos irrisórios.
E, em meio aos escombros decorrentes de tantas gestões desastrosas, o Águia de Marabá é uma honrosa exceção. Não chega a ser um modelo de gestão no futebol, mas seus dirigentes mantêm o clube de pé, imune aos solavancos que anualmente derrubam seus concorrentes mais próximos.
Como não ganhou até hoje nenhum título importante, o clube é frequentemente criticado até pelos marabaenses, mas se diferencia dos demais pela regularidade da trajetória. Se não chegou ao topo, também não desceu ao limbo, escapando à gangorra que marca a participação dos times interioranos.
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Árbitros no pelourinho
As arbitragens do Parazão têm sofrido ataques pontuais e raivosos por parte de dirigentes e torcedores. Não chega a ser unânime esse sentimento, mas as críticas explodem a cada nova falha anotada. O episódio mais marcante aconteceu no jogo entre Paissandu e Tuna, quando o árbitro Andrey da Silva e Silva demorou a confirmar pênalti contra os lusos.
Na sequência, deu o segundo cartão amarelo ao jogador faltoso, Hallyson, mas não o expulsou de campo. Rapidamente, o técnico providenciou a substituição e a expulsão foi esquecida, beneficiando a Tuna. A punição veio na forma de suspensão (para reciclagem) ao quarteto de arbitragem, mas não acalmou os críticos.
Logo depois, dirigentes e jogadores do Remo condenaram a atuação de Nadilson Souza dos Santos no empate com o São Francisco, no Mangueirão. Apesar de beneficiado por um erro da arbitragem – houve impedimento no primeiro gol remista –, o clube não mudou o discurso.
Além das ofensas proferidas, o vice-presidente Zeca Pirão ameaçou exigir árbitro de fora sempre que o Remo for o mandante. Não se sabe se a promessa será cumprida, mas demonstra bem o grau de insatisfação com os mediadores locais.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A arbitragem foi renovada, apresenta um grupo de pelo menos dez bons apitadores, mas não é imune a falhas. Às vezes, até por falta de um critério bem definido, algumas interpretações suscitam queixas. Ocorre que a arbitragem nacional não se mostra tão superior ao nível da regional. Aos clubes deveria interessar a consolidação do quadro local de árbitros. Não só por razões econômicas.
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Futebol e carnaval
Jogos do Campeonato Carioca movimentaram o sábado de Carnaval na capital mundial do samba e dos blocos de rua. Até um clássico – Fluminense x Vasco – foi realizado sem que acontecesse qualquer tragédia por isso. Estranhamente, no Pará, a convivência entre futebol e carnaval se tornou impraticável. Uma pena.
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Confrontos curiosos
Sempre atento, o amigo Mizael Araújo aponta uma coincidência curiosa nas semifinais do turno. Haverá um Re-Pa (Remo x Paragominas) e um Papão x Leão (Paissandu x São Francisco).
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Ramos no Bola na Torre
O programa deste domingo começa mais cedo, às 23h, logo depois do Pânico na Band, e terá como convidado o meia Eduardo Ramos, do Paissandu. Guerreiro apresenta, com participações de Valmir Rodrigues e deste escriba baionense.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 10)