

Por Gerson Nogueira
O S. Francisco desperdiçou excelentes chances nos minutos finais e saiu lamentando o empate no Mangueirão, ontem. De fato, se há um lado que teve motivos para lastimar a perda de pontos foi o atrevido Leão santareno, que levou um gol quando era melhor, empatou, permitiu o segundo gol e acabou obtendo o empate final.
Não se amofinou e quase venceu o jogo. Mais que isso: foi superior durante a maior parte do tempo, explorando muito bem as deficiências do Remo. Além da boa atuação do S. Francisco, o Remo fez seu pior jogo no campeonato, pior até do que o da estreia contra o Santa Cruz.
O S. Francisco fechou bem os lados, atrapalhando os poucos avanços do Remo pelos corredores, e fez os seus laterais subirem sempre, pressionando o trio defensivo adversário e aproveitando a ausência de marcação no lado direito remista. O técnico Osvaldo Monte Alegre foi preciso no cerco ao volante Gerônimo, que deveria ser o distribuidor de jogadas na meia-cancha, dando suporte ao meia Edilsinho.
Outra virtude do time santareno: a velocidade na saída para o ataque. Mesmo quando a bola era conduzida pelos zagueiros, o passe chegava ao armador Caçula e deste era endereçada aos atacantes. Desde os primeiros movimentos, essa diferença gritante de ritmo ficou evidente em campo.
Flávio Araújo, técnico do Remo, pode até ter percebido a situação, mas não corrigiu de imediato. As ausências de Berg pela esquerda e Tiago Galhardo na armação criavam um buraco no setor de criação em prejuízo direto dos atacantes Val Barreto e Fábio Paulista.

O gol de abertura, marcado pelo estreante Guerra aos 32 minutos, deu a falsa impressão de que o Remo – como em outros jogos – iria levar a melhor pelo esforço coletivo. Três minutos depois, porém, o São Francisco se lançou novamente ao ataque e conseguiu empatar, com Boquinha.
Ficava claro que, diferentemente de outros adversários, o S. Francisco não cairia na armadilha de atacar, deixando espaços na marcação. Quando ia ao ataque, havia sempre um bloqueio para impedir contragolpes.
Para tentar mudar o panorama do jogo, Araújo tirou Nata e Edilsinho e lançou Jonathan e Ramon. A troca de volantes foi positiva, mas a armação piorou. Se já havia cadência demais, com a mudança a ligação deixou de existir. Longe da melhor forma física, Ramon perdia tempo até para dominar a bola. Rápido, o S. Francisco retomava e pressionava.
A transição só se estabelecia quando outros jogadores do meio ou da zaga se arriscavam no ataque. Foi assim que o zagueiro Zé Antonio apareceu de surpresa e lançou Paulista entre os beques do São Francisco. O atacante recebeu o passe e marcou o segundo gol, aos 12 minutos.

A vantagem durou pouco. O S. Francisco não esmoreceu e continuou no mesmo ritmo, explorando a queda de rendimento físico da maioria dos jogadores do Remo. Em cobrança de falta, aos 20, Levy igualou o placar. A bola desviou na barreira, mas o goleiro Fabiano colaborou, pulando atrasado.
Nervosa com a determinação do visitante, a zaga se atrapalhava em lances bobos e quase permitiu o terceiro gol em lance disputado entre Zé Antonio e Ricardinho na pequena área. Minutos depois, Fabiano saiu bem para impedir gol do próprio Ricardinho, que invadiu com liberdade depois de um presente da zaga.
Até o final, o São Francisco foi mais presente, acreditando até o fim na vitória. Merecia sorte melhor. O Remo, cansado, parecia perdido. Errava passes no meio, mandava a bola para fora e se expunha a todo instante. Diante do sufoco final, o empate acabou sendo excelente negócio para os azulinos de Belém.

Problemas cada vez mais visíveis
Como já dito outras vezes, Flávio Araújo tem problemas localizados para resolver. Não dispõe de laterais confiáveis e, por isso, adotou o 3-5-2. Possivelmente, terá que continuar assim, o que deixa o meio-campo sempre incompleto porque seus alas também não funcionam. Além do mais, sacrifica os zagueiros, que se expõem quando o adversário ataca pelos lados.
Na armação, só Galhardo se mostrou efetivo. Sem ele, os bons atacantes do time passam a depender de lances esporádicos. Até agora, a marcação forte no meio compensou os defeitos de criação. Difícil crer que, com seus pontos vulneráveis cada vez mais visíveis, consiga atravessar o campeonato sem sustos.

Árbitro prejudicou o jogo
A arbitragem de Nadilson Souza dos Santos foi muito criticada pela torcida e pelos dirigentes remistas. Injustamente. O árbitro foi ruim para os dois lados, deixando de aplicar cartões em jogadas violentas (carrinhos criminosos) e invertendo faltas. No lance do primeiro gol do Remo, de difícil interpretação, o auxiliar não assinalou o impedimento, gerando reclamações do S. Francisco. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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Copa BR: decisão divide rivais
Para surpresa geral, a CBF mudou a interpretação do regulamento e confirmou na Copa do Brasil os jogos de Remo e Paissandu para Belém. A decisão alegrou os remistas, mas não foi bem recebida pelos bicolores. Compreensível, afinal o Papão terá adversários teoricamente fracos nas primeiras fases do torneio. De certa maneira, seria mais negócio cumprir logo a punição de dois jogos na Copa e ficar livre para a Série B.
Já o Remo comemora a notícia em função da possibilidade de uma grande arrecadação – em torno de R$ 1,2 milhão – no jogo contra o Flamengo, dia 3 de abril, no Mangueirão. Só não pode dar mole e perder em casa, como já aconteceu contra o próprio Fla e o Santos de Neymar e Ganso.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 05)